Era 18 de novembro de 2009. O Fluminense fazia campanha de guerra na Sul-Americana daquele ano. O jogo daquela noite, no Maracanã, definiria o finalista da edição do campeonato.
O Fluminense encarava o Cerro Portenho, bravo time paraguaio. O momento era de superação completa, já que o time vivia a arrancada inigualável rumo à manutenção na Série A do Brasileirão, e ainda se garantia, naquela noite, na final da Sul-Americana.
Os corações tricolores passavam por uma comunhão poucas vezes vista: time e torcida, em uníssono.
O time vinha da conquista da Copa do Brasil de 2007, da campanha épica na Libertadores de 2008 e vivenciava o sonho de superação no Brasileirão de 2009.
A torcida, como já tantas vezes dito, carregava seu time no colo. O Flu, por sua vez, colocava todas as esperanças do torcedor na garra, na superação, na recuperação, na ponta da chuteira, no grito da garganta e na vontade de vencer.
E assim, em mais uma noite mágica do Fluminense, o Maracanã e todos os milhões de torcedores espalhados pelo Brasil viram Gum, o símbolo guerreiro daquele time, empatar o jogo que estava sob o domínio do Cerro Portenho.
Aos 47 minutos do segundo tempo, Gum, com sua cabeça enfaixada, após uma cotovelada que lhe abriu o supercílio, aproveitou o rebote da zaga cerro portenha e empatou o jogo. Aliás, naquela noite os nossos olhos viram um jogo duro e violento e que acabou com muita agressão entre jogadores, comissão técnica e quem mais se meteu no meio.
Os paraguaios tiveram que amargar a derrota e voltar para o Olla azulgrana desclassificados.
A vibração de Gum, com a cabeça enfaixada e sangrando, é uma imagem que pode ser usada a qualquer momento em preleção, para times pouco aguerridos. Não por acaso, essa imagem lhe rendeu a alcunha e o grito da torcida: Gum, guerreiro! Gum, guerreiro!
A alcunha depois foi estendida a todo o elenco de 2009 e 2010, esse último, campeão brasileiro.
Faz-se 12 anos dessa noite. As memórias vão ficando para trás na mente tricolor, mas lembrá-las e ressaltá-las é provar que é possível, mesmo com um time em formação, voar mais alto.
O Fluminense tinha no elenco daquele ano o próprio Gum, que havia chegado da Ponte Preta para substituir ninguém menos que Thiago Silva. Tinha ainda Conca, firmando sua atuação decisiva no time. Tinha a dupla de quem a torcida tanto esperava e pouco viu porque foram vendidos precocemente, Alan e Maicon (Bolt); tinha Mariano vivendo uma das maiores recuperações técnicas que eu já vi em um jogador; e tinha Fred, jovem, líder e em excelente fase.
Mas contava com uma peça, talvez a mais fundamental de todas: Cuca, hoje o melhor técnico brasileiro em atuação no país.
Tricolores, relembrai-vos e regozijai-vos.
Passados 12 anos, o time do Fluminense de hoje não é nem sombra do que vimos.
Não vou repetir o que todos já dizem aqui no PANORAMA e na maioria das rodas de discussão: o Flu de hoje não tem padrão tático, não tem padrão técnico e ainda corre o risco de queimar os talentos jovens que jogam, sempre, no abafa.
Na oitava colocação no Brasileirão de 2021, o Fluminense ainda tem 15 pontos em disputa. O que vai conseguir ao final do ano é a maior incógnita do momento. Libertadores? Pré-Libertadores? Sul-Americana? Nada?
Impossível projetar qualquer coisa, diante de tanta instabilidade.
Assim sendo, permitam-me viver um pouco do passado, relembrando um dos períodos mais incríveis e lindos da nossa história.
Ah, claro, tinha uma malfadada LDU pela frente, mas essa é outra história a ser lembrada.
Por fim, neste mês de novembro, em que se celebra o Dia da Consciência Negra, é importante lembrar ao Brasil que fomos um país que escravizou e matou negros, por séculos. Importante lembrar também que as marcas persistem na sociedade e que ainda somos um país com extrema desigualdade social, racista, discriminatório e escravagista nas atitudes.
Preconceito mata. Racismo destrói. Não há pílula para dourar nessa história e não há perdão para esse sistema.