O que acontece com a equipe do Fluminense? Há explicação no campo da lógica para a diferença que a torcida percebe no campo de jogo? Estamos só jogando mal? Seria soberba? Acomodação? Azar? Pois bem, muitas perguntas que merecem uma análise mais detalhada em busca não de respostas (o futebol está longe das ciências exatas), mas de caminhos para entendimentos mais amplos e menos açodados.
Analisando a matemática, ciência à qual não somos afiliados, encontraremos números que afastam quaisquer tensões. No Carioquinha, o Flu coleciona cinco vitórias, quatro empates e apenas uma derrota; É líder no seu grupo, segundo na classificação geral com 70,4% de aproveitamento, marcou dezoito gols – três a menos que o ataque mais positivo – e sofreu oito – dois a mais que a defesa menos vazada.
Na Libertadores, o Tricolor é líder do seu grupo, único clube que pode alcançar a classificação de forma antecipada e depende apenas de suas forças para passar à próxima fase, bastando-lhe uma vitória em dois jogos. Na temporada, o Fluminense perdeu apenas duas vezes em treze partidas, conquistando 26 pontos em 39 possíveis, um aproveitamento de aproximadamente 67%. Um observador isento que tivesse acesso somente às tabelas de classificação, jamais poderia apontar o clube das Laranjeiras como favorito à crise ou à mercê das vaias de seus torcedores.
Entretanto, a realidade não é feita de números. A equação não entra em campo! E, conforme nossa vocação de contradizer os algarismos, estamos mal. Apresentamos um futebol feio, letárgico, desmotivado. Buscamos um tento que nos garanta a vitória para “caramujar”, encolhendo-se todo na defesa. Erramos passes curtos. Abdicamos do jogo pelo resultado. Seguimos um roteiro de criar, finalizar mal, tentar até marcar; daí aguardamos o apito final. E sofremos. E, por vezes, entregamos pontos que seriam evidentemente nossos se quiséssemos. Vaias, reclamações, fora Edinho, fora Abel, fora Todo Mundo. Infelizmente, é isso que ganha as manchetes.
Interessante é perceber que, na descrição de nosso “estilo” de jogo, não há diferença para 2012. Quando se vê a chiadeira vinda das arquibancadas (ou dos sofás, um lugar mais confortável para resmungar) parece que jogávamos o fino no ano anterior. Desfilávamos o bom futebol, envolvíamos adversários, atuávamos com ímpeto ofensivo e goleávamos impiedosamente os oponentes. Mas nada disso é verdade. Aproveitando o que apontou brilhantemente o amigo Rods em sua coluna de quarta, a diferença é que éramos mais eficazes.
A paixão da torcida – sentimento às vezes esquizofrênico que faz de alguns serem tricolores somente na crítica –, contudo, não perdoa. “A zaga é fraca e precisava de reforços”. Concordo com a crítica, mas faço uma ponderação: a defesa é nosso ponto fraco desde 2010. Ainda assim, foi uma das menos vazadas – quando não a menos – nos três últimos campeonatos nacionais. Números, realidade e Fluminense: vai entender.
O que me preocupa verdadeiramente, é a postura pouco incomodada do Abelão. Acho que falta exigir mais, treinar em dois períodos, encontrar soluções táticas diferentes daquelas que têm sido utilizadas. Confiar no grupo e reconhecer sua qualidade é uma coisa, não buscar inovações e variações é outra. É falso afirmar que temos um grupo acomodado e sem vontade. Não há mercenários vestindo a camisa do Fluminense. Se existe acomodação, é uma inércia de método. Faltam ao time mais opções treinadas para modificar o jogo, negligencia-se uma estratégia mais incisiva que torne maior a pressão contra o adversário e, ao fim e ao cabo, não podemos nos contentar com um gol marcado. É preciso, aí sim, querer mais.
Mudando de assunto, vale um parágrafo para a política do clube. Apesar de reconhecer que administração não enlouquece torcida, é louvável o que vem fazendo Peter Siemsen à frente do clube. Obviamente não é para comemorar com fogos de artifício o fato de sermos deficitários em três milhões de reais, mas é de se admirar o esforço pelo cumprimento das metas, pela austeridade e comprometimento; acima de tudo, reconhecer os sucessos na redução de nossas dívidas sem diminuir investimentos nas diversas áreas do clube. Aplausos para a gestão atual e que tenhamos em breve a organização e disciplina que sempre fizeram de nós o espelho para toda uma nação.
Walace Cestari
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Corrigindo, o time do Peru chama-se Real Garcilaso.
Cestari, somos o primeiro do grupo, com 7 pontos, um a mais que Grêmio e Huachipato. Acredito que dê, se não em primeiro, como melhor segundo geral, o que nos levará provavelmente a jogar contra Olympia do Paraguai ou Real Garciso, do Peru. Mas tudo isso é mero jogo de probabilidades. STT, Waldir Barbosa Jr.
Na verdade estamos empatados em primeiro lugar pelo número de pontos. O objetivo é mostrar que a leitura fria dos números não corresponde ao sentimento geral da torcida.
Se, por um lado, os números indicam um mar de rosas para o Tricolor – algo que cria um cenário distante da realidade; por outro, o catastrofismo de determinados setores não é a tinta certa para pintar o quadro atual do Flu.
A verdade está no meio, já nos ensinava um velho adágio popular.
Amplexos
Neste momento, somos o 3º em nosso grupo e não os líderes. Quanto ao texto, muito bom.