1985: é tri! (por Paulo-Roberto Andel)

Depois de tantos anos, ainda há detratores que perdem seu tempo desancando o Fluminense por conta da final histórica contra o Bangu em 1985. São os mesmos cuja miopia mental não permite enxergar que, uma semana antes daquele jogo, o “todo-poderoso” favorito ao título era o Flamengo. Tinham empatado conosco no último minuto, golaço de Leandro, comemoraram o pré-campeonato como nunca. Vinte e sete anos depois, completados hoje, as lembranças são vivas.

Mas aconteceu que no meio do caminho tinha o Bangu. Um senhor time. Moça Bonita veio com tudo, passou por cima da Gávea e chegou à final com a vantagem do empate.

Mal começou o jogo, o Bangu marcou primeiro. Ficou mais favorito ainda e virou o primeiro tempo com a vantagem. Para piorar, estávamos sem Benedito de Assis em campo, ele que tinha pavimentado as conquistas de 1983 e 1984, por contusão no joelho.

O Fluminense voltou a campo respirando cada segundo da frase do eterno Presidente Horta: vencer ou vencer.  E foi o que fez. Com garra e talento, quase caindo, Romerito empatou o jogo aos 18 do segundo tempo. A virada veio a quinze minutos do fim, através de um craque formado nas divisões de base do clube, Paulinho, ponta-esquerda reserva de Tato, atacante de velocidade e talento que entrou em campo para incendiar a partida. Até falta resolveu cobrar, para desespero de Jandir, o potencial cobrador que, inclusive, partiu para a cobrança. Um segundo depois, bola no alto, entre o meio do gol e o lado direito, o grande goleiro Gilmar completamente batido e a virada do tricampeonato estava escrita.

Na tribuna de honra, o Kaiser Franz Beckenbauer – supercraque e então treinador da seleção alemã, além de relações-públicas da adidas – disse o seguinte em depoimento a Oldemário Touguinhó, do Jornal do Brasil: “O Fluminense venceu pelo espírito de equipe de seus jogadores. Ninguém procurou jogar para si e ninguém perdeu os nervos no segundo tempo, tentando resolver a situação individualmente. Todo mundo jogou para o conjunto. Foi uma final tipicamente sul-americana. Eu, que sou amante do futebol brasileiro, adorei assistir à partida, porque uma final como esta exibe jogadas de técnica, de habilidade. Vi uma série de lances assim. Como treinador, não gosto de destacar valores individuais, mas não posso deixar de homenagear dois jogadores – Marinho e Romerito- pelas jogadas bonitas que fizeram. No primeiro tempo, o Bangu esteve muito bem, mas o que me impressionou foi a força do time do Fluminense quando voltou do intervalo. Notava-se que era um time esquematizado para vencer, com os jogadores mentalizados para vencer. Foi tão forte o Fluminense que o Bangu não conseguiu acompanhar o ritmo. Não acredito que o Bangu tenha cansado, ele simplesmente não resistiu à força do Fluminense. Quanto ao pênalti, prefiro não comentar. Acho que a beleza da comemoração da torcida apaga o que houve de ruim dentro de campo.”

Muito já se falou sobre o fim do jogo, se houve pênalti ou não, se o jogo já tinha sido encerrado por Wright ou não. Uma coisa poucos comentaram: se realmente o pênalti fosse marcado (caso o jogo não tivesse acabado, segundo a versão do árbitro), quem poderia dar a certeza de gol contra ninguém menos do que Paulo Victor? E mais: essa partida precisa ser valorizada à altura. Não houve um “acidente” que levou o tricampeonato para as Laranjeiras; acima estão as palavras de Beckenbauer, para rei nenhum botar defeito.


Paulo-Roberto Andel

Com a colaboração de Eugênio Castro

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Contato: Vitor Franklin

4 Comments

  1. Wrigh acompanhava jogada que se desenrolava no campo do Bangu. Quando Paulinho perde a bola próximo a linha de fundo do ataque tricolor, um jogador do bangu dá um chutão para frente, originando o lance polêmico. Segundo o jornalista Loreiro Neto, que trabalhava no campo nesse jogo, Wright, que era disciplinador, tenta intervir na discussão que começa entre Paulinho e o jogador do Bangu que lhe roubou a bola. Resultado: além de estar muito longe da meta tricolor ele estava de costas para o lance na hora que Vica derruba Cláudio Adão. A verdade é que ele não viu o lance. Assumir isso é difícil. A solução foi dizer que acabou o jogo antes. Isso já é folclore do futebol carioca. Sou apaixonado por esse jogo. Sempre que posso o revejo no youtube.

  2. Portanto tenho 27 anos como torcedor do Fluminense, me tornei tricolor assistindo este jogo, pra mim, inesquecível!

  3. São as carpideiras contumazes, viúvas de títulos alheios. Assim como esse jogo, outro que a cachorrada vira e revira para lamentar é aquela final de 1971. O time alvinegro, cheio de estrelas, se acovardou em campo e foi completamente dominado pelo Flu. Se não me engano, 4 rodadas antes tinha 5 pontos de vantagem, perdeu dois jogos antes do jogo final, precisava de um empate, caíram na defesa e se fu. Vivem a vida chorando como viúvas inconformadas. Aliás, vivem do passado, a começar pelo hino (campeão de 1910 – depois mudaram para desde, mas letra original é de 1910).

  4. Caro Andel,

    Sempre muito bom ler suas crônicas que abordam temas e momentos históricos de nosso imenso Fluminense.

    Geralmente, concordo com suas colocações.

    Porém, desta vez ouso discordar da propalada polêmica sobre a existência do pênalti no Cláudio Adão aos 45 minutos do segundo tempo. Se houve ou não, se já tinha sido encerrado o jogo ou não… isto é secundário.

    O mais importante e que NINGUÉM fala é sobre o pênalti clamoroso que o zagueiro Oliveira cometeu ao espalmar a bola sobre a linha do banguense, após violento chute do Jandir, da meia lua da área. Este episódio ocorreu quando a partida estava 1a1 e foi INDISCUTÍVEL!

    Logo, não há que se falar em pênalti não marcado para o Bangu, mas pênaltis não marcados para Fluminense e para o Bangu. Ou seja, nosso querido Fluminense foi campeão de forma isenta e honesta. Diferentemente de certos clubes que sua história mais parece um mar de lama.

    ST, Luiz.

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