A hora da Bia (por Claudia Barros)

Trabalho, trabalho e trabalho. O Brasil despertou, nessa semana, para um novo nome do esporte: Bia Haddad.

Foi o nome da vez.

Semifinalista do torneio feminino de tênis de Roland Garros, Bia alcançou o feito que até então pertencia à magistral Maria Esther Bueno.

E entre uma conquista e outra, ouvi a tenista falando algo como: não sou fenômeno, sou resultado de muito trabalho. E mais, sou resultado de trabalho coletivo e individual.

Alguns profissionais são diferenciados. Percebe-se que se destacam na multidão, parecem especiais, por vezes.

Assim são os artistas que transformam os espaços e os palcos em simulacros de si mesmos. Entram num transe tão fenomenal que emocionam plateias inteiras.

Assim também são os esportistas de alta performance.

Donos de um zelo impecável pela profissão, trabalham à exaustão em busca da perfeição, com foco invejável, respeito ao corpo e muito planejamento.

Bia Haddad disse isso. Ela é fruto do trabalho e por trabalho entenda um conjunto de fatores entre os quais não cabem, a meu ver, maus hábitos.

E não me refiro ao clássico, maravilhoso, visto e revisto várias vezes por mim, Maus Hábitos, o filme do genial Pedro Almodóvar.
Refiro-me a coisas como privação de sono, descuido com o que o corpo consome, distanciamento do significado da própria imagem, exacerbações várias, esbanjamento e por aí vai.

Sem qualquer conversa tolhedora ou que disso se aproxime, as palavras, associadas aos feitos de Bia Haddad, não me deixa dúvida de que o sucesso de um atleta reside, também, na adoção de bons hábitos.

Planejamento, dedicação, treinos, cuidados com o corpo, cuidado com a imagem, sacrifícios, foco, persistência, zelo pela profissão, respeito à torcida e muito trabalho.

O atleta de futebol, no imaginário nacional, já nasce pronto, já demonstra talento desde cedo. Ledo engano, sabemos todos.

O futebol, assim como qualquer outro esporte, não prescinde daquilo que faz de muitos esportistas, super pessoas, superatletas diferenciados.

Mesmo para quem já nasceu sabendo e desfila genialidade em campo, alla Garrincha, Pelé e Tostão, trabalho e busca pela perfeição deveriam ser a tônica.

Minha reflexão tem a intenção de saudar Bia Haddad, mas também tem a intenção de dizer que um atleta completo tem talento, que pode ser nato; mas é forjado no trabalho, na persistência, na repetição exaustiva, da dedicação, no respeito ao que faz e a quem assiste e torce e, talvez essa seja exigir demais, mas para mim não é, também na consciência social de que representa brasileiros que não tiveram a oportunidade de emergir a ponto de simbolizar o país.

O atleta profissional é uma bússola para muitas pessoas. Dele se espera bons hábitos.

Parabéns, Bia Haddad. Você fez a nossa semana mais leve.

ENCOMENDE SEU EXEMPLAR.