Perto de uma da manhã, levo um susto ao acordar. Devo ter cochilado por volta das dez da noite calorenta, de modo que acordei, tomei um banho e estou 100% despertado. Tomara que isso não dure tantas horas.
Começou o ano e já tem Fluminense por todos os lados. Estou de férias tricolores em janeiro, como quase sempre faço – não deu certo em 2014 e 2021. Tudo bem. Não há como ficar imune às notícias, especulações e tradicionais balacobacos envolvendo transações de jogadores. Honestamente, eu achava divertido o mar de palpites furados do velho Jornal dos Sports, onde o Flu vendia todo mundo e não contratava ninguém. Bom, agora todo mundo é reforço. Assim seja.
No Instagram, meu amigo Arnaldo DeSouteiro fez uma postagem e me homenageou, imagine. Logo ele, que deveria ser homenageado diariamente pelos relevantes serviços prestados à música brasileira e mundial. Sabe aqueles caras todos do jazz e da bossa que a gente só conhece dos temas inesquecíveis e das fotografias? Pois é, o Arnaldo está em muitas e muitas imagens como produtor, anfitrião, amigo etc. Segue a foto, maravilhosa.
O velho Fluminense de guerra, que há meio século mandava no futebol brasileiro, conquistando o nacional mais difícil da história em 1970, que ganhou títulos imortais em 1969 e 1971 e abriu a trilha para uma longa escalada que se propagou por 1973, 1975, 1976, 1980, 1983, 1984 e 1985. Tempos de um protagonismo absoluto, só comparável ao esquadrão de meados dos anos 1930, que ganhou tudo.
Arnaldo acertou em cheio: a foto me comove. Reparem a faixa de campeão. Em 1969 eu era um bebê mas já tinha uma camiseta com um escudão, que cobria todo o peito, e a frase “Sou Fluzão!”. Era o que bastava. Pouco tempo depois, eu já tinha decorado o nome de Félix, o que me levou a uma longa estrada onde esta coluna é mais uma parada. Meio século, rapazes. Tudo passou rápido mas foi vivido intensamente.
Os noticiários dão conta de que o Fluminense é o time que brigará pelo protagonismo do futebol brasileiro e continental com Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras. Honestamente, não gosto disso: meu Fluminense é aquele em que ninguém apostava um níquel mas se agigantava nas competições. Vamos ver o que vem por aí. É preciso avaliar o universo tático, físico e técnico que prevalecerá no CT da Cidade de Deus. Daremos tempo ao tempo. No mais, não quero falar da matemática surrealista do clube em suas negociações: estou cansado.
Passo pela TV Cultura, a Orquestra Jazz Sinfônica toca com Ivan Lins, tricolor de quatro costados. Ele canta “Quem te viu, quem te vê”, hino do eterno tricolor Chico Buarque. Chico é do Movimento Jovem Flu, que sacudiu as arquibancadas tricolores nos tempos plúmbeos. Tudo é Fluminense. Só penso em presentear Arnaldo DeSouteiro com alguns livros meus e, quem sabe, fazer outro com histórias dele sobre esta paixão tricolor, estando distante ou não.
A foto da camisinha tricolor traz meu pai de volta por alguns instantes. Isso acontece diariamente, mas quando o Flu está envolvido é mais forte – talvez os momentos mais felizes que vivi com ele, o velho Helio Andel, tenham sido no Maracanã. Talvez todos.
Uma e vinte da manhã, a propaganda da Cultura coloca uma bela imagem do coração de São Paulo com trilha sonora clássica, temperatura local e hora, tudo para indicar o momento da boa soneca. Para mim não vai dar agora: com sua foto maravilhosa, meu amigo Arnaldo DeSouteiro tirou meu sono. Tudo é Fluminense, mesmo que as falácias sejam maiores do que a realidade. Tudo é Fluminense, mesmo com dez anos sem títulos relevantes. Tudo é Fluminense porque 1969 tem Félix, Galhardo, Marco Antônio, Samarone, Flávio, Lula e tantos protagonistas da história gloriosa das Laranjeiras. Tudo é Fluminense porque o amo, mesmo que meu amor seja uma ilusão perdida no tempo.
Que venha 2022!
Foi nesse ano de 1969 que senti pela primeira vez, o quanto era bom ser tricolor de coração.
Grande campeonato foi aquele, e eu estava lá no Fla x Flu decisivo.