O que parecia ser um jogo normal acabou se tornando o último capítulo de uma história de décadas. Foi o que aconteceu no Estádio Manoel Schwartz em 22 de julho de 1970, um dia após o aniversário de 68 anos do Fluminense, diante de pouco mais de 3.000 espectadores numa noite de quarta-feira.
Na ocasião o Flu recebeu o Olaria pelo Campeonato Carioca. Antes da partida, a coisa não estava muito boa para o lado tricolor. O treinador Paulo Amaral, já preocupado com alguns desfalques do time, especialmente do goleiro Félix, ainda reclamava das condições do gramado das Laranjeiras e da iluminação precária, ainda mais para um compromisso noturno, em matéria do Jornal dos Sports.
Vindo o jogo, o grande destaque da partida foi o goleiro Pedro Paulo, que fez pelo menos três defesas sensacionais para o time do Olaria. Por sua vez, o time alviceleste marcou seu gol aos 20 minutos do primeiro tempo, em falta cobrada pelo zagueiro Altivo, com a bola tocando no travessão, entrando e saindo subitamente, mas confirmada pela arbitragem. Um chute de longe, da intermediária, sem barreira pelo pedido do jovem goleiro Jairo. O revés levou o Tricolor aos chuveirinhos, sem sucesso. No segundo tempo, com as entradas de Silveira e Mickey, o Fluminense melhorou, pressionou mas continuou a esbarrar em Pedro Paulo.
Enquanto o Flu tentava igualar o marcador, a beira do campo sucedeu um fato trágico aos 25 minutos do segundo tempo: José Jesus Herculano Ferreira, ex-diretor de futebol do clube que acompanhava o jogo na pista de atletismo, passou mal, sofreu um infarto fulminante e, apesar de imediatamente socorrido pelo Departamento Médico, veio a óbito. A notícia da morte causou grande consternação no universo tricolor.
A soma das condições do gramado, a questão da iluminação, o mau resultado e, por fim, a morte de Herculano formou um bloco intransponível de rejeição imediata ao Estádio das Laranjeiras. No dia seguinte à derrota, o diretor de futebol João Boueri ratificou a decisão tomada ao término da partida: o Fluminense não aceitaria mais jogar em seu estádio, nem que para isso tivesse que ser alijado do Campeonato Carioca. A decisão foi comunicada a Otávio Pinto Guimarães, então presidente da Federação de Futebol da Guanabara. Não foi cogitada qualquer obra de melhoria no estádio tricolor.
O que parecia uma irritação passageira, que talvez durasse alguns dias, se transformou numa interminável noite. O Fluminense não disputou mais nenhum jogo oficial em seu estádio até 1986, quando as reformas promovidas pelo presidente Manoel Schwartz reabilitaram o campo onde, por sinal, o Tricolor possui excelente aproveitamento histórico. Mais de cinquenta anos depois, o gol de Altivo e a morte de Herculano ainda são lembrados pelos veteranos tricolores, enquanto o mais tradicional estádio de futebol do Brasil aguarda pela reabilitação definitiva, paralisado que foi novamente no século XXI.
GET – Grupo de Estudos Tricolores
Pesquisa e redação: P. R. Andel