É uma pena que o aniversário da Libertadores tricolor tenha sido marcado por um momento tão ruim em todos os aspectos.
Agora, o pior deles é ver tanta gente se descabelando em besteiradas para defender quem não vale nada. Alguns, ótimas pessoas; outros, apenas tentando auto promoção.
O ser humano é contraditório. Miles Davis foi um gênio e deu diversas caneladas. James Brown também. João Gilberto. Nelson Rodrigues. Candeia. Todos gênios, todos deram caneladas brabas e não deixaram de ser reconhecidos por isso. Por que jogador de futebol não erra? Só podem estar de sacanagem…
Parece que só no Brasil reina esse comportamento quase pueril de tratar grandes jogadores como se fossem verdadeiros deuses intocáveis, infalíveis, verdadeiros super heróis saídos dos quadrinhos para a vida real, que fora do campo são fantásticos como os lances que produzem no gramado. Antes eu achava até que era hipocrisia dos torcedores, mas não é: o problema beira à ingenuidade por pura paixonite, a ponto de não perceber certas situações expostas publicamente, esfregadas na cara de todo mundo. É bom lembrar que o futebol, esporte fascinante, é marcado por diversas facetas hipócritas, como a homossexualidade reprimida nos times brasileiros.
No caso do Fluminense a coisa fica pior, porque não é apenas sobre jogadores, mas treinadores e até dirigentes (quac!). Aí vem um podcast com gente como Rafael Sobis (tremendo jogador que muito honrou as cores do clube), que bota a boca no trombone e mostra como mesmo num time campeão o bicho corria solto. E então se repetem as mesmas verborragias de sempre: “gestão”, “trabalho”, “família” e agora a mais nova otarice do mercado: “gesto técnico”. Tudo conversa fiada que não se sustenta com três ou quatro jogos sem vitória.
Regis Tadeu, famoso crítico musical conhecido por suas opiniões fortes, certa vez declarou a respeito dos fãs de artistas:
“Eu nunca idolatrei ninguém (…). A premissa básica pra você ter um ídolo é você ser fã. Essa é a premissa básica. E o fã, como eu sempre digo, eu não canso de dizer isso, o fã sem exceção, é um idiota. Porque o fã, ele nunca questiona o seu ídolo (…). Então, tudo o que o ídolo faz, é genial, é espetacular. E eu nunca tive essa postura, porque sempre enxerguei os artistas, as pessoas que eu admiro, eu [as] enxerguei olhando o pé de barro delas (…). Então, desde moleque eu nunca tive essa coisa de ser fã de alguma coisa. Nada. Geral. A não ser da minha mãe, querida mãezinha, era fã da minha mãe.”
Evidentemente, guardadas as devidas proporções necessárias e sem a intenção de ofender ninguém, a fala de Regis sobre os fãs de artistas se encaixa perfeitamente para parte da torcida do Fluminense, especialmente quando o torcedor age como o fã de um ídolo, o considerando um ser humano perfeito e inquestionável apenas porque tem talento com a bola – e isso simplesmente não existe.
Estou há quase meio século nessa, e fiquei muito mais perto dos bastidores do que gostaria – aliás, ninguém me vê em cenas de bajulação com personagens do futebol atual. Agora, sinceramente, se algum jovem me pedisse algum conselho sobre ídolos e “ídolos” (estes, com aspas, impostos pela mídia ), eu só diria o seguinte: “Viva seus sentimentos, mas é bom manter distância regulamentar”. Vale para jogadores, treinadores e dirigentes.
É claro que há pessoas admiráveis nestes cenários, mas é importante ter em mente que são a minoria.
Ah, importante: todo mundo tem o direito de ter ídolos, mas ídolo não se impõe a ninguém. Cada um tem o seu ou seus, há quem não tenha e está tudo certo.
Por fim, a imprensa esportiva do Rio tem muito picareta, mas também tem gente séria e com histórico. Não é inteligente colocar tudo no mesmo saco.
@p.r.andel