O grande troco de 1980 (por Paulo-Roberto Andel)

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Fui todo contente para o Maracanã com meu pai. Chegamos cedo. Vínhamos de duas goleadas, 5 a 0 no Bangu e 3 a 0 no Flamengo. O ritual de sempre: o Careca, o mar de bandeiras, o pó de arroz. Mas quando o clássico começou…

Levamos um banho de bola. Nem a vimos. O Botafogo acabou com o jogo. Melhor dizendo, o Mendonça. Craque demais. Fez um golaço de fora da área e outro de pênalti. Mandou e desmandou no meio de campo.

Pela primeira e única vez deixei o Maracanã no intervalo por causa de uma derrota. Meu pai me puxou esbaforido. Estava com raiva. Ainda ouvimos o 4 a 0 no ônibus. Mendonça, três gols.

O troco veio quase um ano depois. O nosso time estava começando a se formar, o Botafogo estava numa crise enorme, a torcida deles queria a cabeça do presidente Charles Borer. Teve banda do Corpo de Bombeiros no gramado.

Um tempo de sonhos. O Fluminense fez 3 a 0 com facilidade. O terceiro gol foi uma pintura no passe de Robertinho para Cláudio Adão fuzilar. O time todo de branco, inesquecível. Depois o Adão fez o quarto no segundo tempo. Matamos a pau. Troco de 4 a 0 pra um garoto de onze anos é o mundo em cores. Que festa maravilhosa. Meu amigo Fernando Guilhon ficou chateado com o jogo. Estava aberto o caminho para o grande título tricolor de 1980.

Isso tudo tem mais de 40 anos e, para quem não viu ou não se interessa, talvez não tenha sequer existido, mas não: existiu sim. Troca de goleadas no Clássico Vovô. No fim deu Flu na cabeça, campeão absoluto sobre o timaço do Vasco. Hoje tem jogo, super jogo. Bem podia ser com a gente disputando o título, mas não quiseram…

Infelizmente o meu pai não está mais aqui, mas eu sinto sua mão apertando a minha no Maracanã, aquele outro de glórias e histórias mis. Tudo bem, todo mundo só pensa no Boca Juniors em novembro, mas o Flu x Bota é agora, muito agora. Está muito vivo e logo mais tem clássico, o mais tradicional do incansável futebol brasileiro, justamente no aniversário de um dos maiores craques de todos os tempos, que vestiu as duas camisas: Didi.


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