Bom para Abel. E para o Fluminense? (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, eu não sei como Abel interpreta os últimos acontecimentos, que o levaram a pedir desligamento do cargo de treinador do maior clube do planeta. Quaisquer que sejam suas razões, devemos reconhecer que tomou a melhor decisão. Saiu do Fluminense por cima, deixando o clube, dez anos depois, com uma conquista de uma competição oficial, o Estadual de 2022. Creio que essa decisão deveria ter sido tomada após a conquista, mas não se pode dizer que tenha sido de todo tardia.

Abel, apesar do título, fez um trabalho terrível no Fluminense. Sua continuidade seria, a cada partida que jogasse, um depoimento contra sua imagem de grande personagem da história do clube. O modelo de jogo concebido por Abel não nos proporcionou uma única partida que pudéssemos qualificar como exuberante, ou, ao menos, convincente. Abel se apegou a esse modelo e lutou contra os fatos e as evidências. Ignorou solenemente as exibições primorosas de um Time B, que venceu a Taça Guanabara, marcando nove gols em três jogos.

Jogou um Fla-Flu como uma temporada à parte, em que se agarrou ao talento de Paulo Henrique Ganso, mas contou mesmo com falhas rubro-negras no primeiro jogo, que nos levaram a uma vitória por 2 a 0. A solução ganhou corpo no segundo jogo, com o entrosamento, nos levando ao título. Abel, todavia, não buscou aprofundar esse entrosamento. Nas partidas subsequentes, abusou de mudanças táticas e individuais, que lançaram nossa trajetória numa enorme confusão.

É natural que os jogadores lhe prestem as devidas homenagens. Abel sempre merecerá homenagens, mas eram esses mesmos jogadores que vagavam em campo feito zumbis, sem saber o que fazer para solucionar as partidas, metidos em escalações estapafúrdias e substituições ainda piores, como no último jogo, diante do Union.

Abel fez a melhor escolha, saiu na hora certa. E o Fluminense? Abel deixa o Fluminense sem suas decisões erráticas, que o colocaram no centro das críticas. Isso é bom para o Fluminense? Sim, pois coloca, a partir de agora, a direção do futebol, que é exercida pelo presidente do clube, no centro dos questionamentos.

Vale lembrar que já são três anos iniciando temporadas com comandos técnicos que não chegam ao final. Dois deles, Odair e Abel, saíram por conta própria, o primeiro deixando o time brigando na parte de cima e até mesmo com chances de ser campeão brasileiro. Isso é sintomático, coloca a direção do futebol no centro do debate. Não cabe mais a Abel tomar as decisões que se impõem. Cabe à direção do clube e do futebol, personificadas pela mesma pessoa, em torno da qual gira um contingente de players e decisões pouco transparentes, tomar a decisão de contratar um novo técnico.

Haja o que houver, não podemos aceitar que venha para o Fluminense um tapa buracos. Precisamos de alguém que venha para realizar um trabalho de longo prazo. Não é um trabalho de construção, mas de aproveitar o que há de positivo para estabelecer as bases para um trabalho que tenha lógica e planejamento. É um trabalho para quem esteja disposto a dissolver a barreira que se formou entre Xerém e o CT Carlos Castilho. É impressionante como ninguém da base ganhou espaço esse ano. E mesmo jogadores como Samuel, Luan Freitas e JK parecem ter sido abduzidos.

É preciso que tenhamos um técnico que reconheça o óbvio, que o Time B, o da Taça Guanabara, é a base de partida para qualquer trabalho que preze o mínimo de coerência perante os fatos. É preciso, enfim, que esse treinador tenha autonomia total para trabalhar com todos os recursos humanos disponíveis, dando preferência a quem pode agregar valor ao grupo principal, que estruture um esquema tático que faça sentido, que mobilize as pessoas envolvidas e que tenha lastro no banco de reservas.

O elenco do Fluminense está longe de ser essa baba que alguns apregoam, em que pesem certos incômodos hiatos. Mas até com relação a eles, é preciso que o trabalho consiga conferir-lhes alguma clareza, porque eu duvido que alguém seja realmente capaz de analisar o elenco do Fluminense com tantas trapalhadas a escamotear seu real valor, seja para cima, seja para baixo, para melhor ou para pior.

É a última chance para essa gestão se portar com a dignidade a que faz jus um clube do tamanho do Fluminense. Depois de quase três anos sem realizações, vivendo de brilharecos e de conquistas duvidosas na área financeira, algo que nos leva a um triênio perdido e de consequências imprevisíveis, já que transparência não há.

Eu não vou aqui falar de nomes para substituir Abel. É o tipo de debate que eu detesto, porque você opina com base na sua visão técnica e estratégica, que não tem nenhuma relação com a visão que existe dentro do clube, que, só ela, só ela, justifica a contratação de Abel. Ganhamos um título, sim, e isso tem que ser valorizado, mas estamos na estaca zero em termos de formação de um time competitivo e de ter uma percepção até mesmo de qual é o nível do nosso elenco.

Desejo toda felicidade do mundo ao Abel, apesar das duras críticas. Sinto-me à vontade para tê-las feito, porque talvez nem sempre tenha sido coerente, mas sempre fui honesto em minhas análises. Lá no ano de 2013, fui o último de seus defensores no episódio deplorável de sua demissão, e nós pudemos ver os desdobramentos. Era outro tempo, o futebol mudou, que venha a próxima vítima. Ou, quem sabe, a gente precisa ter esperança, na medida da lógica e da coerência, claro, aquele que vai tirar o Fluminense dessa mesmice que já dura há quase três anos, que nos tira do sério e faz com que tenhamos vontade de não ver os deploráveis espetáculos proporcionados em campo.

Saudações Tricolores!

3 Comments

  1. Naquele episódio de 2013 achei que ele deveria ser demitido sim porque insistia com uma zaga com Gum e aquele zagueiro que veio de um time que havia sido rebaixado, fora usar o lento Edinho de volante. Tá certo que o Luxemburgo e o Dorival Jr. não acertaram o time, mas quem o havia colocado rumo à série B foi o Abelão.

    S.T. Fernando – Rio de Janeiro

    1. Discordo do amigo, Dorival nos salvou da degola.Se nao fosse por ele, mesmo Fla e Portuguesa perdendo pontos de nada adiantaria pra nós. Muito bom profissional, pena que Mario não o tenha trazido. O Ceará, treinado por ele, já tem mostrado evoluçao e pode surpreender. Saudações tricolores…

  2. O Odair fez um trabalho sofrível. Eliminações ridículas na CB e sula e só fomos bem no BR por estarmos numa única competição e outros clubes em 2 ou 3. Hoje se fala em em boa colocação no BR e tem torcedor até querendo sua volta. Quando nomes como Odair e Marlon São vistos como solução, só resta dizer: pobre Flu!!!

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