Em certo momento que comecei a ir aos jogos do Fluminense com regularidade, levado por meu pai, Edinho era o único remanescente do mais emblemático time da história tricolor, a Máquina. Embora jogasse, treinasse e desse entrevistas como um veterano, ele tinha apenas 23 anos de idade (hoje em dia os jogadores não estão maduros…) e já tinha superado um apedrejamento nacional por sua improvisação como lateral-esquerdo na Copa do Mundo de 1978. Aos 25, conduziu o Flu para um título monumental sobre o Vasco, não lhe bastando ser apenas o líder e o capitão da equipe, mas também o artilheiro da vitória final.
Egresso do futebol de praia e dono de condição física invejável, muitas vezes ele levou o time tricolor da defesa ao gol adversário com arrancadas fulminantes. Em algumas ocasiões, fez três gols numa só partida, algo raríssimo em se tratando de zagueiros e, hoje em dia, até de atacantes.
Jogou três Copas do Mundo e deveria ter sido titular em todas. É difícil crer que o Brasil tomasse três gols da Itália em 1982 com Edinho em campo.
Para todos os garotos tricolores do fim dos anos 1970, Edinho era a referência, a liderança. Seríssimo em todas as entrevistas, ele chegava a criticar atuações em que o Fluminense havia goleado o adversário. E qualquer torcedor que acompanhasse os treinos nas Laranjeiras via o zagueiro treinando, treinando até depois do treino, cobrando incontáveis faltas.
Depois de anos no exterior, Edinho quis voltar ao clube. Para variar, os dirigentes criaram caso. Ele foi para o Flamengo, ganhou títulos mas só fez um ano de contrato, sonhando em retornar para as Laranjeiras, o que felizmente acabou acontecendo. Depois, uma nova besteirada de cartolas fez com que saísse. Resultado: campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio. Ele ainda ganhou duas Taças Guanabara como treinador, levando o Flu a duas finais de campeonatos cariocas.
Entrevistando João Batista Pinheiro em 2010 com Álvaro Dória e Raul Sussekind numa divertida noite no Tijuca Tênis Clube, perguntei ao mestre sobre quem tinha sido o maior zagueiro do clube, além dele próprio. Pinheiro, campeão mundial pelo Fluminense e uma referência tricolor por meio século, não titubeou: “Foi Edinho. Ele foi o maior zagueiro da história do Fluminense”. Não foi a primeira vez que Pinheiro disse aquilo, mas para mim foi a definitiva.
A maneira como Edinho jogava, com garra, talento e atitude máximas, não me inspirou apenas como torcedor. Foi uma lição que tenho carregado por toda a vida, seja no trabalho ou na vida pessoal. Tudo precisa de garra, talento e seriedade, seja o que for: tanto faz se você vai lavar uma roupa, carregar uma caixa ou escrever um livro. Vi de perto sua história no Fluminense e posso dizer com segurança: com ele em campo, ganhando ou perdendo, o Fluminense sempre foi gigante, jogando para vencer. Toda vez que o Flu deixou escapar uma vitória, seja num jogo simples ou numa decisão, eu sempre penso: se ele estivesse em campo, seria diferente.
Se tenho alguma importância para o Fluminense como torcedor ou escritor, muito disso veio dele, lá atrás, há quarenta anos, quando ele se recusava terminantemente a perder qualquer partida.
Foi o Fluminense que eu vivi.