Editorial – A farsa orquestrada da Flapress

Na tarde deste domingo, um torcedor do Fluminense a princípio cometeu crime de racismo – injúria racial – no Estádio Nílton Santos durante o Fla x Flu. Ressalte-se que o racismo é um crime hediondo, inafiançável e abominável. Uma vez identificado, o criminoso deveria ser preso. A princípio porque 24 horas depois do ocorrido há grande divergência entre milhares de ouvintes do vídeo de denúncia.

A ser confirmado, não foi o único atentado à lei ocorrido na tarde de ontem.

Dentro do estádio, um torcedor do Flamengo apontou uma arma para tricolores, com um vídeo de prova. O próprio Globoesporte noticiou, sem qualquer repercussão nos canais de TV do mesmo grupo

E, como acontece há muito tempo, partiu da torcida do Flamengo um cântico homofóbico relacionado à torcida do Fluminense.

Em condições normais, os três episódios deveriam gerar profunda indignação a todos, com massiva atuação da imprensa esportiva. Mas no domingo à noite, depois da derrota do time mais querido das redações, talvez a maior repercussão não acontecesse: muita gente ainda na rua, muita gente comemorando.

Que tal jogar toda a indignação para segunda feira pela manhã, um horário morno que pode ganhar reforço com um assunto bombástico? Ok.

Dito e feito. Depois da quinta vitória nos últimos sete Fla x Flus, uma das sequências mais expressivas da história do clube, o Fluminense se viu apedrejado como berço e casa de tolerância ao racismo, numa ação com forte suspeita de orquestração dos grupos Globo e Abril, velhos camaradas. Por horas, o clube foi acusado de não agir firmemente contra um ato criminoso individual, quando se sabe que um delito deve ser investigado e combatido pela polícia.

O racismo é intolerável e abominável. A homofobia também. A ameaça com arma de fogo, idem e ainda mais grave porque atenta contra a vida.

Porém, só entrou na grande pauta o item que poderia atingir diretamente o Fluminense, “vilão” do futebol brasileiro.

Os outros dois crimes mal foram comentados.

O Fluminense é uma agremiação às vésperas dos 120 anos. Em seu Salão Nobre, foi consagrado o primeiro conjunto musical de sucesso composto por artistas negros, os Oito Batutas de Pixinguinha.

Didi, Jair Marinho, Altair, Carlos Alberto Torres, Paulo Cesar Lima, Marco Antônio Feliciano, todos negros, campeões mundiais pela Seleção Brasileira, vestiram a camisa do Fluminense por muitos e muitos jogos.

Há quase quarenta anos, uma dupla de jogadores está no imaginário do futebol brasileiro: os saudosos Assis e Washington, símbolos do Fluminense, o Casal 20 (expressão que, por si só, é um tapa na cara da homofobia), dois homens negros.

Falar de Pinheiro, Denilson, Flávio, Toninho, Escurinho, Maurinho, Gilberto, Cláudio Adão, Edevaldo, Leandro Euzébio, Gum. E mais uma centena de jogadores negros.

Uma única vez, a Seleção Brasileira disputou uma Copa do Mundo com dois goleiros de uma mesma equipe, a do Fluminense. Castilho e Veludo, um branco e um negro.

Há muito tempo, em 1946, o Fluminense conquistou o Super Campeonato Carioca dirigido por um dos maiores treinadores do futebol brasileiro: Gentil Cardoso, homem negro. Anos mais tarde, Cristovão, Roger Machado e Marcão ocuparam a mesma função. Todos negros.

Quem não se lembra do gol de barriga? Ele é inesquecível. Agora, pouca gente se lembra que, naquele título imortal, o Fluminense tinha um presidente negro, o Dr. Arnaldo Santiago.

O maior artilheiro da história do clube é Waldo, um herói negro das Laranjeiras.

Ano passado, o ex-jogador do Fluminense Márcio Baby foi assassinado a tiros. Jogador negro.

Um dos maiores torcedores da história do Fluminense é negro: Cartola, o imperador do samba. Na mesma arquibancada ficam vivos e mortos, todos generais do samba: Noca da Portela, Wilson Moreira, Délcio Carvalho, Marquinhos de Oswaldo Cruz.

