Amigos, amigas, esse que vos escreve é um tricolor saudoso, quase nostálgico. Que guarda na lembrança aquele domingo do segundo jogo das finais do Flamengão. Que, perdendo de 2 a 0 para o time mais caro do Brasil, então campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, foi para o Maracanã com a certeza da conquista do bicampeonato na mente e no coração.
Desde 2022, a espera pelos jogos do Fluminense era uma espera ansiosa, quase sufocante, como a de quem vai ao primeiro encontro com a namorada dos sonhos. Não era só o encontro com a grande paixão, era a expectativa de vivenciar momentos mágicos de um futebol envolvente, bonito de se ver e assaz competitivo. Contagiante!
Hoje a expectativa é diferente. É a expectativa da dúvida, do não saber que tipo de roteiro está sendo concebido. A única certeza é a de não ter certeza de nada. É quase como ver uma escola de samba apontando no início da avenida. Pode ser uma maravilha ou um tremendo desastre, como foi minha Portela esse ano.
O que está acontecendo com o Fluminense? Temos o mesmo técnico e os mesmos jogadores, agora com o time até reforçado, dono do, talvez, mais rico elenco em recursos humanos no Brasil.
Podemos atribuir parte da explicação ao sumiço de Paulo Henrique Ganso. O Ganso, que disse que estava recuperado e, depois de um mês de ausência, pronto para voltar com tudo ao time. Era um sopro de esperança de reencontrarmos aquele futebol que amedrontava os adversários. Qual nada, Ganso foi, diante do Inter, um peso morto em campo, mas o pior de tudo foi a escolha de Alexsander para ser o substituído pelo craque em aparente processo de extinção.
Não sei se os amigos e amigas são como eu. Ao olhar uma escalação, eu consigo antever o que vem pela frente, quase nunca errando no prognóstico. E qual era o prognóstico para a noite de quarta-feira? Muito sofrimento e o risco de um desastre. Tentei esboçar esse sentimento em minha participação no pré-jogo do PANORAMA. Só esboçar, para não alarmar ninguém.
Fluminense escalado com quatro atacantes mais uma vez. Alexsander, um ótimo volante, dinâmico, marcador e ofensivo, substituído por um Ganso voltando de um mês parado. Um lado esquerdo defensivo com Felipe Melo e Marcelo, um verdadeiro convite aos ataques inimigos. Como isso poderia dar certo?
Deu. E o pior é que deu, porque o errado nessa história seria a vaquinha ter ido para o brejo, algo que esteve muito próximo de acontecer. Se Diniz caprichou na receita do desastre, coube a Fábio, Germán Cano e Coudet evitá-lo. Fábio, com suas defesas, Cano, com seus gols, e Coudet, ao fazer substituições que tornaram o Inter inofensivo no ataque, permitindo que o Fluminense saísse das cordas após os 20 minutos iniciais de sufoco na segunda etapa.
Diniz teve na arbitragem um meio aliado, fosse pela expulsão estúpida de Samuel Xavier, fosse por dar três minutos de acréscimos no final do primeiro tempo e permitir que acontecesse o gol de empate do Inter no quinto desses três minutos. Por outro lado, para compensar, anulou gol legal, na minha opinião, de Mercado, quando o jogo ainda estava com o placar de 1 a 1.
Como em outras ocasiões, o Fluminense chega até aqui como um sobrevivente na Libertadores. Um sobrevivente que tem tudo para superar o Inter em Porto Alegre e ser campeão da América do Sul, mas um Fluminense que se sabota na hora em que as grandes oportunidades lhe sorriem. Temos técnico e time para estarmos comemorando agora uma vitória avassaladora, como já aconteceu em outras ocasiões, mas eu terminei o jogo eufórico porque sobrevivemos a uma tentativa de suicídio.
Diniz tem tudo para ser o grande herói dessa trama delirante, mas, em estado de delírio, flerta escandalosamente com o papel de vilão. Onde morava a sabedoria fixou moradia a toleima e a soberba, essa visível até nas entrevistas. Erra, brinca com o sonho de milhões, transforma nossos sonhos em desalento e não aceita ser questionado por suas escolhas.
O tempo passa, a memória é curta, mas eu não vejo nesse Fluminense o time que aprendi a admirar. Tem lá suas qualidades, jogadores de altíssimo nível, mas um futebol de time comum. Dizem que Diniz se reinventa, que a cada dia encontra novas variações táticas e até conceituais. Falam tais blasfêmias como vislumbrando respostas às suas vãs convicções, mas o que vai ficando pelo caminho grita, ao ponto de ensurdecer aqueles que não ficaram cegos.
Sobrevivemos onde era para sermos protagonistas, mas até quando? Podemos passar pelo Inter em Porto Alegre e ganhar a Libertadores mesmo com todas essas bobagens, mas isso não fará com que deixem de ser bobagens. O Fluminense não é laboratório, Diniz. É a paixão de milhões de pessoas. Convicções incapazes de serem nutridas pelos fatos apenas devem ser identificadas como estupidez ou má fé.
A vaidade faz parte da construção do nosso lugar no mundo. Quando ela sobe para o topo da nossa capacidade de percepção e interpretação das coisas e de nós mesmos, o resultado é a cegueira. Sabe o que acontece com os cegos quando diante de uma travessia? Tropeçam e caem.
Eu, como os outros milhões de tricolores, só tenho de cego a paixão pelo Fluminense. Dá uma força para a gente, escala esse time direito e vamos atropelar o Inter dentro do Beira Rio. Isso não lhe parece uma boa ideia? Mas não sem antes lembrar de fazer o mesmo contra o Cuiabá, porque ainda dá para ganhar o Brasileiro, porque nem só de obsessão pela Libertadores vive o homem. Ainda mais o Fluminense, que está acima de todos os homens.
Não decepcione, Diniz, quem sempre acreditou em você!
Saudações Tricolores!