Seu Jocélio (por Paulo-Roberto Andel)

Ele veio de longe, dos anos 1930. Ainda bem criança, pode ter ouvido ruídos daquele que provavelmente foi o maior esquadrão da história do Fluminense: o time arrasador de 1936-1941. E quando ficou menino grande, viu ninguém menos do que Ademir Menezes vestir a camisa tricolor para ser artilheiro e super campeão de 1946.

Depois, ficou fichinha. Você, tricolor, imagine o que era ver Castilho, Píndaro e Pinheiro, Didi e Telê, Carlyle e Waldo. Ganhar o Mundial de 1952 (sem Maracanã lotado nem chiliques de torcedores), ganhar dois Rio x São Paulo (o Brasileiro da época), ver craques do Fluzão campeões mundiais pela seleção. Seu Jocélio viu tudo isso, e também ouviu muito porque torcedor que se prezava escutava tudo no rádio. Símbolo de uma era gloriosa: as pessoas ouviam mais do que falavam.

Jovem adulto, aí Seu Jocélio tocou o terror: em fins dos anos 1960, o Flu emplacou sua grande sequência de títulos, quando o Brasil tinha o melhor futebol do mundo e todos os seus craques atuando por aqui. Isso quer dizer grito de campeão em 1969, 1970, 1971, 1973, 1975, 1976, 1980, 1983, 1984 e 1985. E diz também de dezenas de craques e feras: Félix, Assis, Galhardo, Silveira, Oliveira, Denilson, Marco Antônio, Samarone, Cafuringa, Flávio, Lula, Manfrini, a Máquina inteira, o jovem time de 1980 e, por fim, o grande tricampeão de 1983-84-85. Jocemar, seu filho mais velho, se deu bem e viu toda a sequência. Seu irmão Marcélio, boa parte.

Quando eu e toda a minha geração engatinhava, Seu Jocélio colecionou uma penca de títulos e ídolos com o Fluminense. Viu e viveu. Encarou todas

Depois as coisas não ficaram tão fáceis. Penamos quase dez anos até o maravilhoso gol de barriga, sofremos muito no final dos 1990. Aos poucos, nos recuperamos e vivemos uma longa caminhada de 2007 a 2010. E penamos de novo de 2013 a 2021. Mas nos últimos anos, pelo menos no campo o Fluminense abriu a cortina do passado e recuperou seu perfil de ganhador. O bicampeonato carioca e a sonhada conquista da Libertadores. Como sempre, Seu Jocélio acompanhou tudo, mais pela TV e rádio, mas sempre presente. Dia desses ele agradeceu por estar vivo na Glória Eterna.

Infelizmente não deu tempo para a festa da vitória na Recopa, nem das finais do Estadual. Seu Jocélio se foi nesta terça-feira, sendo enterrado hoje. Tinha 89 anos. Felizmente viveu muito, teve uma família feliz e, tendo visto tanto sucesso, foi um grande influenciador tricolor de sua família: além de Jocemar e Marcélio, veio outro jovem craque tricolor para o time – CH Barros, nosso colaborador neste PANORAMA.

Nesta quinta-feira teremos mais um motivo para buscar essa vitória na Recopa. É que Seu Jocélio vai acompanhar o jogo num telão, cercado de tricolores da melhor safra. De alguma maneira ele estará conosco também. É que somos o time da fidalguia, da camaradagem, da elegância típica de quem cumprimenta o outro numa arquibancada com garbo. Nós do PANORAMA vamos torcer como nunca pelo Fluminense e pelo Seu Jocélio, assim como celebraremos o aniversariante Carlos Alberto Parreira, um de nossos maiores orgulhos.

O Fluminense é alegria, simpatia e paixão. É uma causa, e os verdadeiros cavalheiros à ela se dedicarão. Somos milhões de escudos tricolores, estamos em todas as classes sociais e ninguém vai nos parar. Um clube com a história maior do que um século não tem dono nem chefe: tem povo!

Viva Seu Jocélio! Viva!

##########

Arrogância. A maior inimiga do pedido de desculpas.