Ao vencer o Internacional de maneira épica no Beira-Rio, o Fluminense volta a ser finalista da Copa Libertadores após 15 anos. Um jogo que não cabe em palavras, que a racionalidade não explica, e nem mesmo uma crônica de Nelson Rodrigues dá conta de explicar.
O Flu escreveu a história entre os 35 e os 41 minutos do segundo tempo. Uma noite memorável, bélica, uma belíssima página sendo feita. Ainda não chegamos ao “gran finale”, mas o Tricolor terá a chance de suplantar a velha nesga de fantasmas do passado.
O roteirista tricolor caprichou. Quis o destino que o Fluminense voltasse ao mesmo palco de uma das maiores injustiças da história do futebol. Aquele 2 de julho de 2008 deixou marcas. A marca da injustiça.
Tricolores do Céu e da Terra, vivos ou mortos estarão no dia 4 de novembro no Maracanã.
Chegou a hora da decisão. Hora de separar os homens dos meninos. É vencer ou vencer.
Do outro lado, um grande adversário. O Boca de seis Copas Libertadores, que chega à essa final em roteiro muito parecido com o da Itália jogando Copa do Mundo. Não joga um futebol vistoso, faz gol no apagar das luzes, vence nas penalidades, catimba daqui, dali. Vai se arrastando, mas chega. Não encanta, mas tem ao seu lado uma camisa pesadíssima, cheia de histórias e páginas imortais.
No primeiro jogo da semifinal, o Inter desperdiçou chances incríveis nos dois jogos. Na primeira partida, quando vencia por 2 a 1 e com um jogador a mais em campo, teve a chance de fazer o terceiro e não fez. O Flu se remontou de maneira épica e conseguiu o empate.
No jogo da volta, uma virada magistral com drama e superação. Fábio, que salvou em tantas batalhas, falhou, tropeçou em Nino e Gabriel Mercado fez de cabeça 1 a 0 para o Colorado. Mas o goleiro que tinha tudo pra ser vilão também salvou em cabeçada certeira de Luiz Adriano, quase no apagar das luzes na primeira etapa”.@
O Tricolor não se achava em campo, tinha dificuldades para tentar competir. Mas o termo estabelecido pelo saudoso cronista Nelson Rodrigues estava no Beira-Rio: o Gravatinha sobrevoou o estádio Beira-Rio na noite de quarta.
Diniz fez mexidas para a segunda etapa. Entraram Martinelli e John Kennedy nas vagas de Felipe Melo e Alexsander. Depois, Lima na vaga de Ganso. O contestado Yoni González no lugar de Guga. E, por último, Marlon na vaga de Keno para recompor o sistema defensivo.
Os gols tiveram a assinatura do estilo Diniz de jogo. Bola de pé em pé, passes verticais. Keno espeta uma bola, Marcelo dá um corta-luz genial, a bola sobra para Cano, com a defesa Colorada exposta. O camisa 14, que se destaca como artilheiro, também funciona como garçom. Ele avançou, escolheu a jogada perfeita, e com um passe magistral colocou John Kennedy na cara do goleiro Rochet. Renê tentando salvar, acabou entrando com bola e tudo.
Em todo roteiro de filme, o final é recheado de grandes emoções. Como um Rocky Balboa, que parecia derrotado, o Fluminense ressurgiu das cinzas no jogo. Conseguiu o empate quando ninguém imaginava. Mas o melhor ainda estava por vir. O segundo gol é de uma plástica impressionante. Nino sai jogando, avança, sem receber o devido combate, pois o Internacional sentiu o golpe. André recebe, passa para Germán Cano, que de primeira toca para Yoni González e corre para a área. O colombiano joga pra área, John Kennedy de primeira dá um leve toque de calcanhar, que desmonta por completo a defesa do time gaúcho. Ele, sempre ele. “Sabe de quem?” como diria Luís Roberto. Germán Cano fuzila e dá números finais ao jogo.
Esta semifinal de Libertadores entra para a lista dos grandes e memoráveis jogos da competição. Uma partida com nuances, reviravoltas, dramas, superação.
Entre tantas palavras, a classificação do Fluminense pode ser citada como um ato de resiliência, ou de coragem. Não é errado dizer que o Tricolor chegou a estar virtualmente eliminado no Maracanã, mas resistiu ao encontrar um gol decisivo de Germán Cano. Também não será um erro dizer que o Internacional foi muito superior no Beira-Rio e poderia ter matado o confronto duas vezes com Enner Valencia, mas não conseguiu.
A tática, a técnica, a física, a matemática e até a parte anímica não dão conta de explicar. A classificação do Flu pra mim é algo espiritual. Transcendental.
Como explicar o goleiro Fábio, que falhou no gol do Internacional, virou herói com um milagre nos minutos finais? Como explicar que Yony González, uma das contratações mais criticadas desta janela de transferência, teve participação efetiva no gol da virada do Fluminense? Durante seis minutos, Tricolores e Colorados dividiam sentimentos que não se unem. De um lado, a euforia total. Do outro, a frustração.
Certo é que o Fluminense terá a sua revanche pelo título da Libertadores. É hora de transformar a dor em glória. É hora de reescrever a história.
Pra cima, Fluzão!