A matrioska do Flu (por João Leonardo Medeiros)

MatryoshkaCreio que a maior parte dos leitores saiba que matrioska é um tradicional brinquedo russo, que consiste numa série de bonecas idênticas em tudo mais que não seu tamanho. As bonecas são, portanto, talhadas em madeira em tamanhos diversos, de uma forma tal que as menores encaixam-se perfeitamente dentro das maiores.

A analogia metafórica que pretendo aqui desenvolver a partir da imagem das matrioskas é autoexplicativa. É bom deixar claro desde o início, contudo, que arrisco uma teoria, que só o passar do tempo poderá comprovar. A teoria é: o Fluminense de 2010-2014 morreu e traz em seu interior outro Fluminense (ou outros Fluminenses) que conheceremos a partir da próxima temporada.

As mudanças começam no time. É nítido que a diretoria não renovará com alguns dos jogadores que formaram o esqueleto da equipe dos últimos anos. Carlinhos e Bruno, por exemplo, estão fora e ficarão na reserva ou como última opção até que seus contratos expirem. O mesmo destino deve ser dado a Valência, Jean, Sóbis, Wagner, e talvez aos próprios Diguinho, Fred e Cavalieri.

Os indícios são muitos de uma troca de jogadores. Primeiro, a diretoria avisa aos jogadores cujo contrato vence no fim do ano que só tratarão de renovação em 2015. Tirando os idiotas, todo mudo sabe que isso significa que o clube mandou os caras procurarem outro lugar para ganhar 500 pilas (ou mesmo 350). Quem não conseguir, pode até ficar, mas com vencimentos muito inferiores aos de hoje. Ou não? Segundo, o clube começa a contratar jogadores para posições-chave: um volante, dois zagueiros (um deles um erro crasso que não emplacará 2015), um lateral-direito e um goleiro. Terceiro, os jovens de Xerém que não entravam em campo com Cristóvão começam a ser regularmente aproveitados pelo treinador. Kenedy, Scarpa, Fernando, Rafinha, Marlon, Kléver e até o “proibidão” Biro-Biro já deram as caras no gramado nas últimas partidas.

Já que eu falei de Cristóvão, perceberam que ninguém fala mais de renovar com ele até o fim do mandato do Peter? A última declaração do Bittencourt foi: “não trocaremos de treinador antes do campeonato acabar”. E depois? Acho que Cristóvão também não emplaca 2015.

Mas há mudanças também à vista no clube. Aparentemente, a melhor delas será nas finanças. Está em curso, neste campo, uma silenciosa revolução, que pode nos legar um clube bem melhor. Ou uma tragédia. Não há meio termo aqui, pois há processos que apontam para uma imensa melhora e outros que apontam para o vazio da incerteza.

De um lado, a Unimed parece estar saindo fora. Considerando a atitude muitas vezes intempestiva do presidente da patrocinadora, pode ser uma excelente notícia a médio e longo prazo, mas o impacto inicial tende a ser negativo, considerando os valores do patrocínio. Agora, se entrar outro patrocinador de peso imediatamente, o efeito pode ser nulo ou positivo, mesmo a curto prazo. O problema é que não há garantia alguma disso e não se cavuca milhões numa economia em crise facilmente.

Também é muito incerta a relação entre o nosso orçamento e o dos outros clubes, o que é decisivo para definir nosso grau de competitividade. Atualmente, estamos razoavelmente bem situados, embora trabalhemos com orçamentos muito mais modestos que Flamengo, Corinthians, São Paulo, Cruzeiro e outros. As perspectivas aqui são mais desanimadoras porque a grande mecenas do futebol brasileiro, a dona do futebol brasileiro, já avisou que quer enriquecer Flamengo e Corinthians à custa dos outros todos. A questão é se a reação dos “outros” (todos menos dois) vai surtir efeito.

Por outro lado, a asfixia financeira provocada pela desatinada “gestão” Horcades vai sendo superada. A entrada do Refis raspou o cofrinho este ano, mas ano que vem as parcelas a pagar são bem menores. Se liberarmos o dinheiro das penhoras, podemos montar um ótimo elenco, contratando dois ou três nomes de destaque: Nem, Alan, Michael, Mariano, Thiago Silva (já tem 30, pode querer voltar), Marcelo são nomes que podem ser levados a sério numa conjuntura favorável.

Outro importante processo em curso é o da obtenção das certidões negativas de dívidas junto ao governo federal. Digo isso porque diversos dirigentes do Fluminense já falaram publicamente que pretendem ingressar com projetos de financiamento e/ou patrocínio para custear desde equipes dos chamados esportes olímpicos até a própria formação de atletas em Xerém.

Por falar em Xerém e em centros de treinamento em geral, não é possível que nada ande numa conjuntura em que o clube tenha mais recursos. Se, realmente, a asfixia financeira ceder, resultados importantes em termos da estrutura geral do clube serão obtidos, pois será possível concluir as obras já projetadas para Xerém (por exemplo, trazer a acomodação dos atletas para perto dos campos) e tocar o projeto do CT. Projeto este que depende de ingerências junto ao governo do Estado, que certamente não serão decididas em ano de eleição (até por falta de tempo).

Enfim, os Fluminenses que se escondem dentro do invólucro atual são vários e muitos deles promissores. A questão é que nossa história recente desabona qualquer otimismo. Podemos formar um ótimo time e, ainda por cima, mais barato, ou formar uma equipe de baixo investimento e performance mais baixa ainda. Podemos ter um CT ou uma eterna promessa. Podemos ter equipes de “esportes olímpicos” fortes reforçando a imagem do clube ou atletas cobrando bolsas minguadas na TV. No ano que vem, a matrioska de cima vai ser finalmente retirada. Alea jacta est.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Foto: www.goldencockerel.com

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1 Comments

  1. TORÇO PARA A UNIMED PERMANECER. ACHO Q AINDA NÃO É O MOMENTO DELA SAIR. ST

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