O castelo de fadas de Diniz desabou no Fla-Flu (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, parece que o enredo estava encomendado. Era só olhar a escalação de Diniz, o que fiz faltando pouco menos de meia hora para começar o jogo, enquanto adentrava o palco do baile em vermelho e preto, para antever o fiasco.

Um fiasco que não se constrói em uma única noite. Ele tem, aliás, uma história, uma longa história, que estamos contando aqui no Panorama há tempo. Uma história que ninguém quer ver, ou que se oculta na fumaça dos feitos recentes, ainda que não contemplados com o grande futebol que deixamos estacionado no primeiro quadrimestre de 2023.

O que tem essa semifinal de hoje de similar à final do ano passado? Naquela ocasião, a Dissidência também venceu o primeiro jogo por 2 a 0. As coincidências param por aí.

Naquela ocasião, o Fluminense, mesmo perdendo, foi superior ao adversário. Lembro-me que voltei ao Maracanã no domingo seguinte absolutamente confiante que o Fluminense viraria o jogo.

Lá, o Fluminense precisava vencer por 3 a 0 para conquistar o título, mas levaria a decisão para os pênaltis com um 2 a 0. Dessa vez, é 3 a 0 ou nada. Menos que isso é a Dissidência na final e o Prêmio Nobel do Esporte juntando os cacos do castelo de fadas desabado de Diniz.

Nosso técnico, aliás, transferiu para os jogadores a responsabilidade pelo fiasco de ontem, como se um vexame se construísse numa noite. O que é óbvio. Transferir a culpa para os jogadores é uma forma de preservá-los.

Explico: se o problema não está na escalação, e sim no desempenho da equipe, significa que escalar um time com sete jogadores com mais de 33 anos num clássico decisivo não é o problema.

Não há problema algum, na visão do nosso brilhante treinador, em escalar Ganso e Renato Augusto, 71 anos somados, num meio de campo sem pelo menos dois volantes de proteção. Eu imagino que ninguém gostaria de estar no lugar do Martinelli no jogo de ontem.

O resultado foi um time que não marcava e não criava, enquanto os dissidentes acumulavam oportunidades de gol, com Fábio se transformando no melhor da equipe em campo, o que nem chega a ser uma excentricidade nos últimos tempos. O castigo, porém, veio no finalzinho da primeira etapa, com o gol de cabeça de Cebolinha.

Chegamos a ensaiar uma reação no início da segunda etapa, pelo menos equilibrando o jogo, mas ela foi freada pela expulsão correta de Thiago Santos aos 16 minutos. Dali em diante, o que se viu foi um verdadeiro massacre dos dissidentes em campo. Pode-se dizer que, para um time que não conseguiu ameaçar o gol adversário, o 2 a 0 foi um maná.

Não é de se estranhar que a torcida do Fluminense tenha comprado míseros 30 mil ingressos até quarta-feira à noite e não houvesse no estádio mais do que 20 mil, com a arquibancada dividida e até com ligeira vantagem dos dissidentes. Nas horas que antecederam o jogo, eu contabilizei uns cinco tricolores, no meu círculo de relações, que tinham reservado o ingresso e não foram ao jogo.

Amigas, amigos, não há sentido em jogar o bebê fora junto com a água do banho. O título da Libertadores e da Recopa ficarão para sempre e não há quem nos tire esse bebê. Fato é, porém, que essas conquistas não podem nos privar do senso crítico. Houvéssemos perdido aquela semifinal para o Inter, que teria sido o mais justo, poderíamos estar amargando agora uma mísera disputa de pré-Libertadores, graças ao fiasco no Campeonato Brasileiro de 2023, no qual amargamos a sétima posição.

Esse Fluminense envelhecido, que se gaba de suas idiossincrasias, vive, há quase um ano, de momentos raros de brilhantismo, como o dos 20 minutos iniciais da final do Mundial contra o City. De resto, o que temos, são bravatas.

Ante à ausência de André, que foi expulso após entregar o jogo para o Botafogo no último domingo, discutíamos se o substituto tinha que ser Alexsander, Felipe Andrade ou Lima. Nem nos nossos piores episódios de delírio coletivo imaginávamos que Diniz colocaria Renato Augusto em campo de início.

Aliás, de que adiantou Felipe Andrade, deslocado de zagueiro para volante, ter se destacado no time titular ao longo do começo da temporada? Luan Freitas, em que enxerguei um novo Nino, foi emprestado. João Neto, idem.

Enquanto a Dissidência, com maior poderio econômico, contrata dois ou três jogadores a cada janela, o Fluminense contabiliza contratações às dezenas, mesmo sendo um dos melhores times do país. Se você não vê nada de estranho nisso, talvez veja no fato de que em 2021 o Fluminense planejava emprestar André antes de perceber que não poderia contar com Hudson. Hudson, eu disse!

Se Diniz não entendeu ainda que esse é o fundo do poço para um elenco que é, sim, qualificado, que tem tudo para fazer uma grande temporada, continuaremos presenciando situações como a de ontem. Um time que não conseguiu vencer pelo menos um mísero dos últimos 12 clássicos regionais.

Amigos, amigas, torcer, sim, mas que não nos falte senso crítico e lucidez. O rei está nu e só não vê quem não quer.

Saudações Tricolores!

1 Comments

  1. Que essas derrotas seguidas em clássicos e não pelos placares, mas pelas escalações, substituições e formas como acontecem, sirvam para que o Mário cobre do Diniz mudanças ou faça o mesmo humildemente admitir que estava errado e corrigir o rumo, como fez a partir do segundo jogo com o internacional.

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