Nesta quarta-feira, um dia após o Fluminense se classificar às quartas-de-finais da Libertadores da América, aguardando seu adversário que será apurado do confronto desta quinta-feira entre Olimpia e Flamengo, uma matéria do Globo Esporte, emocionante, nos chamou a atenção. A mim então, com impacto e emoção.
Trata-se de Julio Drummond, um grande tricolor e fundador da Torcida Axé Flu, que foi acometido por uma doença degenerativa: esclerose lateral amiotrófica (ELA). Julio foi levado desde o Espírito Santo até o Maracanã por seu filho Ricardo, em uma viagem de mais de oito horas de carro.
Foi impactante revê-lo, eu que não tinha contato desde o dia cinco de dezembro de dois mil e dez, quando o Fluminense venceu o Guarani por um a zero no Engenhão e ficou com o título do campeonato Brasileiro, completando seu Tri na competição.
Foi a última vez que trocamos palavras, nos abraçamos e comemoramos o triunfo, a glória de ser tricolor. Com um significado especial: estivemos juntos um ano antes, no Couto Pereira, a testemunhar o milagre que foi ver o nosso Fluminense livrar-se do rebaixamento e passar momentos de muita tensão e fazia do estádio, um verdadeiro campo de batalhas.
Recordo com um misto de alívio, apreensão e alegria daquele dia. Tivemos de remarcar a viagem para a madrugada, pois com o episódio dantesco, só fomos liberados cerca de duas horas depois de a Polícia do Paraná evacuar as ruas de torcedores da equipe da casa.
Passada a epopeia, buscamos algum lugar seguro para que as horas pudessem passar enquanto conversávamos, contávamos histórias e confraternizávamos, tudo irradiado de Fluminense e amizades.
Julio tratou de pedir uma carne de onça, prato típico da culinária curitibana, basicamente uma iguaria de carne bovina crua com temperos misturados na mesa mesmo, uma maravilha.
Enquanto beliscávamos o petisco e suavizávamos com umas bebidinhas, muitas histórias foram contadas, tantas aventuras, muitos momentos marcantes.
Passadas algumas horas, sendo gentil como sempre, Julio oferecera abrigo em sua reserva até que desse o horário de embarcar de volta a São Paulo, onde morávamos nessa época.
Havia alguns anos, eu tentava encontrar vestígios do velho amigo, cujos textos eram ótimos. E foi através dele que conheci tantos autores de crônicas e textos tricolores, como o que viria tornar um amigo: Paulo-Roberto Andel. Tudo isso através de trocas de listas de e-mails, basicamente usado como um fórum de discussão, alimentado por Julio, sempre ativo e disposto a trazer temas para debates.
As coisas da vida nos fazem distrair e afastar de tanta gente querida, tantos amigos, tantas alegrias. Julio foi uma dessas pérolas que tive o prazer de conhecer e desfrutar da companhia em fóruns, estádios, resenhas e compartilhar torcida pelo mesmo Fluminense, um grande amor.
Terrível saber da doença que acometeu o memorável e intelectual Julio Drummond, mas também muito legal ver o seu sorriso e sua alegria vividos na última terça-feira em um Maracanã lotado, na companhia de seu filho: uma história emocionante que precisa terminar em final ainda mais épico e feliz, com a conquista da Libertadores, para que todos possamos juntos brindar essa vitória.
Foi muito bom te rever, Julio, saber que está por aí, fazia tempo não tinha nem vestígios seus. Alguém que eu sempre guardei na memória com respeito e admiração, mesmo nosso contato não tendo sido mais longevo, ele foi sempre especial.
Um grande abraço a ti e à família, muita força nesse porvir, seremos campeões.
Saudações Tricolores, Vitória Sempre e Axé!