João Saldanha e Assis 1983 (da Redação)

A crônica antológica de João Saldanha no Jornal do Brasil, após o Fla x Flu pelo triangular final do Campeonato Carioca de 1983, com a vitória tricolor por 1 a 0, gol de Assis no último segundo. 

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O GOL DE TRÊS Ó, Ó, Ó

Final dramático e que deixou muita gente sentada, calada e pensando. Não foi no minuto final que o Assis fez o gol: foi no segundo final. Alguns repórteres e fotógrafos já estavam pelo menos um passo dentro das quatro linhas; Arnaldo já tinha dado aquela olhadinha no relógio; naquele grandão, no do placar eletrônico, se via o número 45. Aconteceu, ou não, o tal impedimento do Adílio. O bandeira marcou, o jogo deu uma paradinha, alguns jogadores do Flamengo reclamavam e nossos repórteres mais vivos não perderam tempo. Antônio Luís, da Rádio Tupi, jogou-se ao solo e entrevistou o Carbone. “Como é, Carbone, está triste?”. O Carbone respondeu: “Estou apreensivo, mas o jogo ainda não acabou e podemos fazer o gol…”

Doalcei Camargo entrou em cima desta fala e deu o brado: “Lá vai Assis, pode marcar, atira… Gooooool… Gooooool do Fluminense… Terminou a partida. Quando eu estava saindo veio um chapinha, ex-companheiro do tempo de Rádio Globo, tricolor matriculado. Esfregava as mãos e entregou: “Você sabe? O Kléber estava dizendo ‘Com esse resultado o Fluminense já caiu fora do campeonato que vai ser decidido entre Flamengo e…”. O Curi entrou em cima e berrou: “Assis atira… é gooool!” O coleguinha comentou, gozador: “O Curi só deu um gooool de três os. Como você sabe, tem certos gols de certos times que ele dá dezessete: “Gooooooooooooooooool” e repete.

Pois é assim, futebol tem de tudo. Somente o Raul, com sua extraordinária experiência e frieza de grande goleiro, chamava a atenção de seus companheiros que o resultado eliminaria o Fluminense e depois seria tratado o caso do Bangu. Mas os outros achavam que dava. Foi todo mundo à frente, Mozer, Júnior. A jogada era tentadora e podia dar em gol. O Fluminense já estava fora com o empate. Com a vitória, o Bangu ficaria na maior dificuldade. Mas o jogo era lá e cá, disputado ferozmente e com muita garra. A técnica sofreu com isso e com a tolerância do Arnaldo.

Esta lei que faz diferença nos cartões, coisa ridícula dos rábulas brasileiros que querem mostrar serviço nos corredores das federações, fez Arnaldo livrar a cara de vários delinquentes. O jogo, quase uma briga de noventa minutos. As duas torcidas gritavam o tempo todo. Claro que os rubro-negros não gostaram do resultado, mas não saíram tristes. Foi um jogão de disputa quente, onde só a vitória interessou. Só não gostou quem não viu.

Não convidem para a mesma mesa o pessoal que foi à inauguração do Pierre Cardin. Pode desaparecer a mesa.

1 Comments

  1. Assis e Ezio, dois atacantes, goleadores, carrascos dos molambos, ambos nos deixaram precocemente. Permanece a saudade no coração tricolor e tristeza por terem nos deixado tão cedo. Toda celebração é homenagem não é demais pra nomes de tanta grandeza e importância em nossa história. Se o clube se omitir, que a iniciativa seja da galera. Saudações tricolores….

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