Pavão, você não é dono do Flu! (por Flávio Souza)

Não seria estranho ou até mesmo surpreendente que o torcedor médio do Fluminense nunca tenha participado, ou até mesmo refletido, sobre o que acontece quando uma empresa particular é vendida. A depender da quantidade de ações adquiridas, do alinhamento do dono anterior com o novo e até mesmo da avaliação do comprador sobre a capacidade administrativa do antigo dono, é razoavelmente comum que se discuta a possibilidade do antigo dono ter assento na diretoria ou até mesmo como CEO na nova empresa formada pelo novo dono.

Julguei importante esta introdução para deixar bastante clara a diferença entre o poder de negociação do dono de uma empresa que está sendo vendida e a posição do Presidente do Fluminense, que ocupa apenas um cargo temporário no clube e em fim de mandato para o qual foi legitimamente eleito, o que é bem diferente de ser o dono do clube.

A insistência do Presidente, demonstrada em todos os vazamentos e notinhas plantadas na imprensa, em impor aos potenciais investidores na SAF ocupar a posição de CEO é algo que deveria ruborizar até o mais dedicado apoiador desta gestão. Esta situação traz claramente problemas éticos, de compliance e, principalmente, escancara os conflitos de interesse do Presidente para liderar este processo.

O último vazamento em O Globo menciona que o Pavão seria contratado como CEO por até dez anos com um escandaloso salário de 250 mil Reais ao mês. Um total de 32 milhões de Reais em até 10 anos. Por qual razão o Presidente, que ocupa um cargo sem remuneração no clube há anos, exige ser contratado e remunerado como um Rei a partir da venda da SAF?

O tema de apuração do valor de venda de empresas é bastante complexo e existem organizações internacionais especializadas nesse tipo de trabalho. Mas existe uma métrica simples comumente utilizada, pelo menos para uma aproximação inicial, que é um multiplicador do faturamento anual da empresa nos dez anos seguintes.

Considerando que o faturamento anual do Fluminense gire em torno de 400 milhões de Reais, teríamos nessa aproximação um valuation total de 4 bilhões de Reais. Se a proposta na mesa agora prevê a compra de 60% da SAF, o valor que deveria ser pago seria de 2,4 bilhões de Reais.

O valor vazado esta semana, de um valuation de 850 milhões de Reais é risível e um absoluto escândalo se for levado a sério pela atual gestão. Levanta a justa suspeição se este desconto no valor está sendo dado apenas para ter um grupo de compradores amigos que tornará o Presidente ainda mais milionário, a despeito do que seria mais vantajoso para a instituição Fluminense Football Club, seus sócios e torcedores.

Considero que a atual administração não tem mais condições para liderar o projeto da SAF do Fluminense, sob risco de cairmos em armadilhas como a do Vasco.

Pavão, você pensa que é dono do Fluminense, mas donos somos nós os sócios e torcedores. Você passará e nós ainda estaremos aqui.