Os diversos acontecimentos ocorridos no Fla-Flu (alguns esperados, como a arbitragem tendenciosa) fizeram do primeiro duelo entre os rivais pelas oitavas da Copa do Brasil um prato cheio para discussões. Contudo, no mesmo dia do clássico, ocorreu um fato que me marcou profundamente: o falecimento do técnico Nelsinho Rosa.
“Não tem Zagallo, não tem Coutinho, o campeão é o time do Nelsinho”! O título carioca de 1980, o primeiro que assisti ser conquistado como adulto (tinha 16 anos, ora!), na arquibancada do Maracanã, é inesquecível para mim. E o comandante daquele jovem time, 80 por cento formado por pratas da casa, era ninguém menos que Nelsinho.
Com seu perfil calmo, sereno, porém seguro, ele era um doce de pessoa. Educação e fidalguia ímpares. Em 1985, retornaria ao clube para conquistar o tricampeonato estadual. É um dos técnicos tricolores que moram na minha memória afetiva, no meu coração.
Tenho uma passagem interessante da vida na qual Nelsinho foi personagem. Quando moleque, eu não era muito afeito aos estudos; costumeiramente matava aulas para assistir os treinos do Fluminense – fui criado e morei a maior parte da minha vida no bairro de Laranjeiras.
Um dia, meu pai, que por algum motivo estava de folga no trabalho (ou seria de férias?), desconfiado, foi ao clube numa manhã daquelas que eu costumava gazetar ao invés de assistir aula. Para minha sorte, naquele dia “resolvi” tomar o rumo do colégio.
Mesmo não me encontrando lá, meu pai deixou visível sua irritação. Que foi percebida por uma pessoa de temperamento cordial: conversou com ele, o acalmou, lembrou que aquelas coisas faziam parte da juventude. Era ele mesmo, Nelsinho.
Pois bem, meu saudoso pai chegou em casa mais tranquilo. Anos depois me relatou o fato. Se Nelsinho já era meu ídolo, imagine o quanto essa passagem amplificou o sentimento que eu já nutria por ele.
Por isso, quando foi campeão brasileiro pelo Vasco, em 1989, fiquei feliz por ele. Já em nível profissional, tivemos muitas conversas quando comandou as divisões de base do Madureira, seu clube de coração. Inclusive, relatei a passagem com meu pai a ele. Que garantiu se lembrar de tudo.
Vai com Deus, Nelsinho, muito obrigado pelas cores com as quais ajudou a pintar alguns dos doces momentos da minha juventude. Sua passagem, para mim, ofusca qualquer Fla-Flu. Que possam surgir outros como você.