O Fluminense entra em campo na quarta-feira para jogar a partida mais importante de sua história em 15 anos. Trata-se do complemento de um jogo de 180 minutos. Nosso treinador jogou fora os primeiros 90 minutos. A vontade indestrutível e a dedicação comovente de nossos atletas nos permitiram sobreviver a uma escalação desastrosa. Impossível evitar a sensação de tristeza profunda diante da confirmação de quem iria a campo na quarta-feira passada. Eram 70 mil almas apaixonadas que, por conta daquela escalação irresponsável, seriam obrigadas a viver 90 minutos da mais absoluta provação. Fosse um jogo de basquete, teríamos perdido por 30 pontos. Era futebol. Temos jogadores imensos, um dos elencos de maior caráter que já fomos capazes de reunir. Eles deram um jeito de evitar que tudo acabasse ali. Sobrevivemos.
De quem é o mérito maior por termos chegado até aqui e reunido este grupo admirável? Do próprio Diniz. Não teríamos chegado até aqui sem ele. O registro é importante porque não se pretende aqui fazer tábula rasa de tudo o que ele construiu. O próprio Diniz é certamente alguém de caráter, uma liderança que aglutina e que abraça seus jogadores longe da vista do público. Mas Diniz precisa resolver questões de personalidade que no final da linha sabotam seu próprio êxito. A razão só o próprio Diniz poderá um dia encontrar. Evidentemente é algo que ele não enxerga. Se enxergasse, não o faria. Se estivesse consciente disso, já teria outras faixas de campeão no peito. O problema é que a autossabotagem de Diniz agora nos atinge. O que ele está fazendo é destruir nosso sonho, seu próprio sonho. A sensação é de que isso se dá em razão de ego, soberba, vaidade. Ele parece estar menos preocupado em ganhar o título mais importante de sua carreira do que se provar um visionário, um gênio, alguém que vislumbrou o resgate de um 4-2-4 amalucado 60 anos depois que o sistema de jogo foi abandonado.
Por conta da personalidade de Diniz, este texto não se dirige a ele. Seria totalmente inócuo. Este texto é um apelo aos jogadores, à diretoria de Futebol, à diretoria de Planejamento, a todos os que tiverem alguma possibilidade de influenciar a decisão de quem irá a campo em Porto Alegre.
Com bastante objetividade:
1. Diogo Barbosa tem de jogar. Ele está melhor do que Marcelo, compõe melhor a linha defensiva, está apto a marcar e combater.
2. Alexsander foi PROTAGONISTA nas melhores atuações do Fluminense em 2023. Diniz não sabe. Alguém precisa mostrar a ele. Peguem vídeos dos jogos contra O Flamengo (4×1) e contra o River Plate. Mostrem lances das recentes partidas contra Cruzeiro e Internacional. Em cinco minutos Alexsander faz o que Ganso não faz em 5 meses. A escalação de quarta-feira deixava André com o desafio de ocupar um latifúndio à frente de nossa área. O meio de campo do Inter conta com 4 jogadores que realizam muito bem todas as funções requeridas para o setor. Diniz talvez não os conheça. São eles: Johnny, Aránguiz, Maurício e Alan Patrick. Exibam lances de Alan Patrick neste ano. Ele é um ponto de desequilíbrio. Não pode jogar sem marcação. Ao menos Alexsander precisa estar ali ao lado de André.
3. JK é excelente jogador, contundente, agudo. Mas é banco. Por uma razão: se escalado de início, fecha-se o espaço para um terceiro homem de meio de campo.
4. Felipe Melo fez partidas consistentes ao longo do ano e é uma liderança. Mas as últimas atuações foram pavorosas. Marlon entrou bem na quarta-feira. Está em melhor momento. Que seja escalado.
5. O time é Fabio, Guga, Nino, Marlon e Diogo Barbosa; André, Alexsander, XXXXXX; Arias, Cano e Keno.
O “X” da escalação no lugar daquele que seria o terceiro homem de meio de campo fica a critério do treinador. Martinelli? Leo Fernández? Marcelo deslocado? O próprio Ganso? Diniz escolhe. Ao menos a defesa estará composta e André não estará sozinho. A escalação já estava errada contra o Olímpia. Vencemos em razão da fragilidade dos paraguaios e da suspensão de Marcelo. Agora não será possível avançar com André e Ganso no meio de campo e um lado esquerdo defensivo que soma 75 anos (Felipe Melo e Marcelo). Entramos sem defesa no Maracanã. Agora será fatal. Diniz perdeu um Brasileiro ganho pelo São Paulo porque insistiu com Daniel Alves no meio de campo. Nós vamos precisar combater fortemente em Porto Alegre. Com o time que iniciou no Maracanã, não combateremos.
Queremos 90 minutos que permitam a nossos jogadores competir em pé de igualdade contra um adversário forte em sua casa. Não esperem da mídia um tom como o desse texto. Diniz chegou a ser elogiado por sua coragem no Maracanã. Coragem é barrar Daniel Alves, Felipe Melo, Marcelo, Ganso, seja quem for. Coragem é escalar quem está melhor. Isso é ser corajoso. Talvez este seja um dos problemas de Diniz. Ele é pouco corajoso com os medalhões e por vezes duro demais com os mais jovens (e humildes), caso do excelente Tchê Tchê. (No Fluminense, à beira do campo, as cobranças mais fortes se dirigem a Alexsander, o jogador a quem ele deve a conquista do único título de sua carreira.)
Fomos eliminados da Copa do Brasil no ano passado em Itaquera sem entrar com a melhor formação possível. Agora somos mais fortes. Temos nosso melhor time em 40 anos. Não será fácil reunir um grupo tão fantástico de novo nos próximos 10 ou 20 anos.
Ainda dá, mas não com o time que entrou em campo no Maracanã.
Jogadores, Angioni, Fred, posicionem-se! Vocês devem isso ao Fluminense e a vocês mesmos.
A hora de falar é agora.
Extraordinário, Raul.
É exatamente isso que precisa estampar na cabeça de Fernando Diniz.
Excelente! E parafraseando o Andel no título do mais recente post: “Antes que seja tarde”!
Perfeito.