“Quando as vitórias se sucedem, cria-se – por mais que se tente manter os pés no chão – uma sensação de invencibilidade, de superioridade. A tunda veio em boa hora para o Flu. Mais à frente e a cousa desandaria. Saudações cruzmaltinas”.
Zeh Augusto Catalano
Horas depois da retumbante – e justa – derrota para o Grêmio, foram as palavras de meu amigo – e cronista desta casa – Catalano, um vascaíno confesso e admirável, que me causaram as melhores reflexões sobre o ocorrido.
Do amigo, veio uma lucidez que vi raramente em alguns dos nossos companheiros de arquibancada desde ontem.
Uma pena que alguns poucos tricolores, mergulhados em profunda ignorância histórica, tivessem feito do insucesso de ontem o caos já anunciado. Sabem tudo. Veem tudo. Todos os demais são ignorantes em futebol afora eles. Por que não avisaram dos problemas a Abel então? Ou torcem contra? Seriam os cavaleiros do “êxtase da derrota” (belo achado literário de Cacá Diegues)? É claro que não seria um jogo fácil: ano passado, mesmo com a brilhante campanha do tetracampeonato, não conseguimos vencer o Grêmio. Em 2011, poucos se lembram de que o confronto entre os dois times havia sido o melhor jogo do campeonato brasileiro naquele ano.
Perder é sempre ruim, ainda que a derrota suscite reflexões e até ensinamentos aos que não se alinham aos pensamentos mais primitivos. Entendo não ser o caso de varrer problemas do nosso time para baixo do tapete, nem de justificar o frenesi dos derrotistas – estes, sempre agindo mediante baixo oportunismo e simplesmente desaparecendo quando o sucesso nos coroa. Ou ainda comemorando como se nada tivessem dito de ruim.
Pois bem: antes do jogo no Engenhão, o Grêmio era tido como um bando depois de uma péssima partida contra o Huachipato. O Fluminense vinha seguindo seu caminho. A torcida tricolor, sempre admirável em sua maioria, ocupou o que lhe cabia do caríssimo Engenhão às dez da noite. E na primeira meia-hora da partida, fomos superiores, embora não incisivos. A bola cruzava a área, mas Dida não precisava trabalhar: nem sujou o uniforme de goleiro. Dava a impressão até que o Grêmio não via o empate fora como algo tão ruim, por conta da vitória preliminar do Caracas sobre o Huachipato. Mas então veio o gol na jogada irregular de Barcos, bola manjadíssima no escanteio no primeiro pau, Bruno disputado e Anderson completamente fora da jogada, os gaúchos saíram na frente. Foi um knock-down: dali em diante, não nos encontramos mais em campo. Antes disso, sentimos o equívoco de não se ter um armador legítimo: Wagner, alternando bons e maus momentos, ainda não é o jogador dos tempos de Cruzeiro. Então, quem passou a voltar mais foi Fred; mesmo num dia de rendimento abaixo do esperado, o artilheiro deu alguns bons passes não aproveitados geralmente por Wellington Nem. Bom, então se Fred recuava, quem seria o finalizador? Noutras vezes, quem armou o jogo foram Edinho e Carlinhos. Uma nuance importante: sendo o Grêmio um time com vários jogadores experientes, muitos além dos 30 anos de idade, parecia razoável pensar que um Fluminense bastante veloz em campo, amparado na juventude, poderia ser mais eficiente. Marcos Junio não estava no banco, era Samuel, ao lado de Deco e Neves. Em campo, Bruno foi mais Bruno do que nunca e exasperou nossa torcida. Jean, jogador de brilho, teve uma noite infeliz. Com tal soma de fatores, as coisas pareciam encaminhadas para o mau presságio que se confirmaria no segundo tempo.