Um dos maiores comediantes da história da TV brasileira era negro, gay e estava em todos os jogos do Flu: Tião Macalé.

Na semana passada, aconteceu um dos crimes mais bárbaros da história recente do país, contra o jovem congolês Moïse Mugenyi Kabagambe. Um dos assassinos estava vestido com a camisa de uma torcida organizada do Flamengo. Nenhum jornalista cometeu a sandice de associar o clube e sua torcida àquele crime abominável.

Afinal, só contam crimes dentro do estádio ou a lei também vale para o lado de fora?

O cidadão tricolor que possivelmente cometeu o crime no Engenhão não representa a torcida do Fluminense, o clube, o escudo, nada. Portanto, associar o Fluminense e sua torcida a racismo é uma sandice.

Por acaso o dublê de atirador do Engenhão é uma representação da violência da torcida do Flamengo?

O racismo é imoral e abominável, tanto quanto a manipulação de narrativas.

Isso aconteceu em 1997, 2000 e 2013. Tentaram um revival nesta segunda-feira.

Já pararam para pensar o que poderia ter acontecido ao Fluminense em termos midiáticos se um terrível acidente tivesse matado vários adolescentes negros em Xerém?

Ou se o goleiro do Fluminense fosse condenado pelo esquartejamento de uma mulher?

O racismo jamais pode ser minimizado e deve ser combatido incessantemente. É dever de todos.

Contudo, não se pode desprezar a maneira como os fatos são tratados pela grande imprensa esportiva, especialmente quando se quer espalhar convenientes cortinas de fumaça.

Muita libra já pesou.

11 Comments

  1. Parabéns e obrigado pelo texto, me representou assim como a todos os demais Tricolores e, principalmente, a instituição Fluminense Football Club.

  2. Perfeito o texto.
    A imprensa torcedora, distorce os fatos, ou mesmo os encobre, sem se importar com os seus efeitos, que refletem, principalmente, nos desmandos do futebol, ao ponto de ter, praticamente, destruído o campeonato Carioca.

  3. Nao e de hoje que as redacoes dos jornais e departamentos esportivos da Globo, Tupi e outras fazem exatamente a mesma coisa. Militancia por grana.

  4. Fantástico esse texto, sempre fiz essa leitura, é impressionante como o Rio de Janeiro tem uma corja de jornalistas vendidos, na verdade o país, mas a flapress aqui não se envergonha de passar vergonha, não consegue ser dissimulada, até pra vender jogador (valorizando) eles fazem força. Lembrando que até hoje o presidente do clube não deu uma entrevista aberta a imprensa sobre as mortes no ninho. QQ outro clube no Rio, teria sofrido a injúria de não mais existir, após esse episódio e uma pessoa o que era do quadro de diretores do fla veio cobrar nas redes sociais que o FLU soltou só uma…

  5. As mídias atuais fazem o mesmo com o Presidente da República, por que não o fariam com o FLU.
    Alguns pensam que a Globo é comunista ou de esquerda, ledo engano. Eles já foram, há tempos atrás, tachados de direitistas, mais uma vez um engano.
    As “notícias” sobre o Presidente e sobre o FLU, têm um só viés: o “dinheirismo”.
    Como todos sabemos, seu ciclo acabou.
    Não só pela incompetência de seus dirigentes bigbrotherianos, mas pela divisão da divulgação de fatos e notícias com outros meios.
    Se o STF deixar, estão com os dias contados.

  6. Que pena que a política entrou nas redações. O Fluminense é grande, é gigante e seu nome é limpo. Infelizmente tentam incobrir as sujeiras de uns e manchar quem é limpo. Fluminense time de orgulho Brasil retumbante e glória.

  7. Que seja feita justiça inclusive para a agressão covarde do jogador Vitinho contra o jogador Calegari.

  8. Deviam passar o vídeo da ofensa racista por uma pericia técnica, não e impossível vc colocar um áudio falso em um vídeo gravado, muito oportuno após mais uma derrota surgir um vídeo assim , porém se verdadeiro o culpado tem que ser punido ,para que atos como esse não se repitam mais!!

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