Chegou a hora de relembrar com alegria aquele ano de 1964.
Mas não pensem os imbecis que estou aqui comemorando o sujo golpe político, orquestrado por delinquentes morais.
Estou comemorando sim, o título carioca do “lanterninha dos grandes”.
Após levar a taça em 1959, o Fluminense estava em um jejum de quatro anos e sequer aparecia entre os favoritos ao título da temporada 64.
Mas o Tricolor possibilita o impossível, imagina o inimaginável e supera o insuperável. Só o Fluminense tem o poder de jamais se deixar passar por abatido. Nenhum outro time do planeta tem esse dom de se sagrar gigante nos momentos de pequenez.
Aos duvidosos, aponte-se o time de guerreiros que desprezou as regras da matemática em 2009…
E um time com Castilho no gol, Carlos Alberto Torres e Altair nas laterais, Denilson no meio e Amoroso como goleador podia ser tudo, menos pequeno.
Os torcedores dos demais se juntaram à animada torcida do Bangu para secar o Fluminense, é claro. Mas em nenhuma das duas partidas puderam comemorar resultado diferente. O primeiro jogo, foi vencido pelo Fluminense com um gol de Amoroso em cobrança de penalidade, aos 5 minutos do segundo tempo. Amoroso havia chegado ao clube como bi-carioca pelo Botafogo (1961/62) e se sagrou o artilheiro de 1964, com 19 gols, e de 1965, com 10, cumprindo a promessa feita quando de sua assinatura.
Na segunda partida, mais de 75 mil torcedores puderam ver Bianchini abrir o placar para o Bangu. Seria então, o golpe? Seria o Fluminense privado por mais um ano de levantar a taça?
Precisaríamos de um estrategista. Alguém que pudesse fazer com que o time rompesse as linhas de defesa inimigas. Alguém que nos levasse ao combate e revertesse esse golpe. Alguém que não se curvasse a tirania da derrota.
E tínhamos Elba de Pádua Lima, o Tim. No intervalo ele mudou a postura dos jogadores e o Fluminense voltou a campo disposto a reverter o quadro. Antes que se passassem 10 minutos, Joaquinzinho e Jorginho já haviam colocado o Tricolor à frente do placar.
Para acabar com a vaidade da Moça Bonita, como diria o narrador do saudoso programa Canal 100, Gílson Nunes fez o terceiro gol, e deu números finais à partida. Fluminense campeão carioca de 1964, chegando a 18 títulos estaduais.
O ano de 1964 traz tristes lembranças, ao menos àqueles que tenham um mínimo de caráter, mas também pode ser lembrado pela alegria do tricolor que naquela tarde, vestia-se todo de branco. Como se protestasse em favor da paz. Paz que foi tirada de milhares de famílias por mãos sanguinárias. E só reconquistada anos depois, e mesmo assim de forma incompleta, por sobreviverem os traumas e sequelas.
O Fluminense é emblemático. É sublime. É único. Foi talvez a única alegria que muitos tricolores tiveram naquele ano. Talvez jamais saberemos todas as histórias. Por isso, precisamos lembrar da história do Fluminense de 1964.