É incrível imaginar Deco no banco. Mais ainda que, ao vir a campo, ele fique bem abaixo do esperado, principalmente depois da boa partida em Volta Redonda. Mas aconteceu. Barcos novamente em cima de Bruno, fomos implacavelmente batidos, veio o chute. Cavalieri praticamente defendeu um pênalti, mas a sobra foi de André Santos, impedido, tocando a bola de forma murrinha até que ganhasse o canto esquerdo. Era o fim do jogo na prática, o knock-out. Sim, os gols do Grêmio foram irregulares, mas isso não tira o mérito da vitória e nem apaga a pasmaceira tricolor. Do jeito que jogávamos, eles fariam outros gols. Foi o que aconteceu com Vargas pela direita, vencendo Cavalieri na diagonal e decretando o placar final bem antes do fim do jogo. E poderia ter sido até pior: Zé Roberto sobrava em campo. Contudo, não tenho interesse em fazer crucificações que me parecem até covardes a respeito do Fluminense – o que não me impede de criticar o farto arsenal de erros cometidos neste jogo. Fomos muito mal coletiva e individualmente falando, o que não é comum nem vai acontecer a toda hora. Ponto. Não é desejável, mas acontece. É muito cômodo escorraçar o time nas derrotas e ter a receita contra uma crise: difícil é manter a sobriedade e o equilíbrio diante do revés.
Erramos de ponta a ponta: escalação, distribuição em campo, atitude, parte técnica. Abel tem crédito, mas mereceu o desagradável coro na Oeste: escalou mal os titulares e o banco, mexeu ainda pior. Já havia feito isso duas ou três vezes desde que chegou. É humano e falível. Ou algum lunático tem certeza de que foi de propósito? Quando coloca Neves, Abel espera que ele faça as jogadas que deve desde 2008 e evite falar as besteiras de sempre – e não o contrário.
Porém, o mundo não acabou. Perder desse jeito ontem foi péssimo, mas escrevo muitas vezes que não se deve confundir um ponto da estrada com todo o seu trajeto. O Grêmio fez jus à vitória, é um grande adversário, convém respeitá-lo.
São onze da manhã e meu dia começou mal, como não podia deixar de ser. Todavia, já penso nas importantes vitórias a conquistar contra o Madureira em Moça Bonita e o Huachipato no Chile. Quem tem um dos grandes times do mundo dentro do coração não se prende a questiúnculas: olha para a frente, busca os acertos, trabalha. Assim como o Grêmio era um desastre semana passada e se tornou um furacão ontem, quem garante que o Fluminense da semana que vem não será bem melhor do que o que naufragou nos 3 x 0 de ontem? No futebol, fracasso e sucesso andam de mãos dadas a cada sete dias. O Fluminense que foi trucidado pelo Macaé ano passado acabou como um grande campeão carioca depois de sete anos. O Fluminense, caçoado por conta da derrota contra o Atlético Goianiense, acabou tetracampeão brasileiro com sobras em 2012.
As palavras escritas ficam, daí ser necessária a prudência para não se ter que rasgar – ou ridicularizar – o que um dia foi assinado. É o que tento fazer como escritor, o que nem sempre é (ou pode) ser assimilado.
Penso em Bangu e no Chile aceleradamente.
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Contato: Vitor Franklin
Fala Andel!!
Concordo Tanto Com Os Seus Textos, Que Fica Até Difícil Ter O Que Comentar.
Portanto Serei Breve E Objetivo;
Parabéns Por Mais Está Precisa E Excelente Crônica!!
Andel,
Texto, para mim pelo menos, irretocável. Pena brilhante como sempre.
Em tempo: a “Vovó da Cruz Vermelha” ontem, 21/02, em programa matinal de rádio que já foi mais carioca, desfilava sua inveja com indisfarçável felicidade diante do tropeço do Fluminense.
A imprensa carioca odeia o Rio de Janeiro. Inacreditável, mas é a mais cristalina das verdades. Abs e ST.
Paulo comenta: Ô, Ulysses, brigadaço pelas palavras aí. Quanto à Vovó, só rindo dela. Esse ódio a que você se refere vem de antes da Era Maracanã, mas tem gente que não acredita. Braxxxx.
Sonho Impossível
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Paulo Autran
http://www.youtube.com/watch?v=lRbsIqgONj4
Fala Grande Tricolor !!
Continuo na espreita do programa toda semana meu amigo. Continue firme. Tu e o cara.
Em relacao ao jogo…Tudo errado ! Abel deu mole. Ele tem credito, mas nao pode vacilar assim. O time nem jogou tudo isso em Caracas pra ele vir dizer que manteve o time que ganhou. Aqueles jogadores fizeram parte do time pois os que deveriam jogar, nao podiam. Entao, nao entendi a do Abelao. Viajou….
Nao pode dar municao pra essa midia safada se nao ja viu ne ? Eles estao doidos (ha um bom tempo), para arrumar uma crise no Laranjal. Abelao ! Caetano ! Acordem ! Essa e a hora de unir e fechar o grupo.
