O vaivém dos sentimentos tricolores (por Paulo-Roberto Andel)

Vamos lá: a vitória sobre o Junior e o empate diante do Palmeiras renovaram as esperanças dos tricolores, melhor dizendo, de boa parte da torcida em tudo.

Muito longe de ser brilhante, o Fluminense agora tem até jogada ensaiada e, diante da aridez tática das últimas temporadas, não deixa de ser um alento. Pode ser uma tendência de alta, a conferir. Ué, como pode ser? Não é? Pra mim ainda não, por um simples motivo: a insuficiência de série histórica que justifique a melhora real. Prefiro esperar um pouco para não cair no vaivém dos sentimentos tricolores, onde o céu vira inferno de quarta para domingo e, a seguir, volta a ser céu na quarta seguinte.

Diniz é amado e odiado na mesma proporção. Como começou bem, os críticos estão em silêncio. Não faço parte dos que o odeiam, longe disso, mas quero ver uma sequência de grandes atuações para falar de uma palavra tão banalizada no futebol: trabalho.

O torcedor tem todo o direito de elevar sua paixão à máxima potência. É justo. Tudo bem que o título carioca não fez ninguém chamar o time de Nova Máquina. Ok, celebremos, mas o cronista que pretenda ter mínimo reconhecimento profissional precisa deixar o coração de lado, comentando o que vê e não o que gostaria de ter visto. Por isso, não contem comigo para dizer que Caio Paulista é o novo Jairzinho ou Mbappé ou Carlos Alberto Torres, porque fez uma ótima jogada depois de seis meses de erros consecutivos – esteve a ponto de ser emprestado. Nem para desprezar que Fabio, endeusado pela imprensa, tem alternado bons momentos com o tradicional segundo de atraso que atinge o reflexo dos jogadores veteranos, ainda sem registro em certa miopia romântica dos tricolores. Ou que Fred, maior ídolo do clube no século XXI, ainda seja tratado como se tivesse 15 anos a menos – basta olhar seus números em 2022 e como terminou sua entrevista de campo no domingo, quase sem respirar depois de jogar 20 minutos. Daqui a pouco alguém vai dizer que o Crissilva e o Willian Bigode são jogadores imprescindíveis ao gigante cinza. Wellington, que foi até razoavelmente bem, não pode virar titular absoluto por afeição.

Nem para não me assustar, como na partida diante do Vila Nova, ainda na Era Abel, com quem a enxergou como uma “vitória épica”. Gasp!

Apesar do Flu ter sido amassado em boa parte do jogo diante do Palmeiras, a dedicação do time animou e deu esperanças, mas nada que fosse espetacular, do outro mundo. É preciso sequência sem arroubos de memória e avaliação. É preciso prudência, sem fantasia. Nenhum pessimismo, apenas realismo.

Diniz tem condições de fazer um bom trabalho no Fluminense a longo prazo, mas para isso precisará enfrentar a volúpia empresarial que paira sobre o clube, a mesma que impôs num passado recente nomes como Felippe Cardoso, Egídio e Danilo Barcelos por exemplo. Resta saber se o treinador conseguirá fazê-lo.

Tenham uma grande terça. Tenhamos uma quarta vitoriosa.

A quem entender estas linhas como o comportamento de quem “torce contra”, sugiro de coração duas alternativas: um livro de gramática do Ensino Fundamental e um dicionário.