Há pouco, desci à padaria e, passando pelo bar da esquina, rua Henrique Valadares, dia morno e de ruas vazias no centro do Rio, três corinthianos abraçavam-se no intervalo da partida de hoje. Identifiquei-os, claro, porque vestiam a camisa alvinegra. Tinham sotaque. Não, nenhum arroz-de-festa.

Ninguém ganha o mundo duas vezes à toa. É um longo caminho.

Numa partida dura, difícil, onde foi superior mas viu o Chelsea ameaçar com várias finalizações perigosas, merecidamente o Corinthians colocou no peito a segunda estrela mundial de nossa história. E fez seu gol da maneira mais corinthiana possível, numa jogada sofrida, tortuosa, chancelada por um jogador guerreiro até no nome. Guerreiro como tem que ser todo jogador que veste a camisa de corpo e alma. Quanto deste gol de Guerrero não tem de Basílio 77?

E venceu porque tem um goleiro que praticamente pegou três pênaltis numa final de mundial: foi o que Cássio fez, sem apelação. Um herói sem gestos espalhafatosos, sem falácias, um trabalhador.

O Corinthians venceu porque fez jus aos milhões de proletários que estão em sua torcida apaixonadamente, a cada dia: cada jogador foi um peão faminto diante de um prato de comida, depois de horas de trabalho e com mais horas à frente. Um time de qualidade, talento, mas principalmente de proletários da bola. O time que honrou do Brás a Parelheiros, do Bom Retiro a São Miguel Paulista, muito mais do que isso, aliás. Em campo, viu-se ecos dos trens lotados, da 25 de março a todo vapor. A Sé. Avenida São João. Mas que também ninguém se iluda: quem tem dezenas de milhões de torcedores não está limitado a apenas uma parcela da população.

Hoje, com toda dignidade, venceram o mundo outra vez. Duas vezes no céu. É merecido, justo e mais fiel do que tudo.

Agora, para mim o maior de tudo neste dia não é exatamente o segundo triunfo mundial do Corinthians – como grande time que é, isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Há algo acima desta conquista planetária a meu ver. Falo do amor. Sim, o amor que milhões mostraram hoje nas ruas do Brasil, do Japão, no estádio de Yokohama e todos os arredores possíveis.

A torcida do Corinthians pode caber num país continental como o Brasil. E até espalhar-se e fazer barulho do outro lado do mundo, como se viu hoje. Caber em estádios abarrotados. Agora, o amor dela…

É coisa que ainda precisa ser estudada por intelectuais das outras sociedades galácticas. Na Via Láctea, o amor dos corinthianos definitivamente não cabe. É dos outros mundos.

O que são as figuras de Sánchez, Ronaldo e outrem diante do amor de milhões? Monstros são Paulinho, Guerrero, Tite, Cássio, Paulo André.

Esqueçamos quaisquer rusgas. E mesmo rugas.

Hoje, amigos, o amor venceu na Terra. Em preto e branco, porque o amor, tão desperdiçado por conta de ódios, injustiças e ganância, até parece coisa de antigamente. Mas não é.

O amor está nas ruas do Brasil. Hoje. Agora.

Parabéns, Fiel! Hoje, o mundo é todo teu.

Um grande abraço. Ano que vem a gente se encontra.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

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