A crônica de Flu 1 x 1 Corinthians (por Paulo-Roberto Andel)

O silêncio dos hipócritas

Quando Fred empatou o jogo ontem no Engenhão contra o Corinthians aos 37 minutos do segundo tempo, a primeira e imediata sensação foi de alívio. Afinal, durante boa parte do jogo, as ações de ataque tinham sido exclusivamente das Laranjeiras contra praticamente um único chute cinza-preto na primeira etapa – e que resultou no gol dos visitantes. O Atlético Mineiro já havia empatado com a Ponte Preta, era a grande chance de tomarmos a ponta do campeonato. Ela não veio, por razões diversas. Ao fim do jogo, prevaleceu o silêncio dos hipócritas, o silêncio constrangedor de quem alimenta asco contra as coisas e pessoas do Fluminense.

Os que deixam de ir aos estádios, por razões compreensíveis e outras não, perdem oportunidades muito boas de sociabilidade. Ontem, mais uma vez, testemunhei isso na entrada do estádio, onde não faltaram nossas lindas mulheres, amigos queridos e até dois rubro-negros debochados correndo vestidos com as camisas de uma torcida organizada da Gávea – claro, aproveitando-se dos tempos em que a Young Flu sofre um massacre midiático. Entre drinques e petiscos, nossa turma se preparou para o melhor a ser visto em campo. E quem não veio, além de perder o ambiente refinado, também não fez falta no coro: em boa parte do tempo gritamos como se o Engenhão tivesse 25 mil pessoas a plenos pulmões – número merecido na atual campanha.

Os sinais do tempo, a maturidade e alguns problemas de saúde me impedem regularmente de frequentar os setores mais altos do Engenhão, mas não há o que lamentar. Quem fica no setor Sul em uma de suas extremidades, no degrau mais alto, tem por instantes a deliciosa ilusão de que está presente nas falecidas cadeiras azuis do Maracanã. Delas, perto de poucos, como os admiráveis maníacos da Bravo 52 – eles não cessam nunca! – acompanhei um lindo espetáculo proporcionado no setor inferior ao lado: a verdadeira explosão em pó-de-arroz da massa Young, também gritando como nunca – na verdade, desfilando sua mágoa natural com estes dias de verdadeira perseguição nazifascista dos setores convencionais da imprensa. Falo de cadeira: é o mesmo comportamento daqueles que defendem absurdos como “tem que jogar uma bomba na favela e explodir tudo”, “pobre tem que morrer”, “é tudo bandido” e outras sentenças tresloucadas ditas com a boca, mas muito longe de qualquer raciocínio aprofundado – como o dos imbecis que buscam espaço de destaque em comentários criminosos sobre o trabalho dos outros. Lá, lembrei dos meus dias de garoto nas arquibancadas do Maracanã: certa vez, como eu era muito pequeno e nunca me deixariam tocar bumbo na torcida, chamei dois amigos para formar uma torcida organizada. O plano não deu certo, uma pena. Voltei ao passado e sorri. A Young gritou, a hipocrisia se calou. Ao certo longe, como um turista, um estrangeiro, admirei o espetáculo. Não posso deixar de dizer da fome que passei antes da partida: ao tentar comprar uma pizza e um mate, oito reais de custo, nota de dez e dois de troco, o vendedor simplesmente não o tinha. Retrato típico da “supremacia” alvinegra na administração do Engenhão.

Falo do primeiro tempo. O Fluminense foi melhor, muito melhor, ocupou ataque e mais uma atuação vergonhosa do trio de arbitragem impediu expulsões corinthianas, principalmente do exótico lateral Alessandro – sempre ressentido com o Fluminense pelas goleadas que sofreu defendendo a Gávea – e de Emerson, cuja ficha policial dispensa apresentações. E foi justamente Emerson, numa jogada inesperada e o azar da bola desviar em Gum, quem fez o gol de abertura. Na comemoração, ensaiou suas tradicionais pantominas ocas – mas o segundo tempo o colocaria também como um hipócrita mudo. Independente do amor ao tricolor, qualquer um que viu a partida sabe da injustiça que foi o cinza-preto ter a vantagem no placar: jogava encolhido, amuado, no tradicional bloqueio defensivo e, desta vez, nem finalizava a gol, para delírio dos que vociferam contra Abel para chamarem Tite de gênio. Eis mais uma hipocrisia a ser derrubada até o fim dos noventa minutos. Descemos para o vestiário com a desvantagem, mas também a esperança de reação. E falo também de Euzébio: é um jogador a quem já critiquei bastante, mas ontem teve uma atuação de garra suprema – vestiu o grená como nunca, com espírito de quem quer ser campeão.

