Fluminense 0 x 0 Corinthians (por Claudia Barros)

Para uma criança nascida e criada numa cidade do interior do Brasil, nos anos 80, assistir Cidade X Cidade nos domingos à tarde era como fazer uma imersão na fantasia.

Eu e minha irmã tentávamos encontrar em Sumé, os personagens, objetos ou curiosidades que as cidades levavam para a competição.

Mulher mais alta, homem mais gordo, maior fruta já colhida, menor animal de estimação, melhor atração turística, idade das igrejas locais. E nós íamos enumerando, uma a uma, que atrações participariam do programa conduzido divertidamente por Silvio Santos, se Sumé concorresse um dia.

Nessa brincadeira conhecemos vários municípios do interior de São Paulo: Pindamonhangaba, Barretos, Jundiai, Limeira, Piracicaba, Caraguatatuba, Itu.

Eu morria de inveja de Itu. Invejava a cidade em que tudo era grande. Eu queria que em Sumé tudo fosse grande também.

E assim, programa a programa, Silvio Santos se transformava num craque.

Jogou melhor do que ninguém no seu campo de atuação.

Foi o Pelé ou a Marta da televisão e do entretenimento brasileiro.

E no dia em que o Brasil se despediu de Silvio Santos, os seus dois times do coração se enfrentaram no Maracanã, para um público de mais de 30 mil pessoas, pela 23° rodada do Brasileirão 2024.

O jogo foi ruim, ambas as equipes sem criatividade e capacidade decisiva, o que resultou num desconfortável 0 a 0.

Nesse duelo de Cidade X Cidade, Rio de Janeiro e São Paulo não colocaram em campo suas melhores atrações.

Não levaram as melhores jogadas, as melhores decisões, os bons passes e os maiores talentos.

Faltaram atributos, sobraram vaias no Maracanã.

Apesar de achar que o Fluminense jogou um décimo acima do Corinthians, percebi que o troféu não seria nosso quando Keno entrou em campo.

Pense num jogador ruim! Pensou? É o Keno nesse momento. Desalentado e desconectado, o jogador tem contribuído, e muito, para o insucesso tricolor.

Mas não apenas isso. Num mundo em que o espetáculo faz falta para as almas e corações, Silvio Santos sobrava à frente do placar.

Já o nosso Fluminense, a quem minha alma deveria estar agradecida caso concedesse a graça da alegria, do espetáculo e do talento, continua à procura do melhor tom.

Desorganizado em campo, o Fluminense não possui objetividade para resolver seus jogos.
Vejamos o que se prenuncia no jogo de volta da Libertadores, contra o Grêmio, durante a semana.

Mas a expectativa esbarra na realidade e se passarmos, será também por conta de um Grêmio limitado.

Ou será porque o gênio da televisão estará no comando de mais um Cidade x Cidade?

Veremos.

Valeu, Silvio!