Como já se esperava, a entrevista coletiva do presidente do Fluminense teve a mesma marca das edições anteriores: por trás de longas orações bem construídas, há um vazio enorme entrecortado por sentenças que ajudam a ocupar o tempo de resposta, mas que dizem muito pouco sobre o que tem sido o clube desde o início de sua gestão.
Ao mesmo tempo, a tentativa de transformar uma realidade fracassada em avanços chegou às raias da psicodelia lisérgica. Em vários momentos, o presidente parece acreditar que muitos erros do passado não passaram pela sua caneta, ora como prócer jurídico, ora como vice-presidente de futebol e, por fim, como mandatário. Insiste em usar os tempos terríveis dos anos 1990 como suavização para os atuais nove anos sem títulos, com cinco lutas contra o rebaixamento e infinitamente mais dinheiro do que naquele tempo. E se esquece que o torcedor consciente comemora sim a Primeira Liga, da mesma maneira que comemora a Taça Guanabara ou a Taça Rio – estas duas com uma tradição de décadas.
As justificativas para o contrato de Wellington e a renovação de Matheus Ferraz pareceram peças de teatro extraterrestre. É improvável que, com exceção de seus fanáticos apoiadores e lambe-botas, o presidente não tenha causado risos no resto da torcida, não por graça mas por tensão, pelo absurdo que cerca as situações.
Por fim, as falas empenhadas sobre o Voto On Line e a reforma das Laranjeiras foram absolutamente constrangedoras em todos os aspectos. Sobre a eleição via internet, não há qualquer motivo que justifique o descumprimento de (mais) uma promessa de campanha por escrito. No caso do estádio, não passou de uma tentativa frustrada de calar seus inúmeros críticos, repetindo um modelo que se vê em muitas instâncias do clube: o famoso “correr para não chegar”.
A entrevista coletiva desta sexta-feira pode ser interpretada como uma tentativa inusitada de pré-campanha eleitoral 2022, mas também um singelo tributo a Karl Friedrich Hieronymus von Münchhausen, famoso pelos relatos de suas aventuras, que serviram de base para a célebre série “As Aventuras do Barão de Münchhausen”, compiladas por Rudolph Erich Raspe e publicadas em Londres em 1785. São histórias extremamente exageradas, de muito sucesso na literatura juvenil. O Barão é um personagem que alterna realidade e fantasia num mundo próprio, onde enfrenta inúmeros perigos, consegue fugas impossíveis, vivencia fatos extraordinários e faz viagens fantásticas, tudo com total tranquilidade.
Por ora, qualquer semelhança entre o Barão de Münchhausen e o Pequeno Príncipe é uma inesperada coincidência, que hoje só se vê na sede do Fluminense.