O Fluminense de hoje é um time que não se abate com um mau resultado temporário. Voltou a campo para o segundo tempo e buscou suas ações ofensivas, mesmo num dia de pouco brilho de alguns jogadores – e não entro aqui no mérito individual porque o coletivo foi extremamente combativo; talvez uma única ressalva fosse dizer que Wellington Nem poderia ter sido mais efetivo se imprimisse mais velocidade aos passes, em vez de carregar a bola continuamente – contudo, até nisso houve utilidade, pois sofreu várias faltas – o problema é que a calamitosa arbitragem não as marcava. Para piorar, o Corinthians optou pela postura de time pequeno, parando o jogo e abusando da “cera” passivamente tolerada. Fred quase marcou de cabeça, com a bola triscando a trave esquerda. Chutes eram bloqueados no último toque. Os cinza-pretos acossavam Ricci a todo instante. O tempo passava e a agonia persistia.

Contudo, somos vocacionados para finais apoteóticos. Quando tudo parecia ingenuamente confirmar a vitória da hipocrisia de Emerson, mais uma vez o Fluminense mostrou porque é a águia do Atlântico Sul. Neves cruzou, os corinthianos queriam o impedimento na marra, Fred tocou para vencer Cássio e empatou o jogo. Não poderia haver final melhor: Emerson rindo primeiro, Fred rindo por último. Depois disso, a pressão total em busca da virada mesmo com o tempo escasso, mas infelizmente ela não veio.

O campeonato segue. Tropeços são normais. Continuamos brigando cabeça-com-cabeça. Em plena madrugada, o trem trouxe os maníacos de volta à Central do Brasil. Pensei em vinte ou trinta anos atrás quando meu pai me trazia na mesma estação, lembrei deste amor permanente e inquestionável que é o Fluminense. Um amor que faz dos hipócritas uma voz sem eco. A briga continua firme.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews.

@PanoramaTri

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Imagem: Marcelo Theobald – o Globo.

Contato: Vitor Franklin

9 Comments

  1. O Flu perdeu ontem dois pontos para um time pequeno, cheio de cabeças de bagre. Pontos para times pequenos são irrecuperáveis, ainda mais em casa. A nossa perseguição ao galo continua, ontem chegamos a tocar na penas do rabo, mas ele escapou. Vai chegar a nossa hora e creio que não passará deste final e semana. O Grêmio preocupa, está muito próximo.
    O Flu está muito bem, obrigado. OS cães ladram, a caravana passa.

  2. A triste realidade é que enquanto os gambás forem o time da CBF, todo jogo já começará com handicap. Assim eles fizeram a cera que quiseram e bateram como quiseram.

    Pra piorar tivemos:
    1. Sóbis horrível
    2. Bruno bizarro
    3. Nem ainda fora de forma
    4. Jean em sua pior partida pelo Flu
    5. Wágner medonho
    6. Gum azarado

    Enfim, não era pra ser. Mas a liderança no fim de semana.

  3. As reclamações do Fred com a arbitragem também tem prejudicado o Fluminense, após cumprir suspensão contra o Sport, ele já está pendurado de novo, é importante a presença dele no máximo de partidas possíveis.

    Sobre o Bruno: será que só eu que vejo ou todos os cruzamentos dele carimbam na defesa adversária?

  4. Com a arbitragem de sandro meira ricci, já estava previsto que o Flu seria mais uma vez prejudicado, desta vez um penalti claríssimo em cima do Carlinhos ignorado por ele, além de mais um impedimento mal marcado num lance envolvendo Rafael Sobis. Isso sem contar o número excessivo de cartões para o Flu e a toda hora que a bola se aproximava do gol corinthiano, o juiz marcava falta de ataque.

    De novo, coincidência.

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