Fica na paz de Jah, meu querido. E nozes !
Abracao.
ST
Estamos vivos… e aí, vamos desistir do nosso sonho?
Aê Andel! O mundo pode não ter acabado, mas caiu. 😛
Paulo comenta: Marciorocha, quer uma bengalinha pra levantar? Eu tô de pé, eretão 🙂
Caro Andel,
Mais um de seus brilhantes textos, com colocações precisas e equilibradas.
Também acho que o mundo não acabou, que não adianta sair crucificando a todos.
Mas, devemos fazer constatações, a fim de melhorar a produtividade de nosso time.
Então, volto a dar minha modesta opinião de que podemos ter perdido o trem da história, quando nossa diretoria e o Abel disseram que temos zaga para os próximos seis anos! Fala sério não é???
Nossa zaga é muito limitada, em que pese todos os zagueiro sejam tremendamente esforçados e guerreiros. Mas, será que isto basta? Talvez não.
Além disso, nenhum de nossos dois laterais titulares sabem cruzar, o que faz com que nossa equipe fique completamente capenga, afunilando demais as jogadas. E isto não é de hoje. Aliás, o Carlinhos é horroroso, pois, também é descompromissado com o restante da equipe.
Mas a guerra não está perdida. Temos time para conseguirmos muito mais.
ST, rumo à classificação. Luiz
Andel, como você bem disse sobre o Grêmio…
A semana passada já passou. Agora estamos nesta semana.
E nesta semana…
Pelo amor de Deus!!!!
Como diria o Silvio Luiz: “O que eu vou dizer lá em casa?”
O mundo não acabou. mas se perder do Huachipato lá, o que poderá acabar é a Libertadortes 2013. Jogo virou muito decisivo. Equilibro o grupo geral.
Mudando um pouco de assunto, o bem amigos bateu muito no Fluminense e no Peter naquele caso de torcedores do Fluminense presos por assaltarem um vascaíno, agora torcedores do corinthians MATARAM um torcedor boliviano.
Acompanhem o bem amigos e vejam a imparcialidade da imprensa.
Exato, Breno, bem lembrado.
Perfeito. Devemos saber ganhar e perder, faz parte do jogo. O Grêmio foi ridicularizado e eleito o melhor time da competição em poucos dias…
Brilhante e lúcido como sempre, Andel!
ST4!!!!
Paulo responde: agradecimentos de sempre, queridos Roger e Fabiano 🙂
falou tudo que penso. Estamos mal acostumados e derrotas vão existir. Precisamos saber digerí-las de uma melhor maneira que não seja gritar olé para o adversário
Caro amigo, respeito sua opinião, sempre o leio com atenção redobrada. Acho que não se pode pensar que temos o pior time do mundo mas, igualmente, não podemos nos iludir a pensar que nosso time é excepcional, pois não o é. Pior do que o corneta, é a poliana, que sempre vê tudo azul. Ontem, após a vergonha, voltando pra casa, ouvi de um amigo uma frase que me fez refletir: “Fomos campeões ano passado porque não tinham times bons”. Concordo de forma parcial, visto que nesse ano, os nossos principais adversários se reforçaram de verdade (galo, corinthians, gremio, santos, sampa), e não se limitaram a contratar rhayners da vida. Por fim, minha opinião: temos um bom time, que pode brigar em carioca ou brasileiro (visto serem muitos jogos e a maioria sem tanta intensidade) mas, para Libertadores, não vejo em Carlinhos, Bruno, Anderson, Deco, Wagner, e outros mais, a gana necessária. Espero, sinceramente, estar errado. ST.
Paulo-Roberto Andel responde:
Caro Andrei, o Corneta e o Pollyanna têm seus direitos à manifestação por menos que se concorde com ambos. E também ambos, quando veementes, tendem ao ridículo.
Pior do que tudo talvez seja o reducionismo dos pensamentos súbitos e rasos, claramente explicitado em minha crônica de hoje.
Com certeza, o Fluminense está bem longe de ser o melhor time do mundo. Mas está muito, muito longe mesmo de ser a porcaria fanfarroneada hoje pelos oportunistas de plantão.
Semana passada, o Grêmio era a vergonha da Libertadores.
Será que virou a oitava maravilha do mundo ou não é nenhuma das duas coisas?
ST