A euforia tricolor não deve enforcar a lucidez, nem se vestir com arrogância (por Paulo-Roberto Andel)

A noite de sábado foi de lavar a alma. Não pelo resultado, até porque o Fluminense tem uma ótima pontuação quando comparada com o desastre de temporadas anteriores, mas porque pela primeira vez em 2020 o Tricolor cumpriu integralmente uma atuação de time grande – mesmo sem ser brilhante: atacando, pressionando, impondo seu jogo independentemente do Athletico ter tido Thiago Heleno expulso. Tudo bem diferente do pragmatismo pastoso, arrastado, que levou o Flu ao G4 no primeiro turno mas não deu nenhuma esperança de título, tanto que para grande parte da torcida a colocação foi uma surpresa. Por isso, os tricolores comemoraram a valer. Uma vigorosa atuação coletiva, com destaques individuais e num momento onde os times que pretendem ser campeões ensaiam o sprint final, que é o do terço final da competição.

Passada a euforia, ao menos para os que priorizam a lucidez, a boa atuação deste fim de semana traz reflexões. Afinal, se pudemos mostrar um futebol empolgante, por que antes nos arrastávamos? Por que atuações constrangedoras e até patéticas foram tão louvadas? Por que o time mudou tanto em 90 minutos? São muitas as divagações mas algumas são até bem rápidas.

Com uma leva de jovens jogadores que já mostrou serviço na base, mais um goleiro seguro e uma defesa que já vinha arrumada – a ponto de aguentar o inacreditável Egídio -, o Fluminense injetou sangue novo em campo. Nada contra jogadores experientes, e lá estava Nenê que, mesmo longe de seu melhor momento, é importante. O Flu pode ter dois, três, seis veteranos – o que não pode é jogar com todos simultaneamente, a não ser que queira abrir mão do título e voltar a ser um mero figurante.

E agora? “O Flu calou a boca dos críticos e de seus torcedores, não precisando provar nada para ninguém”? Uma ova! Este jogo diante do Athletico só terá real significado se dele vier uma sequência de atuações convincentes, capazes de desfazer qualquer insegurança. Sem uma sequência, não passará de lampejo.

Após a felicidade da vitória, aumenta a responsabilidade do time perante a torcida e também a cobrança, natural em qualquer clube de futebol. Mesmo com todos os problemas e deficiências a granel nas Laranjeiras, ficou provado que o Fluminense pode oferecer muito mais do que aquele futebol lento, tedioso e previsível da maioria de suas partidas no Brasileirão, mesmo quando pontuou. E a torcida tem todo o direito de exigir mais.

Seria uma coincidência para o Fluminense que, em sua melhor atuação no campeonato, Marcos Felipe era o goleiro titular, Araújo e Marcos Paulo faziam a criação e a torcida foi parcialmente poupada da imposição da dupla Felippe Cardoso e Caio Paulista no segundo tempo (FC acabou jogando…)?

Até aqui, a torcida tricolor tinha era a sensação de alívio pela pontuação, não de satisfação. Agora foi diferente: mexeu com o espírito, com a atitude e, se nas próximas rodadas o Fluminense em campo tiver esta mesma pegada, em uma sequência de jogos, se credencia até a disputar um dos títulos menos esperados de sua longeva história. Repito para não deixar dúvidas, em caixa alta: SE REPETIR A ATUAÇÃO NUMA SEQUÊNCIA DE JOGOS.

Voltando à normalidade, é bom que se diga: o Fluminense não foi campeão de coisa alguma na 24a rodada. Por isso mesmo, a euforia tricolor não deve enforcar a lucidez, nem se vestir com arrogância. Os torcedores que já viram mais de dez títulos do clube sabem, melhor do que ninguém, o que tem custado esta década de 10 em todos os aspectos. A arrogância, a prepotência e a incompetência fizeram com que, depois do tetracampeonato brasileiro, o Flu vivesse de lampejos, de brilharecos disfarçando os problemas que nos levaram a cinco lutas contra o rebaixamento. E essa tríade arrogância-prepotência-incompetência deve ser combatida a todo instante.

Não deem ouvidos a analistas de resultados, pernósticos “quem?” que já previram o penta, picocelebridades dispostas a “causar” com polêmicas pueris, guardiões de gestão e outros desajustados em busca de interesses particulares. São especialistas em casuísmo e só dão as caras em momentos favoráveis. Na hora ruim, se calam. A história não perdoa oportunistas rastejantes.

