A crônica do jogo (por Paulo-Roberto Andel)

Mudamos

Não há como negar: a má atuação diante do Grêmio na quarta-feira passada, com derrota pelo escore mínimo, não foi bem digerida nem pelo time e nem pela torcida do Fluminense. Naquele dia, parecemos apequenados, amuados, tímidos, muito longe do que se espera de um time com a nossa camisa em campo. Por conta disso, mostrar recuperação contra o Atlético Mineiro era imperativo. Sim, falo de recuperação e não de placar. Claro que a vitória seria muito importante, mas acabou não vindo. Agora, também não há como negar: o Fluminense do Engenhão ontem foi outro time. Mostrou que continua firme na briga pelo título, fez seu papel de grande participante do campeonato e só não venceu porque… bom, falamos depois disso.

Alguns amigos meus sempre carregam consigo a superstição nas partidas. Uma coisa dá azar, a outra também, outra dá sorte. Houve quem sentisse arrepios ao ver a chamada camisa 4 novamente em campo, mas não aconteceu nenhum problema de azar ou mau presságio. Pelo contrário: logo de saída o Fluminense disse a que veio a campo, quando Fred teve excelente chance para marcar, depois do bom cruzamento de Carlinhos. Já no fim da primeira etapa, quem brilhou foi o goleiro atleticano Victor, tido por muitos como o melhor em campo, ao defender uma cabeçada espetacular de Wellington Nem. Nos primeiros e últimos minutos, o Fluminense foi Fluminense: brigador, guerreiro, agressivo, obstinado. O mesmo aconteceu durante todo o percurso dos 45 minutos, ainda que o Atlético tenha ganho mais espaço no meio de campo a partir dos 25 e também criasse chances. Um jogo bom, brigado, suado, que não poderia ser diferente: somos campeões do Rio e viemos de grandes momentos, o Atlético só tinha perdido apenas duas partidas neste ano.

Do começo ao fim, dois jogadores foram admiráveis: Gum e Digão. Combativos, certeiros, explosivos, vigorosos. Gum é o guerreiro de sempre, de modo que não se entendia a razão de ter ficado tanto tempo no banco de reservas, mesmo depois de recuperado da contusão. Digão, que começou como volante, foi incansável: se o colocassem em campo em substituição ao poste esquerdo de uma das traves, mostraria garra do mesmo jeito. Ainda salvou pelo menos um gol certo. Ambos foram jogadores muito importantes em 2009 e agora, anos depois, mostram que ainda têm muito a dar pela camisa tricolor.

Deco voltou e é o craque de sempre. Desta vez, muito marcado, Cuca não é bobo. Wellington Nem passou pelos mesmos percalços, Fred idem. Isso só valoriza as várias chances que tivemos de marcar, pois foram verdadeiros dribles na forte marcação alvinegra. Num jogo de muita disputa entre times no topo da tabela, o empate foi justo.

De volta a campo, o Fluminense ligou novamente suas turbinas e partiu com força em busca da vitória. Mais chances claras, sendo a mais cristalina delas quando Victor salvou cara a cara com Fred. Danilinho também perdeu um gol feito contra nós. O Fluminense voltou à carga no ataque e isso gerou espaço para os contragolpes atleticanos. Sejamos justos: Abel berrou o tempo inteiro à beira do campo para impedir a desatenção neste tipo de jogada. E mais: o treinador desta vez merece os aplausos, pois escalou bem, substituiu bem e, principalmente, não esperou levar um gol para mudar o que parecia necessário.

