Essa é uma história de muito tempo atrás, quase meio século.
Eu me mudei para o prédio e fiquei amigo do Adão. Mais tarde, estudaríamos juntos. O nosso convívio mesmo foi aquela coisa de 1978 até 1981 mais ou menos.
E tinha a Dona Célia, Tia Célia, mãe do Adão. Ela adorava minha mãe.
É um tempo ao mesmo tempo difícil mas de boas lembranças para mim. Ao mesmo tempo em que tínhamos enorme dificuldade financeira em casa e meu pai apresentava problemas de alcoolismo, eu tentava me divertir como qualquer garoto: ia à praia, jogava bola, botão, brincava no shopping center – isso mesmo, tempo também morava lá. E naquele momento, o Fluminense passava a ser uma obsessão para mim. Poder comprar um botão, um escudo bordado, ler as notícias nos jornais, ouvir as resenhas esportivas, ir ao Maracanã. Tudo junto.
Várias vezes Dona Célia levava a gente para lanchar cachorro quente no Aterro do Flamengo. Ficávamos fascinados, era uma verdadeira viagem. Ela tinha um Fusca e dirigia, nós achávamos um barato. Era um passeio simples, mas o tempo me fez dar ainda mais valor em poder comer um cachorro quente em pleno Aterro às dez da noite de uma segunda feira. A cidade já não era um poço de tranquilidade, mas era algo que uma mulher podia fazer com seu filho pequeno e o amigo dele.
Noutras vezes, a gente ia pra praia no Leme. A água era tranquilinha, gelada, a gente lanchava biscoito Globo e bebia mate gelado do tanquinho, misturado com limonada. Eu ainda me lembro de olhar a beleza da praia de Copacabana vista do Leme. O Fusca era nossa espaçonave. Falando de 1979, lá estava o Fluzão de Wendell e Renato, de Edinho e Miranda, de Rubens Galaxy, Carlos Roberto e Toinzinho. E de Nunes.
Nesta terça é o aniversário de 79 anos de Renato. Falei bastante dele na live do PANORAMA. E também é o aniversário de 13 anos do título brasileiro de 2010. Por sinal, neste mesmo dia escrevi as últimas páginas de meu primeiro livro, escrito sobre o Fluminense.
No mesmo dia, Dona Célia saiu de cena. Teve uma vida longa e um ótimo filho a seu lado. Ao saber de sua passagem, fiquei imediatamente triste. A seguir, pensando nas coisas que aconteceram hoje, mais as lembranças, percebi que muito do que falei hoje tinha a ver justamente com aqueles tempos do maravilhoso cachorro quente no Aterro.
Tempos de meu querido amigo Adão Lamenza Salama, da Dona Célia e do início daquela obsessão que até hoje tenho pelo Fluminense. Tempos de um Aterro quase tranquilo, onde minha preocupação maior era economizar a mesada para comprar um botão, um becão ou goleiro. Tudo isso ficou comigo para sempre.
Eu nunca vou me esquecer do Fusca fazendo a curva na Enseada de Botafogo.