Longe da catarse coletiva tricolor (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, a catarse é um dos sentimentos mais poderosos que um ser humano pode experimentar. Inebria mais que a bebida alcoólica, mais que ter razão em uma discussão, mais que saber que sua conta tá no positivo em quatro dígitos (pelo menos) e com nome limpo na praça. Todavia, assim como os ébrios usualmente perdem a noção da realidade, uma catártica vitória muitas vezes basta para se esquecer todo o resto. Todo o contexto, todos os senões, todos os problemas… tudo fica para trás. O prazer sentido acaba valendo a ilusão momentânea, e quem pode culpar os que escolhem tal acalanto? Mas se queremos ter lucidez para falar de alguma coisa e deslindar seus meandros, não podemos ceder. Assim, volto aqui para fazer o papel do chato que reclama mesmo quando o time ganha. Mas não vou apenas papagaiar de forma incoerente o mantra do “fora, Odair”, pois ele já não adianta mais. Com ou sem suas pardalices à beira do gramado, o importante é que o time venceu. Eis a questão.

Nas vitórias, é fácil elogiar, da mesma forma que nas derrotas ou empates toscos como aquele contra o Bragantino é fácil meter o pau. Difícil é fazer o oposto. Tivemos muitas derrotas sob o comando de Diniz ano passado. Derrotas injustas, diga-se de passagem, muitas vezes sendo protagonizadas por verdadeiros assaltos vindos do árbitro, do VAR e, mais comumente, de ambos. Quando não, o bafejo de sorte que sobra a Odair faltava a Diniz, com os atacantes perdendo gols em profusão. Em muitas dessas derrotas, muitas mesmo, merecíamos melhor sorte. Acabou não rolando a permanência pelo perigo do rebaixamento, Diniz foi demitido e, hoje, olhem só, lidera o Brasileirão com dois jogos a menos. Odair, por outro lado, tem muito mais sorte que mérito. Querem os méritos? Aqui vão eles: o Flu tem uma boa bola parada (quando o Egídio está fora de campo), Odair tem boa gestão de elenco, o setor defensivo está arrumado (zaga + volância e, agora, goleiro), e as escalações iniciais têm melhorado. É isso.

Odair não tem leitura de jogo adequada, normalmente substitui mal, contando muito mais com a sorte que com algum desenho tático para ganhar jogos que estão desfavoráveis; insiste com jogadores que claramente não são opções válidas; não treina jogadas ensaiadas; não treina vários esquemas táticos (a priori, só temos duas formas de jogar – o 4-3-3 com pontas sendo assistente de laterais e o 4-4-2 que deixa o time mais equilibrado e tem dado mais certo); parece ter orientações externas para promover a entrada de certos jogadores que sempre têm que entrar em campo, mesmo não fazendo o menor sentido, entre outras. Eu poderia dar mérito à manutenção do time na parte superior da tabela mesmo em meio a tantas perdas pela COVID-19 (temporariamente), se várias dessas perdas não motivassem a escalação dos jogadores que tinham que ter sido escalados em primeiro lugar. Ou alguém aqui hoje acha que Marcos Felipe, Calegari, Martinelli e Marcos Paulo não são titulares absolutos desse time?

Ainda há várias oportunidades que Odair perdeu pra tornar o Fluminense mais competitivo. Samuel, John Kennedy ou Matheus Pato – qualquer um desses seria melhor que o Felippe Mulamboso. Já poderia tê-los puxado para o time de cima. Dani Bolt vai ganhar chance quando? Lembremos que Calegari é volante, pode compor o meio com o Martinelli e não precisaremos aturar Hudson. Quando voltar a ser relacionado, Guilherme, lateral esquerdo, tem que ganhar chances também quando Danilo Barcelos cansar. Mesmo nessa excelente vitória contra o Athletico-PR, que voltou a ser nosso freguês, tivemos falha coletiva de Hudson e Egídio. Não podemos depender desses caras como primeira ou segunda opção para suas respectivas posições. Wellington Silva nada faz, não acrescenta ao time, e vem sendo mantido titular. Michel Araújo arrebentou no sábado, será que ele viu isso? Será que vai manter o Marcos Paulo na armação, onde ele tem rendido? São muitas dúvidas, muitos questionamentos.

