Amigos, amigas, eu não sei como Abel interpreta os últimos acontecimentos, que o levaram a pedir desligamento do cargo de treinador do maior clube do planeta. Quaisquer que sejam suas razões, devemos reconhecer que tomou a melhor decisão. Saiu do Fluminense por cima, deixando o clube, dez anos depois, com uma conquista de uma competição oficial, o Estadual de 2022. Creio que essa decisão deveria ter sido tomada após a conquista, mas não se pode dizer que tenha sido de todo tardia.
Abel, apesar do título, fez um trabalho terrível no Fluminense. Sua continuidade seria, a cada partida que jogasse, um depoimento contra sua imagem de grande personagem da história do clube. O modelo de jogo concebido por Abel não nos proporcionou uma única partida que pudéssemos qualificar como exuberante, ou, ao menos, convincente. Abel se apegou a esse modelo e lutou contra os fatos e as evidências. Ignorou solenemente as exibições primorosas de um Time B, que venceu a Taça Guanabara, marcando nove gols em três jogos.
Jogou um Fla-Flu como uma temporada à parte, em que se agarrou ao talento de Paulo Henrique Ganso, mas contou mesmo com falhas rubro-negras no primeiro jogo, que nos levaram a uma vitória por 2 a 0. A solução ganhou corpo no segundo jogo, com o entrosamento, nos levando ao título. Abel, todavia, não buscou aprofundar esse entrosamento. Nas partidas subsequentes, abusou de mudanças táticas e individuais, que lançaram nossa trajetória numa enorme confusão.
É natural que os jogadores lhe prestem as devidas homenagens. Abel sempre merecerá homenagens, mas eram esses mesmos jogadores que vagavam em campo feito zumbis, sem saber o que fazer para solucionar as partidas, metidos em escalações estapafúrdias e substituições ainda piores, como no último jogo, diante do Union.
Abel fez a melhor escolha, saiu na hora certa. E o Fluminense? Abel deixa o Fluminense sem suas decisões erráticas, que o colocaram no centro das críticas. Isso é bom para o Fluminense? Sim, pois coloca, a partir de agora, a direção do futebol, que é exercida pelo presidente do clube, no centro dos questionamentos.
Vale lembrar que já são três anos iniciando temporadas com comandos técnicos que não chegam ao final. Dois deles, Odair e Abel, saíram por conta própria, o primeiro deixando o time brigando na parte de cima e até mesmo com chances de ser campeão brasileiro. Isso é sintomático, coloca a direção do futebol no centro do debate. Não cabe mais a Abel tomar as decisões que se impõem. Cabe à direção do clube e do futebol, personificadas pela mesma pessoa, em torno da qual gira um contingente de players e decisões pouco transparentes, tomar a decisão de contratar um novo técnico.
Haja o que houver, não podemos aceitar que venha para o Fluminense um tapa buracos. Precisamos de alguém que venha para realizar um trabalho de longo prazo. Não é um trabalho de construção, mas de aproveitar o que há de positivo para estabelecer as bases para um trabalho que tenha lógica e planejamento. É um trabalho para quem esteja disposto a dissolver a barreira que se formou entre Xerém e o CT Carlos Castilho. É impressionante como ninguém da base ganhou espaço esse ano. E mesmo jogadores como Samuel, Luan Freitas e JK parecem ter sido abduzidos.
É preciso que tenhamos um técnico que reconheça o óbvio, que o Time B, o da Taça Guanabara, é a base de partida para qualquer trabalho que preze o mínimo de coerência perante os fatos. É preciso, enfim, que esse treinador tenha autonomia total para trabalhar com todos os recursos humanos disponíveis, dando preferência a quem pode agregar valor ao grupo principal, que estruture um esquema tático que faça sentido, que mobilize as pessoas envolvidas e que tenha lastro no banco de reservas.
O elenco do Fluminense está longe de ser essa baba que alguns apregoam, em que pesem certos incômodos hiatos. Mas até com relação a eles, é preciso que o trabalho consiga conferir-lhes alguma clareza, porque eu duvido que alguém seja realmente capaz de analisar o elenco do Fluminense com tantas trapalhadas a escamotear seu real valor, seja para cima, seja para baixo, para melhor ou para pior.
É a última chance para essa gestão se portar com a dignidade a que faz jus um clube do tamanho do Fluminense. Depois de quase três anos sem realizações, vivendo de brilharecos e de conquistas duvidosas na área financeira, algo que nos leva a um triênio perdido e de consequências imprevisíveis, já que transparência não há.
Eu não vou aqui falar de nomes para substituir Abel. É o tipo de debate que eu detesto, porque você opina com base na sua visão técnica e estratégica, que não tem nenhuma relação com a visão que existe dentro do clube, que, só ela, só ela, justifica a contratação de Abel. Ganhamos um título, sim, e isso tem que ser valorizado, mas estamos na estaca zero em termos de formação de um time competitivo e de ter uma percepção até mesmo de qual é o nível do nosso elenco.
Desejo toda felicidade do mundo ao Abel, apesar das duras críticas. Sinto-me à vontade para tê-las feito, porque talvez nem sempre tenha sido coerente, mas sempre fui honesto em minhas análises. Lá no ano de 2013, fui o último de seus defensores no episódio deplorável de sua demissão, e nós pudemos ver os desdobramentos. Era outro tempo, o futebol mudou, que venha a próxima vítima. Ou, quem sabe, a gente precisa ter esperança, na medida da lógica e da coerência, claro, aquele que vai tirar o Fluminense dessa mesmice que já dura há quase três anos, que nos tira do sério e faz com que tenhamos vontade de não ver os deploráveis espetáculos proporcionados em campo.
Saudações Tricolores!
Naquele episódio de 2013 achei que ele deveria ser demitido sim porque insistia com uma zaga com Gum e aquele zagueiro que veio de um time que havia sido rebaixado, fora usar o lento Edinho de volante. Tá certo que o Luxemburgo e o Dorival Jr. não acertaram o time, mas quem o havia colocado rumo à série B foi o Abelão.
S.T. Fernando – Rio de Janeiro
Discordo do amigo, Dorival nos salvou da degola.Se nao fosse por ele, mesmo Fla e Portuguesa perdendo pontos de nada adiantaria pra nós. Muito bom profissional, pena que Mario não o tenha trazido. O Ceará, treinado por ele, já tem mostrado evoluçao e pode surpreender. Saudações tricolores…
O Odair fez um trabalho sofrível. Eliminações ridículas na CB e sula e só fomos bem no BR por estarmos numa única competição e outros clubes em 2 ou 3. Hoje se fala em em boa colocação no BR e tem torcedor até querendo sua volta. Quando nomes como Odair e Marlon São vistos como solução, só resta dizer: pobre Flu!!!