Saímos no domingo de manhã eu e o Luiz, de Copacabana para a Praça XV. Inventamos de fazer uma tremenda caminhada das barcas até a Praia de Icaraí, um percurso fantástico. Depois almoçaríamos e partiríamos para o Maracanã, dia de decisão entre Fluminense e Bragantino.
Apesar da beleza da orla de Niterói, eu sentia que algo não estava no clima do jogo. Muita gente tem isso e comigo não é diferente. Mesmo assim, deixei de lado.
Voltamos para a Praça XV com muito sol. Aí cometi uma besteira: entrar no 232, ônibus regularmente assaltado. Passamos a roleta e tinha quatro malandros querendo fazer piadinha, um em cada banco, formação típica de assalto a ônibus. Quatro contra um, o Luiz era garoto. Um deles falou algo como “tem otário”, respondi “otário é o caralho” e aí pode ser que tenham sentido o golpe. Nosso percurso era pequeno, até a Praça da Bandeira, uns dez minutos. Saltamos em paz. Ufa!
Na Parmê do America, traçamos uma suculenta lasanha. Passear, almoçar fora e ir pro Maracanã, que dia de luxo! Só faltava a Alessandra ou a Luciene, mas nem tudo é perfeito. Caminhamos para nosso lar esportivo. Eu continuava sentindo que algo não estava bem.
Compramos os ingressos, encontramos Raul, Doria, o pessoal. Foi uma das últimas vezes em que o Fluminense colocou mais de 70 mil torcedores sozinho no Maraca. Era uma grande nuvem de pó de arroz.
Precisávamos daquele título. O Fluminense não era campeão há seis anos. Vínhamos de cinco vitórias consecutivas para chegar às semifinais. Tínhamos o segundo melhor ataque do campeonato. De toda forma, alguma coisa estava errada.
A festa foi bonita mas o jogo não. Fomos apáticos. Houve quem dissesse que foi nossa pior partida no Brasileiro. Não agredimos, não predominamos e, quando tudo apontava para um empate insosso, o Bragantino fez o gol e nos eliminou. Um time cheio de promessas tricolores que Luxemburgo tinha levado para lá.
Saímos tristes. Era um tempo em que ser terceiro ou quarto colocado não era suficiente para o Fluminense. Nosso time podia ter limitações, mas brigava para ser campeão. Tínhamos Ricardo Pinto, Zanata, Válber, Torres, Renato, Ézio e Bobô, uma grande espinha dorsal. Tinha alguma coisa errada no dia, eu sabia. A gente que frequenta, sente. Deu confusão, protesto, crise. Em casa meu pai reclamou muito, minha mãe me disse para ter paciência – como eles fazem falta hoje!
Trinta anos depois, o nosso time não briga mais pelos títulos. O que se fala é vaga na Libertadores e só. Comemoramos pagamento de folga salarial e dívidas (hã?), ou campanhas dignas. Ouvimos as maiores lorotas e fingimos que está tudo bem.
As imagens abaixo não tratam da celebração de uma derrota, nem da sua romantização, mas sim de um tempo em que os jornais faziam jus ao tamanho do Fluminense, gigantesco. Eram tempos de luta, que são dignos de respeito. Um time que brigava por títulos, não um figurante cercado por pantominas e verborragia. Não é saudade da derrota, mas da grandeza mesmo quando o fracasso vinha.
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Acordei mais cedo do que devia neste domingo. Não tem pães nem café, apenas uma esfiha de queijo. Então ligo a TV e está passando o excelente programa de Brian Johnson, a voz do AC/DC, entrevistando Mark Knopfler, a alma do Dire Straits. Uma conversa bem divertida.
Em 1991, perto do fim, o Dire Straits tocava no mundo inteiro com “Calling Elvis”, nas rádios e na MTV, com um excelente clipe onde estavam os bonecos animados dos Thunderbirds. Era uma trilha sonora daquele Campeonato Brasileiro. Justamente hoje Mark Knopfler, raro na TV, apareceu.
Senti saudade de tudo. Tudo.
Logo mais tem mais. Até.
Mais de 80.000 presentes, considerando os não pagantes!