Fluminense, 13 clássicos depois (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, futebol é um esporte complexo.

Diante de questões complexas, não há respostas fáceis.

O Fluminense, eliminado da final que nos possibilitaria conquistar o tricampeonato estadual, chegou ao 13º clássico regional sem vencer.

Diante desse dado, manda o bom senso que, para que possamos iniciar uma análise, comecemos pela contextualização. Os 13 clássicos sem vitória ocorreram num período inferior a um ano. Período esse em que o Fluminense se consagrou como campeão da Libertadores, campeão da Recopa e vice-campeão mundial de clubes.

Não é possível fazer essa análise sem atentar para as cascas de banana no chão, mas nada como um pouco de coerência para delas escaparmos. Sendo assim, não vou dizer nada do que já não tenha sido dito ao longo desse período.

A ausência de vitórias em clássicos regionais é contemporânea da queda brutal de rendimento do Fluminense. Sim, o mesmo Fluminense campeão da Libertadores, vice mundial e campeão da Recopa Sul-Americana. Um time de elevadíssimo nível técnico, mas incapaz de manter um nível de desempenho por mais do que alguns episódios dentro de algumas partidas.

Vamos, então, recorrer ao Fla-Flu de sábado. Após uma jornada deplorável no primeiro jogo das semifinais, o Fluminense atuou de forma digna e que até justificaria uma vitória no último sábado. Eu já disse que futebol é complexo e que não se explica o triunfo ou o fracasso com base em um único parâmetro.

Não obstante, por uma questão de coerência, devemos salientar que o Fluminense do jogo de sábado foi a campo com um time rejuvenescido.

Ao contrário do time com sete jogadores com mais de 34 anos do Fla-Flu anterior, o Fluminense foi a campo com seis jogadores com menos de trinta. A constar: Marquinhos, Martinelli, André, Lima, Jhon Arias e JK.

Então, Diniz, não está faltando coerência nem coragem aqui para sustentar o que vem sendo dito ao longo desse período. Bastou isso para o Fluminense jogar de forma digna, competindo contra um rival extremamente qualificado.

Mesmo sem a vaga para a final, eu terminei o jogo orgulhoso do que vi e que espero continuar vendo ao longo dessa temporada, que pode, sim, ser até melhor que a passada, contanto que haja a coerência que você tanto cobra da imprensa.

Sou obrigado a concordar com Diniz acerca da baixa qualidade da imprensa. Não é só uma questão restrita ao futebol. Não fosse o meu próprio trabalho como jornalista, sempre na contramão dessa insensatez absurda que reina na imprensa, eu mesmo teria vergonha do meu diploma.

Não obstante, mais uma vez, é preciso que se dê nome aos bois. Como tricolor, estou na arquibancada do Maracanã há quase 50 anos.

Diniz, você não sabe o que eu já vivi, vibrei e sofri na minha militância pelo Fluminense.

Não tem ideia do que eu já fiz e tentei fazer por esse clube.

Quando você fala de pseudojornalistas com seus bloguinhos, precisa dar nome aos bois, porque há pessoas respeitáveis, profissionais, que estudam futebol e que amam o Fluminense até acima de tudo.

Quando não se dá nome aos bois, cria-se uma generalização, que acaba por apontar para a falsa narrativa de que quem critica não é tricolor ou só que ganhar likes. Ou de que nada presta e só vale a nossa própria narrativa, acima dos fatos e da crítica, que é um problema crônico da sociedade humana no presente momento, que pode nos levar ao caos em muito pouco tempo.

O Fluminense tem uma história linda, escrita e negada no mundo real. Você, Diniz, faz parte disso, mas pode apostar que eu também. Fui editor de dois sites revolucionários, respeitados dentro do Fluminense, mesmo adotando uma postura sempre crítica. Até a minha integridade física eu já coloquei em jogo para defender esse clube. Jogar confetes é algo que só faz sentido no carnaval.

Quando Fernando Diniz sugere que ninguém tem coragem ou coerência para sustentar o que fala, está falando em uma amostra de 100%. Eu estou aqui sustentando o que venho falando há muito tempo, mesmo e apesar dos títulos. A diferença é que eu não me reconheço como dono da verdade. Lá no começo de 2023, quando insistiu com Keno, eu critiquei o abandono do 4-4-2, mas dei a mão à palmatória quando percebi que estava errado.

Não foi a primeira vez que errei. Foram várias, mas sempre reconhecendo o mérito de quem acreditou naquilo de que eu discordava.

Não obstante, mais uma vez, tive a coragem de dizer, em 2017, que o Corinthians do Carille, brigaria pelo título brasileiro um mês antes do início da competição. As pessoas rolavam no chão de rir quando eu dizia isso.

Resultado? Corinthians campeão brasileiro.

No mesmo ano, se não me engano, o Inter era líder do Campeonato Brasileiro na quinta rodada. Vendo os jogos, vaticinei que aquele time brigaria contra o rebaixamento. O Inter acabou rebaixado. Mesmo caso do Vasco do famoso “ramonismo”.

Eu ainda estou aqui, escrevendo no PANORAMA, porque tenho credibilidade. Porque eu analiso com honestidade e transparência, sem rabo preso com quem quer que seja. O Fluminense é minha pátria. Mas a minha existência não é uma porcaria por ter como pátria um clube de futebol, ainda mais sendo o Fluminense esse clube, cuja história justifica por ele viver uma vida.

No meu entendimento, Fernando Diniz é o melhor técnico brasileiro em atividade. Eu digo isso não é de hoje, é desde 2019, mesmo falando contra tudo e contra todos. Eu sou apaixonado pelo modelo de jogo, pelas ideias e até pelo que presumo que sejam os treinos do Fluminense sob Diniz. Houve um tempo em que eu era apaixonado até pelas entrevistas, cheias de conteúdo inédito e relevante. Hoje, o que vejo, é Diniz tentando contrapor jornalistas, desqualificando pessoas para fazer prevalecerem seus não argumentos para defender o que é ruim.

Não termos conseguido vencer um único dos treze últimos clássicos regionais é produto de escolhas ruins, que passam pela política equivocada de contratações e dispensas. Que passam pelas escalações envelhecidas e pela soberba que pode botar a perder um ciclo virtuosos do Fluminense.

O Fla-Flu de sábado foi um teste para a concepção de elenco do Fluminense. Passou com sobras, mas é mais do que evidente – até os torcedores adversários reconhecem – que é preciso rejuvenescer o time titular. Porque o que acontece com o Fluminense é a superioridade técnica prevalecer em alguns momentos do jogo, mas tem que se igualar ao adversário fisicamente para que essa superioridade dure. E isso não acontece quando a concepção de time titular tem sete jogadores com mais de 34 anos.

É claro que tem outras variáveis. No jogo de sábado, o retorno de André e a ótima atuação de Manuel foram preponderantes para a boa atuação. Que bom seria se pudéssemos ter uma zaga com Luan Freitas e Manuel, mas cadê o Luan Freitas?

Foi emprestado, assim como está o Yago, ao Nova Iguaçu, eleito como melhor jogador em campo na classificação da Laranja Mecânica da Baixada para a final do Flamengão, em cima do Vasco.

Coerência não é insistir nos erros. Isso tem outro nome.

Saudações Tricolores!

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