A grande lição de Tobias (por Paulo-Roberto Andel)

NUNCA FOMOS TÃO TRICOLORES – DOWNLOAD GRATUITO.

Futebol se vive e se aprende não apenas com sucessos. Às vezes, sequer com o próprio time ou ídolo, mas os de terceiros.

Caso de Tobias, falecido ontem. Um personagem intimamente ligado ao Fluminense por motivos históricos: era o goleiro do Corinthians na grande, inesquecível e polêmica semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976. Um jogo que sequer deveria ter sido disputado no diá, tamanha a tempestade que encharcou o Maracanã, mas que acabou acontecendo. E o Fluminense, que tinha simplesmente o melhor time do planeta Terra, acabou eliminado nos pênaltis pela garra corintiana.

Tobias pegou simplesmente os pênaltis cobrados por Rodrigues Neto e Carlos Alberto Torres. Só. O tamanho desse jogo e tudo que o cerca – entre lendas e realidades – é algo tão grande que muitos pensam que o Corinthians foi campeão brasileiro naquele 1976, o que acabou não acontecendo. Título mesmo, somente meses depois, quando o Timão venceu o timaço da Ponte Preta e encerrou 23 anos do jejum de títulos. Merecidamente, Tobias foi imortalizado.

Até hoje penso no quanto meu pai sofreu naqueles dias. Ainda jovem, com 35 anos, prestes a falir, com um filho pequeno, ele ainda viu ruir sua única alegria com o futebol. Eu não fui ao jogo mas me lembro de toda a movimentação daqueles dias. Desesperado com a falência, ele quebrou a loja toda na véspera de Natal e não foi pra casa. Ficamos eu e minha mãe. Ela chorava e eu não sabia o que fazer. Ele veio no dia 25, mas não é exagero dizer que todo aquele momento nos marcou negativamente para sempre. Contudo, a vida seguiu e ainda tivemos muito que fazer – e chorar – pelos 30 anos seguintes.

Tobias morreu ontem aos 75 anos de idade. Será enterrado neste domingo. Imediatamente à notícia da morte, a Fiel parou estatelada – e nem poderia ser diferente. Tobias não foi campeão mundial, nem da Libertadores e sequer brasileiro, mas nem precisava: ao ser decisivo para eliminar o maior time do mundo em 1976, bem como o goleiro titular do imortal título paulista de 1977, ele já estava definitivamente consagrado.

Para os tricolores, Tobias deixa uma grande lição. Ele sempre soube o que era o tamanho da Máquina Tricolor, coisa que muitos tricolores passaram a desprezar por ignorância pura. Ninguém vê os botafoguenses desprezando o time de 1989, menos ainda as feras dos anos 1960. Nenhum flamenguista é louco de subestimar os anos 1980. Afinal, por que parte dos tricolores passou a menosprezar tudo que não tem a ver com a Libertadores 2023 e a Recopa 2024?

Temos histórias demais. Fomos gigantes até nas derrotas. O já saudoso Tobias provou isso há quase cinquenta anos. É justo celebrar os grandes títulos recentes, mas isso não pode significar o desprezo a mais de um século de glórias, só porque pode ser interessante politicamente para a atual gestão tricolor, que carrega há anos a incrível vergonha de ignorar a estátua pronta de Waldo, encomendada pelo grande jornalista e escritor Valterson Botelho. Ou o silêncio hipócrita diante do quadro de Denilson, símbolo do clube e tratando de doença grave.

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OBS: ao contrário do que foi divulgado por diversos veículos de comunicação, segmentados ou não, Tobias jamais foi goleiro do Fluminense, infelizmente.