Em dia de reencontrar Fernando Diniz, treinador oito e oitenta que nos ajudou a conquistar um Carioca e uma Libertadores, mas que esteve conosco duas vezes na Zona do Rebaixamento e tantas eliminações. Mesmo assim, não deixou de ser marcante.
E quis o destino que fosse o Cruzeiro, quem sabe emular novamente aquela arrancada, semelhante ao que aconteceu em 2009, quando começamos nossos movimento de salvação.
Uma noite chuvosa para receber essa partida, mas também representando o choro pela estreia de Victor Hugo, mais um desses indicados por empresários, enquanto a nossa base só serve para tapar buraco ou levantar dinheiro para pagar salários atrasados de veteranos.
A chuva também traz a preocupação com o Buraco do Lacerda, principal ligação entre a Lino Teixeira e a Suburbana, que ficara interditado desde agosto e reabrira hoje, por ordem do alcaide desta cidade, de olho nas eleições e nos votos dos jacareenses, povo humilde e humilhado por reiteradas administrações públicas.
Também foi dia da Frente Ampla Tricolor panfletar nos arredores do Maracanã, por intermédio do professor e historiador Felipe Duque, um quadro extraordinário, ao qual o Fluminense não deveria jamais manter sob sigilo.
Em campo, um Cruzeiro iniciando sua metamorfose rumo ao Diniz-Ball, sistema de jogar deveras conhecido por todo tricolor. Do outro lado, Mano e seu abraçaço aos veteranos e indicados, fazendo perder o respeito que vinha construindo, sossegadamente.
Intensidade versus suposta qualidade técnica dionisíaca, capaz de fazer verter lágrimas, de tanto sofrimento acumulado.
Um primeiro tempo dividido, o Cruzeiro aproveitando contra-golpes e lentidões sabidas, tais quais as sentidas todos os dias nas ruas do Rio. Já o Fluminense tinha em Arias e Kauã Elias suas luzes da ribalta.
Fábio garantiu o bicho, Cássio também.
O jogo neste primeiro tempo se assemelhou àquelas peladas disputadas entre a classe trabalhadora em praças, praias, praias e parques país afora. Muito divertida para quem assiste não tendo sentimento envolvido.
Ao acompanhar Marcelo no primeiro tempo, restou-me cantarolar em pensamento um hino do mestre Nei Lopes, Caído com elegância: “Sujou geral! Então pra quê essa arrogância? Estás caído com elegância, sem querer acreditar que a sopa acabou. Quem vivia de posses, agora só vive de pose”, com a problemática de que sua queda está mais para a perpetrada por Glória Groove do que pelo homérico Nei.
Sete velhos pendurados em três jovens, dentre os quais Arias desmotivado, Martinelli em má fase e Victor, o Hugo. Não tem como escapar do rebaixamento com esse tipo de escalação; só estamos adiando o sofrimento e curtindo sadicamente, a tortura derradeira.
A atuação do Fluminense no primeiro tempo não passaria incólume por Aracy de Almeida, Pedro de Lara ou Elke Maravilha sem ouvir poucas e boas, com tom misto de deboche e desdém. Melhor seria perguntar ao Pablo(mmm): qual é a música?
Nesta segunda etapa, o jogo começou nem lá, nem cá, nem eu, nem você, um olho no peixe, outro no gato. Mas como eternizara Pessoa: ‘Deus ao mar, o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu’. Da mesma forma, Ganso achou um passe indescritível para que Arias, o melhor jogador do Fluminense desde os idos de 2012, fizesse o gol que marcou a vitória tricolor, sob vergonha de quem, sob encomenda do gestor, vinha atacando e dizendo que o Jhon estava fazendo corpo mole. Canalhas.
Fábio seguiu garantindo o Fluminense, ele e Arias, os caras do time. E vamos perdê-los, um para a idade e outro para a Europa. Não se tem um minuto de paz.
Na saída dos capitães, Martinelli que seria o próximo a vestir a braçadeira, fez um gesto ímpar, de um jogador que merece tudo de melhor que a vida pode proporcionar. Em vez de envergar em seu antebraço aquele pedaço de elastano, o encapsulou no Manoel, em gesto elegante que um certo canino não seria capaz.
A camisa, que enverga qualquer tipo de varal, fez seu esteio. Venceu, respirando fora da Zona, embora ainda na beira do caos. Não é possível um castigo desses ao coração tricolor, com tudo que já viveu e morreu o nosso amor.
##########
FLUMINENSE 1 x 0 CRUZEIRO
Campeonato Brasileiro – 29ª Rodada
Maracanã – Rio de Janeiro-RJ
Quinta-feira, 03/10/2024 – 21:30h (Brasília)
Renda: ???
Público: ???
Arbitragem: Gustavo Ervino Bauermann (PR). Auxiliares: Fabrício Vilarinho da Silva (Fifa-GO) e Gizeli Casaril (SC). VAR: Daiane Muniz (Fifa-SP)
Cartões Amarelos: Victor Hugo 24′, Keno 43′, Jhon Arias 62′, Kauã Elias 65′, Marcelo 80′, Gabriel Fuentes 90′, Thiago Santos 90’+1′, Manoel 90’+2′ (FLUMINENSE); Matheus Henrique 45’+3′, 20-Walace 66′, Álvaro Barreal 81′ (CRUZEIRO)
Gols: Jhon Arias 54′ (FLUMINENSE)
FLUMINENSE: 1-Fábio; 2-Samuel Xavier (23-Guga 83′), 26-Manoel, 29-Thiago Santos e 12-Marcelo (31-Gabriel Fuentes 83′); 20-Victor Hugo (5-Facundo Bernal 46′), 8-Martinelli e 10-Ganso© (45-Lima 76′); 11-Keno (90-Kevin Serna 60′), 21-Jhon Arias e 19-Kauã Elias. Téc.: Mano Menezes. 4-3-3
CRUZEIRO: 1-Cássio; 12-William, 5-Zé Ivaldo (20-Walace 60′), 25-Lucas Villalba e 3-Marlon (33-Fabrizio Peralta 77′); 29-Lucas Romero© (21-Álvaro Barreal 60′), 97-Matheus Henrique, 26-Lautaro Díaz (6-Kaiki 77′), 30-Gabriel Veron (66-Tevis 66′) e 10-Matheus Pereira; 9-Kaio Jorge. Téc.: Fernando Diniz. 4-2-3-1 se