O rei Midas, personagem da mitologia grega, tinha um poder singular. Tudo o que ele tocava, virava ouro. O que era privilégio, com o tempo se transformou em maldição.
Mas não é do Midas original que pretendo falar, e sim dos raríssimos Midas do futebol que transformam em ouro quase tudo o que tocam, seja na forma de pepita, veios ou aluviões.
Não há muitos Midas no futebol, mas é preciso reconhecê-los. E sobre eles não paira maldição alguma.
Rivelino era Midas. Com uma patada atômica e um elástico, imortalizou-se na galeria dos grandes jogadores do futebol brasileiro. Ainda hoje, rever jogos do Bigode é uma grande aula.
Ronaldinho Gaúcho era Midas. Artista dos campos e da bola, fez mágica por anos nos gramados do Brasil e do mundo. Poucos foram tão geniais.
Pelé, o rei de todos os Midas. Dispensa comentário por ser o maior gênio da história do futebol mundial. Ensinou muito, a muita gente.
Maradona era Midas. Célebre, habilidoso, driblador, craque da bola, foi um dos maiores de todos os tempos. Nem sua extravagante personalidade ofuscou o brilho do seu ouro.
Messi, outro argentino genial, é igualmente Midas. Paro tudo para ver Messi jogar. Rápido, habilidoso, genial, criativo, goleador, precioso. É ouro em estado puro.
Romário foi Midas. Decisivo, goleador, letal, habilidoso, gênio da bola que deixou o Brasil a seus pés em várias ocasiões.
Garrincha, a lenda. Tamanha habilidade poucos tiveram. Fenomenal, jogava bola como quem estivesse brincando no campinho de várzea, naquela infância pobre de Magé/RJ, onde nasceu. Se Romário deixou o Brasil a seus pés, Garrincha deixou o mundo.
Acho que cabem, ainda, nesse catálogo Tostão e Cristiano Ronaldo. Dois craques nas suas respectivas épocas, congraçam habilidade e elegância.
Fato é que todos esses jogadores possuem uma característica em comum: deixam a sensação de que jogar futebol, dar passes geniais, desorientar a marcação adversária, driblar e fazer gols, são atividades fáceis. É o famoso “fazem parecer fácil”.
E talvez eu cause celeuma, mas nessa lista quero incluir dois jogadores que atualmente ampliam o tamanho do Fluminense: Paulo Henrique Ganso e Marcelo.
É bonito demais ver Ganso jogar; quando ele joga bola para valer, é o mais hábil e elegante meia do futebol brasileiro. Lamento, apenas, sua inconstância contumaz.
E Marcelo? Assim como faço em relação a Messi e Ganso, paro tudo para vê-lo jogar. Marcelo é um craque raro. Jogar bola parece fácil, o que é trabalho vira uma brincadeira e o que é habilidade vira espetáculo. No caso de Marcelo lamento, apenas, suas limitações físicas. Ainda assim, sua presença em campo eleva o Fluminense de Diniz a um outro estágio de futebol.
Contudo, a maior diferença entre Ganso e Twelve é que o segundo é mais Midas. Sua qualidade se alia à sua influência no futebol mundial, o que o transforma em fortuna. E se o catálogo construído nessa coluna é feito de raridades, o Fluminense tem seus privilégios.
Não vejo a hora de ver os Reis Midas em campo, mais uma vez.