“Mário fez, Mário faz”, assim nos disse o jingle de campanha, ao final da palestrinha do atual mandatário tricolor e candidato, absoluto, à reeleição do Fluminense Football Club.
O lançamento de sua candidatura, de modo oficial, se deu no salão nobre das Laranjeiras, sede secular e homérica do Tricolor, com alguma pompa, mas também clichês, meio bregas, meio cafonas, tendo dúzias e dúzias de adeptos de sua gestão com camisa personalizada, escrita “Mário Bittencourt” e orgulhosos por partilharem das mesmas ideias, como nós ouvimos certa vez: “do presidente ao faxineiro”.
A abertura ficou por conta da entonação do hino em canto lírico. A cantora o fez acompanhada do famoso playback, para olhares, ouvidos e filmagens via aparelhos inteligentes de telefonia. Em uma das filmagens, foi possível ver faixas de torcidas organizadas debruçadas na frisa sobre o salão.
No palco, após a abertura, um tanto peculiar, Mário discursou solene, fez uma retrospectiva de sua gestão, apresentou o arquivo que chamou de prestação de contas, mas sem apresentar as contas de fato. Empolou-se como pagador de dívidas, disse que o BTG o ajudou a saber o valuation do Fluminense, mas preferiu não divulgar. Parece querer guardar esse e demais segredos para si e para os seus. Haja confidencialidade.
Já no início da transmissão on-line via seu instagram pessoal, os comentários foram desativados, impedindo os seguidores de se manifestar sobre o que discursava.
Algumas curiosidades apresentadas por Mário em seu mansplaining: disse que não fez promessas de campanha, mas sim propostas, dizendo que algumas ele conseguiria realizar e outras não. Sobre o voto on-line, verdadeira bandeira de campanha, desde dois mil e dezesseis, quando não venceu, escaramuçou dizendo que, para tal, teria de convocar uma constituinte para refazer todo o estatuto. Mesmo que fosse verdade, e não é, ele, como advogado, tendo sido inclusive do jurídico do clube, antes de se tornar presidente já deveria saber e, então, jamais se comprometer com o tema.
Seguiu sua oratória alegando que trouxe credibilidade ao Fluminense ao se comprometer em quitar cerca de trinta por cento do total da dívida. Mas como poderemos atestar se todos os balanços publicados são ressalvados? E, neste ano corrente, sequer publicou um balancete? Mais: não publicou nenhum dado sobre a real situação do clube. Continuou cobrindo tudo com narrativa impoluta e soberba, como de alguém que fala a uma plateia de idiotas ou asseclas.
Sobre a conquista do Carioca e a publicação do livro ‘oficial’ que o canta em verso e prosa, disse que não deveríamos desvalorizar uma conquista tão importante, mesmo ele prometendo que, mas agora fiquei na dúvida se não seria somente uma proposta, o Tricolor vencerá novamente o Carioca e também triunfará sobre a Libertadores em 2023, em um golpe de vidência e antevisão, deixando Zaratustra e Nostradamus com cara de picolé dragão chinês, desses que eram vendidos nos trens fluminenses nos idos dos anos 1980 e 1990 do século que passou.
Por fim, antes de entrar no mérito do jingle tocado nas caixas de som, enquanto abraçava sua família, e correligionários dançavam e faziam jograis demodês, Mário concedeu entrevista tal qual um player após uma grande atuação em ‘zona mista’. Falou que continuará o grande trabalho de reconstrução do Fluminense, contratará cerca de dois ou quatro jogadores de forma pontual, sabe se lá o que é isso. Disse que agora entram como sócios e não mais pedintes na disputa pela administração do Maracanã. Garantiu, com as próprias palavras, sem apresentar nenhuma prova, que o estádio não dá prejuízo, e sobre o puxadinho da SAF acerca das RCEs, disse ter equacionado as dívidas cíveis e trabalhistas, e que as penhoras se encerraram. Palavras dele.
A chapa denominada “Com amor e com vigor” terá o também advogado, Mattheus Montenegro, hoje vice-presidente de Relações Institucionais da gestão Mário e Celso, sem o Celso, que dia desses – Mattheus – deu esporro em torcedores do Fluminense que questionavam as manobras para fingimento de pagamento de dívidas cíveis e trabalhistas, mesmo sabendo que qualquer um de nós pode pesquisar na internet sobre o não depósito de FGTS de funcionários mais simples do clube, por exemplo.
Já Celso Barros, anunciou apoio à oposição, tendo inclusive pedido e defendido a união de chapas em prol de derrotar Mário e, agora, Mattheus no pleito que deverá acontecer em vinte e seis de novembro.
Como já abordado em partes, o gran finale ficou por conta da musiquinha de campanha tocada para encerrar e fechar o monólogo: “Com muito amor e dedicação, o trabalho tem que continuar. Mário fez, Mário faz, com vigor e coragem, vai fazer muito mais”, em outro trecho pudemos ouvir: “Todo jogo tem dois tempos, há muito a realizar, e na segunda etapa o Fluzão vai brilhar”.
Senti um tom de ameaça, principalmente sabendo que devem vir mais medalhões, mais jovens serão vendidos muito abaixo de seus valores de mercado, outros tantos sairão de graça ou serão cedidos a empresários amigos da gestão, via Angioni, Simone e “scout”.
Sensacional meu amigo.
“O que o Mário fez e faz”: É matar o torcedor Tricolor de raiva.
O Paraíso dos empresários continuará a todo vapor, com negociatas mil, que prolongarao carreiras de vários veteranos e servirão de fermento nas contas de todos envolvidos _ inclusive de quem, em tese, nem é remunerado _ e todos viverão felizes para sempre. Menos o torcedor. ST….
Parabéns pelo excelente texto.