SAF no Flu: é hora de falar sério (por Raul Sussekind)

Há meses o Presidente do Fluminense vem dando declarações sobre a possível criação de uma SAF para gestão do futebol do clube. Às vezes diretamente, às vezes passando recado pela sua rede de influenciadores, mensagens desencontradas chegam aos sócios e torcedores do clube. Primeiro, “SAF nem pensar enquanto eu estiver aqui”. Depois, “SAF apenas sem venda do controle” (quem é que vai colocar dinheiro de verdade num clube de futebol e deixar que dirigentes modelo anos 80 tomando as decisões?). Agora, finalmente, a SAF com venda de controle. Coincidentemente, programada para o último ano do segundo mandato do atual presidente, quando ele não pode mais ser reeleito. Em quase todos os comunicados, cita-se o Banco BTG, talvez para gerar uma mensagem subliminar de profissionalismo e seriedade, num processo que nada tem de profissional, e muito menos de sério.

Um clube que há um ano conquistou a América, hoje está batendo a porta da Série B, o que indica que os resultados não são necessariamente fruto de um trabalho consistente. Contratações absurdas, renovação de contrato de treinador três semanas antes de demiti-lo, Demonstrações Financeiras com inconformidades contábeis flagrantes. Essa é a gestão do Fluminense. Saneamento financeiro e profissionalização não passam de narrativas, para quem tem muita vontade de acreditar.

Nesse contexto caótico, evidentemente nenhum banqueiro ou investidor minimamente profissional cogitará investir no Fluminense, salvo se obtiver controle da administração, do caixa e da governança do clube a partir do dia 1. Ninguém coloca bilhão na mão de amadores.

Pois bem, a notícia de hoje dá conta de uma SAF com venda de controle e manutenção do atual Presidente como CEO, o que configura uma óbvia contradição se consideramos um investidor sério e profissional. Então, se assim for, a pergunta obrigatória que segue é: quem vai comprar 51% da SAF para entregá-la nas mãos de um gestor que está levando um time da Glória Eterna à possível humilhação eterna? Que negocia atletas da base do clube por valores dezenas de vezes menor que os valores de suas multas rescisórias? Que paga centenas de milhares de Reais por mês para atletas nos ocasos de suas carreiras?

Essa conta não fecha. Não passa no teste do riso. É impossível não considerar que, se alguém vai adquirir o controle de um negócio milionário e entregá-lo ao atual Presidente, para que ele se perpetue no poder, esse alguém tem interesse na manutenção dos atuais métodos de gestão. Pergunto, então: a quem interessa que Luizes Henriques sejam vendidos por 7 milhões de Euros? A quem interessa que promessas com resultados comprovados nas categorias de base sejam vendidos antes de estrear no time profissional, por valores simbólicos diante de suas multas rescisórias? A quem interessa vender seus ativos por muito menos do que valem? A quem interessa que nossas revelações sejam os protagonistas de conquistas de Flamengo e Botafogo? A quem interessa uma SAF modelo Tombense?

Não, uma SAF com Mário Bittencourt como CEO não faz o menor sentido. Será que uma operação de venda de ações da SAF, ou por valor incompatível com o valor do futebol do Fluminense, ou vinculada a pagamento futuro, feita por apoiadores do Presidente, não seria uma estrutura para perpetuar um Presidente que, de acordo com o Estatuto do clube, não pode mais ser reeleito?

O assunto preocupa. E preocupa muito. Especialmente pela facilidade com que o atual mandatário aprova tudo o que quer no clube. É hora dos sócios e dos torcedores acordarem. De se fazerem presentes. É hora de exigir explicações baseadas em fatos e dados, e não em bravatas e narrativas.

Ou acordamos agora, ou viveremos de revelar jogadores e vendê-los a preço de banana para serem ídolos e campeões nos nossos rivais.

Omitir-se agora é permitir que o Fluminense se torne uma FluTombense.

1 Comments

  1. Foi o Mário que contratou R. Gaúcho, ex-jogador, mais interessado nas baladas e disse que “era a chance de contratar um craque”. Com Robinho e Cris Silva, gastou 13 milhões e disse que era “oportunidade se mercado”. Será mais do mesmo, joias vendidas a preço de banana e veteranos trazidos a peso de ouro. Mais fiasco à vista. ST.

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