O Maracanã faz muita falta. O Engenhão faz falta. O jogo é matematicamente esvaziado pela situação do campeonato.
Para mim, não importa: é um Fla-Flu. Tanto faz se já foi em Caio Martins, Ítalo del Cima ou São Januário, agora no simpático charme de Volta Redonda. E daí que já não valha nada nas contas da tabela? O carisma está acima de tudo. O charme.
Meu começo nessa história foi do inferno ao céu: os 0 x 4 de 1978 debaixo da chuva se transformaram nos maravilhosos 3 x 0 de 1979, com Paulo Goulart aniquilando Zico e Cristóvão dinamitando Cantarele. E Rubens Galaxe. E Pintinho. Saldanha os chamou de monstros, nunca mais esqueci.
Depois, anos 80 e fomos demolidores: Benedito de Assis imortal e maravilhoso duas vezes, contrariando as probabilidades do raio.
E 1995? Num dia do mês que vem eu escrevo um livro sobre isso (risos). O maior de todos, o dia monumental, definitivo. De vingança, eles fizeram corpo mole nos nossos rebaixamentos. De vingança, veio o século XXI, 2002, 2003 e 2005 numa pancada só.
Nelson Rodrigues de um lado, Mário Filho do outro, Romeu Pelliciari de um lado, Domingos da Guia do outro. Paulo Victor de um lado, Fillol do outro. A lindíssima Juliana de um lado, a mítica Mariana do outro. Nós temos Guilherme Paraense, eles têm Victor Belfort. As cores que se diferenciam e se respeitam, mesmo que os jornais finjam não ver.
Eu poderia falar aqui do maior Fla-Flu da história (1995) ou dos maiores (1912, 1941, 1969, 1983, 1984). Ou Edinho colocando água no chope da Taça Guanabara de 1978. Ou Zezé Gomes colocando o virtual campeão do mundo no chão em 1981. Mas o que me fala ao coração hoje vem dos tempos de faculdade: eu era um menino de vinte e poucos anos, tinha acabado as tarefas no estágio e havia um Fla-Flu pelo Torneio Rio-São Paulo de 1993. Jogo de meio de semana, alguém me disse no ambiente de trabalho que estava 2 x 0 Fla. Fiquei cabisbaixo, segui o rumo, precisava ir para a faculdade. Peguei o ônibus 434, saltei na antiga Derby Club, entrei pela lateral da amada UERJ. Passo pela banca de jornais, o jornaleiro grita como nunca, pergunto o placar: “Fluzão 3 x 2, viramos em dez minutos, menos de dez minutos!”. Subi para o sexto andar e assisti uma aula feliz. Ou fiquei conversando com amigos ou alguma garota espetacular no hall. A força do Fla-Flu em sete minutos.
Tenho mais no coração: o querido super-herói Ézio, máquina de atirar nas redes rubro-negras. Era um jogador de fibra, luta, vontade e vestia a camisa tricolor como se carregasse a própria família no peito. Educado, simpático, atencioso, Ézio representa muito sobre o paradigma tricolor de respeito e leveza. Ele estava em campo em 1995 no maior jogo da história e isso diz tudo.
Vou para a estrada. O Fluminense me chama. Há um Fla-Flu em Volta Redonda. A estrada, oh estrada interminável! A construção do jogo que nunca se encerra, da chama inapagável.
Estou em 1978: meu coração de menino enxerga Miranda, Edinho, Rubens Galaxe e Zezé. Wendell também. Zico fica do lado de lá. Está bom. Sempre foi bom assim.
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: o gênio (rubro-negro) Ziraldo
Infelizmente entramos desligados e quase levamos uma goleada histórica. Esses caras não sabem o que é um FlaxFlu. Até no palitinho, como dizia Nelson Rodrigues, temos que buscar a vitoria a todo custo. Sds Tricolores….
É sempre bom ler seus textos.
Que façamos o terno hoje em cima deles.
ST.