Engraçado ver como o tempo passa e as referências mudam, às vezes retornam, noutras cessam de vez.
Nos anos 80, havia muita reclamação no Rio com os jogos às 9 da noite. Motivo: terminava às 11, não tinha metrô, o trem parava, os ônibus eram poucos, exceto para a Zona Sul da cidade – problema que se arrasta até hoje, exceto para os que vivem no país compreendido entre o Leblon e o Leme.
Convém lembrar: para se ver uma partida era preciso estar no estádio.
O máximo de concessão regular era o videotape na TVE à meia noite de domingo, com Januário de Oliveira e José Cunha na narração e os comentários elegantes de Achilles Chirol. Uma vez ou outra na TV, jogos decisivos. Para um garoto de poucas posses, era ver de manhã o Conversa de Arquibancada com Hamilton Bastos e as lideranças das… torcidas organizadas comentando a situação dos clubes – depois, 434 e Maracanã às cinco da tarde, ora torcendo pelo Flu, ora secando o Evil Empire. Natural dizer que os tempos mudaram, natural lembrar da máxima de Ivan Lessa: “A cada quinze anos, o brasileiro se esquece do que aconteceu nos últimos quinze anos”. Com aspas.
Depois veio a televisão com sua força avassaladora. O Rio foi ficando cada vez mais quente e inventou-se a “praça paulista”, com jogos às 16 horas em vez das 17. Nos anos 60, o Maracanã tinha espetáculos às 15 horas. Claro, com 90% de espigões em volta a menos, também menos poluição e poluentes, sensação térmica menos desagradável. Chega novembro e as pessoas ficam tontas no estádio.
Durante certo tempo, jogos às 20.30. Excelente. Noite, mas nem tão tarde. Acabou.
Voltaram as partidas de 21 horas, geralmente às quintas-feiras e no sábado, para chinês ver. Mais recentemente, uma invenção daquelas: 19.30. E, já que tudo o que é ruim pode piorar, que tal 18 horas no meio de semana, pleno rush da cidade, vias 100% engarrafadas, as portas dos vagões do metrô cheias de caras amassadas, cotoveladas na Supervia?
Aí está o Fluminense logo mais, em busca da reafirmação e reconquista do terreno perdido, enfrentando o Goiás pela Sul-Americana. Depois do bom jogo contra o Sport, esvaziado nas arquibancadas por causa das besteiras já registradas neste PANORAMA, era o momento de uma presença maciça de tricolores nas arquibancadas. Não vai dar. Ao contrário do que pensam os Tonhos da Lua, os torcedores trabalham, estudam, tem compromissos de tal modo que comparecer a essa estreia tricolor será um sacrifício para poucos.
Fluminense x Sport – sem os problemas já conhecidos – mais Fluminense x Goiás poderiam dar tranquilamente entre 55 e 60 mil pessoas juntos. O primeiro deu 11 mil e poucos pagantes, 13.919 presentes, por motivos já conhecidos – pedradas péssimas (a pressão, não) e a patética ameaça de greve. O segundo vai sofrer para chegar a 7 mil, dados os motivos óbvios. Valendo a estimativa chutada, uns 20 mil no total. Outros 35 ou 40 mil ingressos, lixo simplesmente ou 350 mil reais decolando Via Láctea afora. Viva o profissionalismo que a TV impõe ao futebol brasileiro.
Pequena recaída do estatístico de plantão. Fazendo 13.919 menos 11.631 (o número preciso do domingo passado), são 2.288 gratuidades, equivalentes a cerca de 20% do número de pagantes e 16% do total presente. A UDN dizia que isso era coisa dos “vagabundos” que “entravam de graça”. Dado que não entram mais, parece que a “vagabundagem” já teve uma linha sucessória consistente. Fora dos setores Norte e Sul, criança paga meia. Tem os idosos, tudo bem. Mas num jogo de risco como era Flu x Sport, velhinhos e bebês demais, não?
Sejamos minimamente razoáveis: jogo às 18 horas no meio de semana é de propósito para que os torcedores não compareçam. Alguém ganha com isso, exceto os times de futebol que aceitem a condição de profissionais. A TV, óbvio. Estarão presentes os admiráveis maníacos e quem fez de tudo para sair mais cedo do trabalho. Só no futebol brasileiro é mais interessante esvaziar o estádio do que enchê-lo.
O Maracanã está cheio de stewarts.
Nenhum deles é o Rod, nem mesmo o velho Rods aqui da casa.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: google
Rods comenta:
Vc não poderia estar mais certo, Paulo! Esse horário é tão bizarro quanto eu de mullets, cabelos alorados e cantando “Sailing”
ST!
Bom dia Andel. Este horário é realmente ruim para nós torcedores do Fluzao. Mas, pensando pelo outro lado, é um horário bom para os outros países que estarão vendo o jogo. Como a intenção do Flu é internacionalizar a marca, acho que é um horário bom para os moradores dos outros países da América do Sul. E o jogo ainda vai passar para o Brasil inteiro, o que ajuda a angariar novos torcedores para o Fluzão em outros estados. É só uma opinião. Não sou dono da verdade. Abs.
Ainda assim é difícil aceitarmos. Para os demais países da América o jogo será a tarde. Além disso, acredito eu, que dificilmente algum estrangeiro se interessa no futebol brasileiro. Não temos grandes jogos e nem jogadores!
Muito boa, Andel, o que será o Bom Senso pensa sobre isso? Não me lembro desse sindicato ter se posicionado a esse respeito…