Saída de Odair é um duro golpe ou uma grande oportunidade? (por Marcelo Savioli)

À primeira vista, não há dúvidas de que a saída de Odair é um grande golpe para o Fluminense.

Odair deu padrão de jogo ao Fluminense, ainda que não seja o que nós mais admiramos, e tinha, ao contrário do que eu vejo alguns afirmarem, variações táticas e individuais, que também não eram, essas últimas, as que a gente gostaria de ver em campo.

Odair, em que pesem as duas eliminações precoces no mata-mata, nos trouxe até aqui na briga pelas primeiras posições.

O fato de estarmos passando longe da briga pelo rebaixamento não é, em si, nenhuma surpresa. É só ver o desempenho técnico do Fluminense, comparado com o de Vasco e Botafogo, no primeiro semestre do ano.

Há um abismo conjuntural entre o Fluminense e os dois rivais cariocas que se debatem na luta contra o rebaixamento, algo que tenho afirmado, inclusive, em relação a outros times.

Por outro lado, o mesmo fato de estarmos na briga pela parte de cima, cujos méritos devem ser, em grande parte, atribuídos a Odair, pode ser encarado como uma grande oportunidade.

Pode parecer, embora não para quem tem acompanhado a mídia tricolor, que é quem de verdade  acompanha o Fluminense e tem maior autoridade para analisar seu desempenho, uma grande contradição afirmar que a saída de Odair possa ser uma grande oportunidade para o Fluminense.

Da mesma forma que é mandatório reconhecer os méritos de Odair, é quase unanimidade, inclusive na torcida, que as escolhas individuais do ex-técnico travavam o Fluminense em qualquer tentativa de alçar um voo mais alto na competição.

O dilema, portanto, é saber se tudo será mantido como era antes, o que vai nos levar ao mesmo lugar em que já estamos, se vamos perder o rumo ou se – desejo de 11 em cada 10 torcedores – vamos ajustá-lo, apontando uma irreversível seta para cima.

É claro que a aposta da maioria é em que Marcão terá sabedoria suficiente para não deixar se perderem as conquistas de Odair. Ao mesmo tempo em que poucos apostam em que Marcão fará os tais ajustes que nos permitirão soltar de vez as asas da imaginação e do desejo.

O que mostra que a visão que temos da conjuntura nos aproxima na formulação de teses. O que é bem interessante, porque a torcida parece estar percebendo o que precisa mudar, que é a atual orientação do clube, desde a segunda gestão Peter Siemsen, para ser um comércio de jogadores e não uma força competitiva no futebol.

Eu não sou adepto de exercícios otimistas de raciocínio, até porque são dois valores que não cabem no mesmo método, assim como não cabe o pessimismo. É melhor trabalhar com fatos, estudo e indicadores.

Não sei ainda como terminou o jogo entre São Paulo e Botafogo, já que estou escrevendo antes da partida, que é o único momento em que posso fazê-lo. É fato, no entanto, que a própria performance do São Paulo no Brasileiro não deixa muitas brechas para os detratores do Diniz.

Ao contrário, nos fornece indicadores claros de que já no ano passado poderíamos ter alcançado grandes resultados, não fosse a perseguição ostensiva da arbitragem e a pressão sem nexo do Celso Barros pela demissão do treinador, que, em condições normais de temperatura e pressão, teria nos levado à Libertadores, talvez mesmo por meio do título da Sul-Americana.

Sendo que Marcão, ao assumir o comando da equipe, devolveu-lhe as peças que faziam produzir a engrenagem comandada por Diniz e grande parte do seu estilo, inclusive agregando valências táticas antes inexistentes.

Quero dizer com isso que tenho que reconhecer que fui injusto com Marcão em sua recontratação pela atual gestão, o que para mim é uma bênção, porque foi ele que nos salvou de um final de ano catastrófico, mas também quem teve um aproveitamento que hoje, segundo os mais afeitos às estatísticas, uma vez repetido, nos levará a terminar a temporada no G-4.

Se isso é verdade – e é, eu acredito – devemos concluir que Marcão está preparado para assumir o Fluminense. Não acredito, honestamente, numa queda de rendimento. Tampouco acredito que as mudanças que precisam ser feitas o serão.

Porém, num exercício otimista de raciocínio, se me permitem a humilde contradição, sabendo que Marcão tem caminhos e condição técnica para isso, acho que devemos esperar o clássico com o Vasco, e o que virá depois, com a ansiedade dos insanos.

E é assim que eu me sinto: ansioso. E também esperançoso.

É em Marcão que está a oportunidade, mas repito o que venho dizendo, que isso só será possível com uma mudança, mesmo que temporária, de mentalidade do clube.

***

Falando da última escolha de Odair, o que eu posso dizer é que em condições normais de temperatura e pressão, jamais largaria um grande clube brasileiro – e vejam que não estou falando especificamente do Fluminense – disputando as primeiras posições na tabela do Brasileiro, para ir treinar um time lá no Oriente Médio.

Antes de tudo, por uma questão de compromisso profissional, que eu acho que é coisa séria. Em segundo lugar, porque dinheiro é, sim, muito importante, mas uma história se faz com assinatura. E Odair poderia assinar seu nome no mínimo em um bom desfecho para a jornada do Fluminense na atual temporada.

Só que eu estou falando de condições normais de temperatura e pressão, e eu não sei o que aconteceu nos bastidores. Então, amigos, amigas, não me cabe julgar ninguém em quaisquer condições, muito menos com a minha própria régua.

***

O meu assunto para hoje, não fossem os últimos episódios, seria a iminência de perdermos Marcos Paulo – mais um – de graça.

Não é, todavia, assunto para poucas linhas, já que mexe com aspectos estratégicos envolvendo o Fluminense, e revela uma intolerável incompetência no trato dos interesses econômicos e esportivos do clube.

Vamos ver quais são as cenas dos próximos capítulos, muito embora saibamos que as decisões do Fluminense nos últimos tempos não são dotadas de imprevisibilidade que qualifique os desfechos como dignos da teledramaturgia.

Saudações Tricolores!

2 Comments

  1. Precisa ver que o São Paulo, apesar da distância, não enfrentou ninguém do G-8 até agora no returno.

    O Fluminense, nesse quesito, é campeão disparado. Já enfrentou três. Faltam só quatro, enquanto eles terão que enfrentar sete, inclusive o Fluminense.

    Isso pode fazer a diferença no final.

    ST

  2. Odair teve saldo positivo, mas precisamos dum treinador com mais potencial. Tinha vontade de esgana_lo toda vez que entrava F. Cardoso. Mas tenho receio do que Marcão fará. O noticiário de 2019 falava que ele queria escalar Agenor e só com a intervenção do André Carvalho pôs o M. Felipe. Ir pra libertadores é importante, mas, pela nossa história, temos que falar em título, matematicamente ainda dá, tô vendo a mídia, inclusive a tricolor, reduzir nossa meta à libertadores e como surpresa e como o menos indicado pra vaga… pelo menos, nós, os tricolores, precisamos corrigir isso. Podemos e…

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