E isso tudo porque Odair, apesar dos 39 pontos em 24 jogos, não passa confiança. A gente nunca sabe se vai ver o Fluminense que atuou de forma patética contra o Flamengo, ou se verá um time com postura de gigante que amassou o Athletico-PR. Não temos ideia se veremos o time modorrento que empatou com o Bragantino, ou se testemunharemos uma valente equipe que arrancou um ponto do então líder Atlético-MG em seus domínios (e que poderia ter vencido). E esse fato, por si só, me faz ter toda a liberdade do mundo para criticar Odair e quem o mantém imune a críticas, seja a parte da torcida que o venera como se fosse um fã-clube, seja a parte da gestão que passa a mão em sua cabeça e não lhe cobra nada. Pelo salário que ele ganha, R$ 250.000, ¼ de milhão de reais, tem que ser cobrado é muito. Aproveitem enquanto não há público, pois duvido que haveria uma divisão tão grande na torcida se a vaia viesse da arquibancada. Nas redes sociais, ela fica diluída. Sigo torcendo para que o Flu de Odair dê certo e ganhe os jogos, mas sem me acometer pela catarse coletiva. Sigo sóbrio e justo.

Curtas:

– Acreditar no título é um exercício de cidadania tricolor. Vou sempre acreditar até a hora que não der mais. Mas sem discurso de acomodação ou de aceitar vaga na Libertadores como prêmio de consolação. Como meu irmão bem disse no Resenha Raiz, o Fluminense tem que brigar sempre por títulos, e o campeão também disputa a Libertadores. Se não brigar, está errado. Ponto.

– #forafelippemulamboso

– Esperamos que a renovação de Marcos Paulo seja realizada a contento e por bastante tempo, principalmente se a transação envolvendo Kaká, cedido ao Grêmio a custo zero embora tivesse uma multa na casa dos nove dígitos, tiver sido um fator decisivo para que o negócio fosse fechado. Mesmo que os representantes de ambos os jogadores sejam essencialmente os mesmos, não dá pra saber ainda se terá alguma influência, mas acredito que em breve a situação se resolverá. No aguardo.

– Marcos Felipe, contra o Bragantino, Martinelli, contra o Athletico e Calegari, contra ambos, jogaram muita bola. Esses três não podem voltar pro banco em condições normais de temperatura e pressão de jeito nenhum. Anseio pelas voltas de Danilo Barcelos, Fred (no banco) e Lucca, pelo menos, para ficarmos com o time mais equilibrado.

– É difícil fazer projeções quando temos tantos times com jogos em atraso, mas os compromissos contra Vasco e Atlético-GO são aqueles em que precisamos muito dos seis pontos. Apesar de ser clássico, o Vasco é muito fraco. Até o empate pode ser considerado tropeço. Bater os goianos é quase uma questão de honra, mas também de planejamento de tabela, pois na sequência virá o atual líder, São Paulo. Seis pontos nos credenciariam a um embate valendo, quem sabe, a liderança. Na próxima coluna posto meu papite pra esses dois jogos. Abraço.

20 Comments

  1. Boa Tarde Aloisio!
    Quanto as colocações feitas em relação ao Odair concordo plenamente, agora me permita discordar com relação ao Danilo Barcelos, ele é horroroso, tanto quanto o Egídio, precisamos urgentemente de um lateral esquerdo a altura do Fluminense, o Hudson faz parte dessa subida de produção da equipe após voltar da covid, quanto ao Felipe Cardoso é unanimidade a sua incapacidade, Marcos Paulo será que deu lampejos só por causa da renovação? Não acredito em contratos longos (vide…

    1. Fala, José. Danilo Barcelos é fraco, mas não tem comprometido. Claro que teria sido melhor já termos uma das opções da base com a titularidade, mas acho difícil no momento ele bancar pra um dos garotos. Há tempos eu falava do Marcos Pedro, mas… tudo é complicado no Fluminense. Sobre Marcos Paulo, espero que não tenha sido só um lampejo. Aguardemos a sequência. ST.