Quero falar de Thiago Neves. Ainda não é sombra do jogador que já foi um dia. Nas últimas partidas, ainda deu alguns pequenos lampejos. Numa análise sincera, há um ano não faz um grande jogo no Rio, tendo em vista sua passagem pelo time rival. Ontem, mais uma vez, desandou a falar besteiras aos jornalistas no intervalo do jogo, como se a ele coubesse ser o proprietário do direito de quem é ou não tricolor, quem vai ao jogo ou não. “Se for para me vaiar, é melhor que nem venham”. Neste momento, penso em Rubens Galaxe, em Edinho, em Marcão e tantos outros jogadores que, além de vestirem a camisa do Fluminense com notável fidalguia, jamais foram vaiados nem nos piores momentos. Explica-se: sempre deram tudo de si. Neves precisa urgentemente rever seus conceitos. O primeiro deles, em relação ao torcedor que o vaia porque protesta contra sua fase tecnicamente deplorável em campo. Segundo, um pouco mais de humildade: num time onde reinam os talentos de Deco e Fred, mais a fúria juvenil de Wellington Nem, Neves é um bom coadjuvante. Sabe cobrar faltas, às vezes acerta bons chutes de longe, mas muitas vezes é endeusado como se fosse um Delei, um Romerito, um Didi e ele está muito longe disso. O fato de acreditar em todas as loas que a imprensa lhe ofereceu, principalmente ano passado, precisam ser postas de lado em prol de uma órbita pessoal mais adequada. Foi vaiado por muitos com justiça. Basta jogar bem e o Engenhão será só aplausos. Neves, reflita: o Fluminense e sua torcida são muito maiores do que você.  Pense em Pinheiro, Jair Marinho, Tim. Pense em Assis. Todos queremos te ver com um futebol que não seja esse, moribundo.

Relembro o meio do segundo tempo. Abel mexeu bem e o Fluminense continuou em busca do gol. A cada falta, o afetadíssimo time do Atlético fazia intensa pressão contra a arbitragem e foi surpreendente que Junior César tivesse levado tanto tempo até ser expulso – merecia o cartão vermelho desde o começo do segundo tempo, com sucessivas faltas. Mais tarde, Wallace sentiu, Jean foi deslocado para a lateral, Wagner compôs o meio. E Fred poderia ter marcado de cabeça, mas a bola passou rente à trave esquerda do excelente Victor.

No fim, dois golpes de misericórdia: o gol apoteótico e sua incrível anulação. Fred recebeu livre em condição legal, driblou o goleiro, tocou para o fundo das redes e foi à linha de fundo celebrar o triunfo – só então o auxiliar Vicente Romano levantou a bandeira, com o juiz já apontando para o meio do campo. Depois de enorme confusão – causada exclusivamente pela lentidão do auxiliar em assinalar o que viu (erradamente) – o empate acabou consagrado. Muitos já vociferaram por conta deste lance no dia de hoje, assim como os anti-tricolores gritaram pelo suposto pênalti cometido por Wallace, de modo que não vejo como posso ser útil em analisar profundamente esta jogada. O olho humano é falível, sem sombra de dúvida; meu problema é entender como certos olhares sempre falham quando o que está em jogo é uma vitória do Fluminense.

Se convém o consolo, de quarta-feira para cá mudamos. E para melhor. Ontem, mostramos postura de quem brigará pelo troféu. Estamos a seis pontos, poderiam ser apenas três. Há 75 em jogo, tudo cedo demais para que os atleticanos comemorassem ontem nas arquibancadas o bicampeonato. Tudo está muito longe do fim. Quem espera sempre alcança.

Paulo-Roberto Andel

@pauloandel

Crédito da imagem: Marô Sussekind/ Panorama Tricolor

4 Comments

  1. tou com medo coxinha e bambis em sequencia sei nao se bobear vamos ta fora do g4 jaja..

    pra mim campeonato ta armado pro galo ser campeao…. mafia kallil bmg

  2. Caro Andel, mais uma bela análise de nosso Fluzão. Ontem, mesmo não vencendo, foi muito melhor assistir do que aquele ridículo Flu x Náutico. Infelizmente, este ano não tem sido poucos os jogos chatos de nosso Fluzão.
    Quanto aos “erros” de arbitragem… tá difícil continuar acreditando em equívocos, tamanhos os erros cometidos CONTRA o Fluminense e A FAVOR de Flamengo e Corinthians (os queridinhos da Dona Globo). Afinal, já deixei de acreditar em Papai Noel há mais de trinta anos!
    Continuo batendo na mesma tecla: que se faça uma ampla investigação policial da arbitragem no futebol brasileiro. Não se surpreendam se aparecerem coisas do arco da velha.
    ST, Luiz.

  3. Não é preciso assistir ao jogo, você o descreve, com aquela visão do critico torcedor. De fato, o seu Flu, aqui no RS, não foi sombra do time, que nós conhecemos. E o gol anulado, deixa-nos, quase com a certeza, de que falta qualidade, aos homens de preto. Grande abraço gaúcho.

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