Essa vitória foi de Marcos Felipe, de Calegari, Martinelli, de Michel Araújo, de Nenê e do resto do time em campo. Marcos Paulo, logicamente.

Em tempo: tenho muitas críticas ao trabalho de Odair Hellmann e simpatia pessoal por ele antes de ser treinador profissional. Aliás, provavelmente o único livro que valoriza Odair, em relação ao Fluminense, lhe foi presenteado por mim.

Neste sábado, o treinador poderia ter comemorado a grande atuação e pronto, mas o “desabafo” travestido de propaganda de seu chefe na coletiva pós-jogo foi uma autêntica bola fora, um verdadeiro Febeapá (para os mais velhos). Um desastre. Mesmo que tenha sido involuntário, deixou – mais uma vez – a tremenda impressão de servilismo barato.

Nenhum torcedor quer o malefício pessoal de Odair. Agora, ninguém era obrigado a aplaudir a quantidade de partidas horrorosas que ele comandou neste ano – e não foram poucas. E quem se satisfaz com o pragmatismo dos resultados, basta não encher o saco de quem quer ver o Fluminense ganhar e jogar bem, ora.

A vitória sobre o Athletico não é resposta para ninguém, mas apenas a demonstração de que o Fluminense podia fazer muito mais do que vinha fazendo, pontuando ou não. A maior prova disso é que, se não tivesse perdido cinco pontos para o medíocre Bragantino, por exemplo, com atuações bisonhas, a briga pelo penta já seria uma realidade indiscutível hoje. E falo de penta porque torço por títulos: é assim que fui criado nesta torcida.

Obviamente, é sempre melhor vencer em qualquer circunstância, mas melhor ainda é vencer e convencer. Se o Fluminense conseguir isso numa arrancada final a partir de agora, não há torcedor que deixará de aplaudir. Somos todos tricolores, ainda que alguns insistam em se achar mais do que os outros.

13 Comments

  1. Do jeito que esse psicopata fala, parece até que o Fluminense foi campeão brasileiro. Comemorar G6, G8, vão arrumar um trabalho..

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  2. Bem, agora o caldo desandou de vez…achavam ruim com o Odair, enchiam o saco, reclamavam de tudo….agora vão aturar Marcão…evidentemente que ele nao saiu por isso, mas as pessoas que pediam sua cabeca agora irão aturar um estagiario no banco de reservas….de repente, acharam que viria o Maurinho….pobre Fluminense, que piada de mau gosto…

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  3. Parabéns, Andel, pela lucidez de sempre.

    Só pra constar: ODAIR, VAI À MERDA!!!!

  4. Agora, pra 2021 podemos repensar algumas coisas. Mas esperar um planejamento eficiente do atual presidente soa quase ingênuo. Contratações pífias e obscuras, vendas precoces, arrogância insuportável….todo o mesmo filme repetido. Nossa sorte é que o futebol brasileiro é TÃO ruim que mesmo com tantos erros conseguimos competir bem. Poucos são os times bons e realmenre melhores.

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  5. E não venha me dizer que não torcem! Já vi nossa torcida vaiar Carlos Alberto quando caminhava pra bater um pênalti a nosso favor. Já vi coisas repugnantes. As pessoas não querem dar o braço a torcer e não aceitam quando os fatos contrariam suas crenças. Fabricam uma realidade própria. Isso em vários setores da vida. Então, Odair tá LONGE de ser o técnico perfeito, mas tá entregando mais do que se esperava então por ora tá ótimo

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  6. Claro que Odair erra. Natural. É um treinador em começo de carreira. Claro que gostaria de ver o Flu com mais volume. Acho que ele não deveria ter desabafado, mas não o julgo. Cada um sabe o seu limite. O cara aguentou mt coisa, venderam seu melhor atacante, afastaram seu melhor volante, surto de covid, falta de reforços… e a perseguição cruel de parte da mídia e torcida que torcem contra mesmo…

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  7. Tenho uma outra visão. Não cobro futebol bem jogado. Cobro RESULTADO. E ele tem vindo, então não tenho nada a reclamar. Insisto que vamos brigar com o Santos até o fim pela sétima vaga da Libertadores (tenho plena convicção de que o G6 vira G7). Falo isso de forma mt confortável porque sempre acreditei q brogariamos ali quando todos os “entendidos” diziam que iríamos cair.

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