Quando era garoto eu adorava o número 5. Claro, por causa do Edinho. Todos nós ficávamos encantados com aquele cara correndo feito um louco, desarmando todas as bolas, organizando o contra-ataque e, não raro, finalizando os lances. Quando fundamos o Copacabana Football Club, que durou duas ou três partidas mas teve uniforme, torcida e até bandeirão, minha camisa era a 5. A ideia do time ter camisa vermelha e short preto não foi boa e nem sei de quem veio, mas aconteceu.
Engraçado que o 5 seria marcante para qualquer tricolor nos últimos 50 anos. Em 1975 pela Máquina, obviamente. Em 1985, porque lutávamos pelo bi brasileiro (que não veio) e pelo tri carioca (que se confirmou). Em 1995, pelo último grande Campeonato Carioca, encerrado com o maior Fla x Flu de todos os tempos (respeitando os veteranos que preferem 1969). Em 2005, porque conseguiríamos um título carioca até inesperado pela campanha inicial, depois chegando à final da Copa do Brasil e perdendo a vaga na Libertadores de forma surreal.
E 2015? Teve nada não, acho. Teve? Não. Veio o Ronaldinho Gaúcho mas quase caímos no Brasileiro. Adivinhe quem comandava o futebol naquele tempo e ganhe uma audição grátis do maior hit da carreira do cantor e compositor Ednardo.
Agora tamos aí em 2025. Bem fud1d0s.
Para termos a real noção das coisas, hoje precisamos ganhar o Boavista de qualquer maneira para não morrermos no Carioca, que mal começou e já está em sua sétima rodada (é isso?). Neste domingo às nove da noite, o que por si só já garante um momento exótico, excelente para o torcedor trabalhador: depois de um domingo de praia, blocos, arrastões e muitos assaltos, quem vai deixar de ir ao Maracanã no domingo para sair do estádio às onze da noite, numa cidade que brilha por seu policiamento ostensivo? Rá, rá, rá.
Claro que foi bom prolongar o vínculo do Arias. É óbvio. A questão é: por que não se fez isso antes, em vez de se gastar tempo – e quase muito dinheiro – com Rony, que joga muito menos do que o nosso velho Roniélton de 1999 a 2002? Por quê? Por quê? Há alguma explicação plausível? Outro fato risível e constrangedor: convocar coletiva num sábado para anunciar uma renovação de contrato. Óbvio, com objetivos politiqueiros, os mesmos que o Venerável Dom Zanzibar I tanto critica em seus opositores?
[É capítulo repetido, mas vale o registro: pela 100a vez, o exótico senhor que ocupa a presidência do Fluminense aproveitou o momento pavônico para desdenhar de seus críticos, tratando-os como pessoas que desconhecem o jeito de conduzir uma empresa ou associação que tenha o volume financeiro do Fluminense. Quando lemos na internet seus textos de WhatsApp com erros cavalares de Português, pontuação, acentuação e coesão, fica difícil acreditar que ali está um Livre Docente pela própria natureza, capaz de realizar a maior gestão do mundo sem comprovar habilidades mínimas que o credenciem à aprovação no Enem, pelo menos em relação ao idioma nacional.
Será que agora todos os tricolores mais jovens, ensandecidos com a permanência de Arias, conseguem entender bem o que era há 50 anos o Fluminense contratar Zé Mário, Mário Sérgio e Roberto Rivellino para montar aquele que seria o time mais emblemático de sua história? O Fluminense, que vinha de títulos em 1969, 1970, 1971 e 1973. Fica mais fácil entender o tamanho da Máquina Tricolor e sua importância histórica para o club.
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Ressalte-se que Arias é gigantesco, para disputar vaga no bicampeão brasileiro 2010-12, no tri dos anos 1980 e até brigar pela titularidade na Máquina.
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Conversando ontem à noite com André Horta e de repente nos tocamos de algo que não queremos, mas que pode acontecer: a última partida do Fluminense na Taça Guanabara é contra o Bangu, num domingo à noite. Caso estejamos fora do páreo, já imaginaram o clima funéreo deste jogo?
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Claro, só me resta ir ao Maracanã. Já estive lá num domingo à noite. Acho que foi no Torneio dos Campeões de 1982, faz tempo.
Vou ao Maracanã para ver o Fluminense jogar, uma das minhas únicas alegrias em quase 60 anos. Sempre foi assim. Quantas vezes ver o Fluminense foi minha única esperança de vida melhor? E nem estou falando de títulos e vitórias. Ia por qualquer coisa.
Ia e vou para me sentir vivo, eu que ando tão morto ultimamente. Rever os colegas, olhar para o campo e sonhar com tudo que já não existe ali. Sonhar com o longo caminho que eu fazia de 434, de Copacabana até o portão lateral da UERJ. Quanta saudade.
Vou como fui nas derrotas para Portuguesa Carioca e Campo Grande em 1982, mas também nas vitórias sobre a Anapolina e o poderoso Flamengo, ambas na mesma temporada.
Vou para sonhar com minha família.
Ficar procurando a geral e as cadeiras mortas.
Dali eu vi aquele gol. De lá eu vi outro gol. São muitas e muitas histórias, muitas lembranças, sonhos, lágrimas e risos.
Eu não tenho o menor compromisso com a gestão estapafúrdia, os influencers prostituídos, os exóticos superstars anônimos do X, os sabichões sem currículo e outros bobalhões.
Eu vou em respeito à minha própria memória, ao que vivi e, já que estou bem mais perto do fim do que do começo porque a vida escorre, que cada nova ida ao Maracanã tenha alguma pequena história pra se guardar.
Quando tudo parece perdido, aí sou mais Fluminense.
Que todos tenham um domingo de paz. A gente precisa diariamente de uma esmolinha de paz para sobreviver. Um golinho de paz. Tudo muito diferente do horror no Recife ontem.
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Qualquer lista ou rol da história literária do Fluminense que não contenha os nomes de João Marcelo Garcez, Roberto Sander, Alexandre Berwanger e o meu deve ser tratada como o que é: uma piada.
De mau gosto.