  2. Perfeita a sua análise. Todos os pontos atuais do momento foram abordados. Eu só incluiria um comentário seu futuramente, sobre a entrevista do Odair após o jogo. Ele disse que maioria do torcedores sempre o apoiaram e que não concorda com certas opiniões de torcedores do Twitter que “vivem em um outro mundo e que ficam perturbando”. Ora, Se o Odair não gosta de receber criticas e questionamentos de uma grande parte da torcida, então que vá ser treinador do Avaí.

    1. Pois é, Paulo. Só vi a coletiva depois de escrever a coluna rs. Perfeito seu adendo.

    1. Novamente, convido-o a fazer uma leitura das minhas colunas do início do ano. Fui um dos entusiastas da vinda do Odair, mas não vou fechar os olhos aos erros dele.

  3. Boa tarde.
    Parabéns pela coluna e o artigo de hoje em particular.

    Ao contrário do que alegaram acima, o “‘bom futebol” não é opcional.
    É obrigatório para o Fluzão, pioneiro carioca, berço da Seleção Penta.

    Se o plantel é de baixo nível, não justifica a escalação dos piores que há nele.
    Aliás, a presença de um “mulamboso” é acinte, é escárnio contra o Tricolor e sua Torcida.

    Torço para o penta do Flu e torço para #foraOdair #foraAngioni #acordaMário

    ST****

  4. A dispensa de W. Silva, Caio Cardoso, Felipe Paulista, Igor Julião, Egidio e mais algum poderá servir pra renovar com Marcos Paulo…

    1. Gostaria muito que fosse fácil dispensar todos eles. Infelizmente decidiram renovar com Caio Paulista e Felippe Mulamboso até o final de fevereiro. Vamos ver que bicho vai dar.

  5. O que me alegra como torcedor são as vitórias. Bom futebol é opcional. E estamos ganhando com um elenco laboriosamente mal montado, com Hudson, Nenê, Egídio, Fred, Felipe Cardoso….

    1. Torcer por vitórias jogando mal é excruciantemente mais difícil que torcer por vitórias com o time parecendo que vai vencer. Cansei de me pegar torcendo pelo “gol cagado”. Todos os supracitados foram trazidos pela gestão atual, com a anuência de Odair, com a exceção de Nenê (que é o artilheiro do time).

  6. Odair está em longe de ser brilhante.. É um treinador em afirmação. Tb gostaria de ver um futebol melhor. Mas como exigir isso desse elenco tão mal montado?
    Pra mim, basta que esteja pontuando. Temos a chance real de ir à Libertadores. Odair deveria receber o afago e apoio e não a crítica constante e perseguições.

    1. Odair jamais será brilhante enquanto não entender que a torcida é soberana. Não precisa “jogar bonito” não, basta jogar com postura de TIME GRANDE, como foi essa contra o Athletico. Quantos empates como esse contra o Bragantino, jogando em casa de forma covarde, teremos que aturar até o fim do campeonato? Apoio não pode ser incondicional, tem que ser merecido. Não quer ser criticado, que vá dirigir o Bangu.

  7. Odair está em quarto lugar.
    Diniz nos deixou na ZR. Nunca vi esse jogo belo que se fala dele. Só um tico tico no fubá chatisismo e vulnerável. Um arrogante que só agora abriu mão de suas convicções com medo da degola. E que até um mês atrás era questionadissimo.
    Acho ABSURDA essa perseguição a Odair.

    1. Diniz nos deixou no ZR ou toda a sequência de eventos o fez? Memória seletiva não rola. Se quiser entender minha opinião, sugiro que leia minhas colunas desde o ano passado. Fui um dos defensores da vinda do Odair, então sinto-me muito à vontade para criticá-lo. Absurdo, com todo o respeito, é aceitar ser súdito de Odair, Mário e Angioni. Basta ele parar de fazer merda todo jogo e de falar besteira em coletiva que eu paro de criticá-lo. ST.

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