La Mano de Dios, o VAR e esse estranho Fluminense (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, o que tenho a dizer sobre Maradona é que foi o maior jogador que vi jogar.

Um atleta de imenso talento, capaz de encontrar soluções incríveis para os maiores problemas das quatro linhas, decisivo, goleador e comprometido.

É claro que quando eu falo que foi maior jogador que vi jogar eu não estou incluindo Pelé, de quem eu só vi alguns lances, e de quem nunca duvidei ter sido o maior de todos os tempos.

A perda de Maradona é um processo histórico que hoje chega a mais uma página. Sim, só mais uma página, porque enquanto durar a humanidade ele será lembrado e seus feitos, como é comum entre nós, serão reescritos.

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Se, no entanto, tem um lance que eu não atribuo à sua inquestionável genialidade, é aquele que ficou conhecido como “La Mano de Dios”, que não teve nada de divino.

Teve, sim, mistura de malandragem com a incrível incapacidade do trio de arbitragem de perceber o que todos perceberam, qual seja, que o craque usou o braço para desviar a bola do goleiro e mandar a Inglaterra entrar de novo na fila.

E essa é uma ocasião legal para a gente refletir sobre como teria sido o desfecho daquele episódio caso houvesse VAR naquela época. Não é preciso muito exercício de raciocínio para concluir que o gol teria sido devidamente anulado, definindo o que era justo, já que a melhor conduta sempre é que as regras sejam cumpridas.

O combinado não sai caro.

Então eu me reporto à partida de ontem entre Ceará e São Paulo, que estava empatada em 1 a 1 quando ocorreu o inacreditável lance que reporto a seguir.

O atleta do São Paulo, de frente para o gol do Ceará, engatilha o arremate, que sai certeiro em direção à meta alvinegra. O jogador do Ceará, cumprindo seu compromisso, se posiciona para bloquear o chute.

Ao mesmo tempo, o atacante Pablo, do São Paulo, se projeta em posição irregular em direção à pequena área. Daniel Alves, se não me engano, desfere o chute com direção do gol, que é bloqueado pelo zagueiro que tinha como propósito único bloqueá-lo.

A bola bate no zagueiro e sobra para Pablo, que chuta a bola, o goleiro defende, a jogada tem sequência e o mesmo Pablo arremata para as redes.

O comentarista de arbitragem da TV imediatamente diz que o lance foi ilegal, pois o zagueiro, que tentou bloquear o arremate de Daniel Alves (me corrijam se foi outro o responsável), desviou a bola passivamente.

Eu confesso que eu já não sei mais o que diz a regra, mas eu entendo que se um atleta tenta interceptar um chute em direção ao gol, é porque ele está em atitude ativa e não passiva, exceto ele estivesse passando por ali inadvertidamente.

Porém, o argumento do comentarista de arbitragem é de que não houve uma ação voluntária do zagueiro alvinegro que justificasse ter o mesmo, ao desviar a bola, colocado em posição legal o atacante do São Paulo, pelo fato do desvio não ter sido voluntário, ainda que tenha sido voluntária a decisão de tentar bloquear o chute.

Vocês conseguem perceber a incoerência do argumento? O jogador evitou que a bola fosse em direção ao gol porque era esse o seu propósito. Como consequência, a bola sobrou para o atacante que estava, antes, em posição de impedimento, que pode ser desfeita quando um jogador adversário voluntariamente desvia a trajetória da bola.

É claro que num surto de esquizofrenia, que não é exatamente uma manifestação de patologia psíquica no torcedor, podemos achar uma grande vantagem no desdobramento desse lance, que é o fato do São Paulo não ter vencido, o que beneficiaria o Fluminense em sua luta pelo título.

A questão toda é que alimentar tais situações é perder a razão no futuro quando formos vítimas da mesma marmota, lembrando que temos sido vítimas preferenciais desse tipo de situação, principalmente no decorrer de 2019.

É claro que tal atitude, embora desprovida de conteúdo ético, pode ser admitida em torcedores de determinados clubes, que raramente se veem vítimas de tais situações. O que não muda o fato de que situações assim não podem acontecer num ambiente competitivo ético e saudável.

O fato, porém, é que o bandeira assinalou impedimento, mas o VAR, cumprindo sua obrigação, decidiu revisá-lo. No meu entendimento, houve falha técnica, e não de interpretação, do auxiliar, razão pela qual revestia-se o VAR de autoridade para sugerir, e não determinar, a mudança da decisão.

Foi o que aconteceu. O árbitro, aquele mesmo do gol de futebol americano do Fla-Flu decisivo de 2017, que praticamente nos tirou o título, apontou o círculo central, validando o gol, ao meu ver legal do São Paulo, e apitando o reinício do jogo.

Nessa parte da história eu não tenho dúvida sobre a regra. Ela diz que, uma vez autorizado o reinício do jogo, não é possível mais voltar atrás de uma decisão técnica. Porém, como se ignorasse a regra, o árbitro atendeu a um novo chamado do VAR, totalmente irregular, para uma nova revisão do lance, que não mais poderia, pela regra, ser revisto.

Temos agora um erro grave, não mais técnico, mas de Direito. Um erro do qual nenhum dos envolvidos se deu conta. Um erro, se eu não perdi nada, tão inédito quanto vulgar, que levará à anulação da partida em meio a uma temporada em que o que menos temos são datas disponíveis.

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Um erro benéfico para nós, esquizofrênicos de carteirinha, mas só enquanto torcedores, que nos favorece na luta pelo pentacampeonato, muito embora, ainda que esquizofrênicos, não somos dados a celebrar trapaças, nem mesmo as que levianamente nos imputam.

O que nos leva à decisão fanfarronesca da nossa Direção de estabelecer premiação progressiva para o elenco por:

  • vaga na pré-Libertadores;
  • vaga direto na fase de grupos da Libertadores, também conhecida como G-4;
  • conquista do título.

Nada contra estabelecer para a equipe premiações por metas alcançadas. Não chega a ser uma ideia inovadora, tampouco extravagante.

O que parece extravagante é que tais metas são estabelecidas por um clube que caminha justamente no sentido contrário, o que faz com que elas não façam o mínimo sentido.

Com um técnico que, em que pesem seus inegáveis atributos, escolhe mal o modelo de jogo, especulando resultado improvável com uma dinâmica oportunizadora (sic) da presença no time titular de atletas que estão longe de serem os melhores recursos humanos que temos.

O que faz de tal iniciativa uma anedota a ser celebrada pelos nossos adversários. Ou, se for o caso, para fazer sucesso em rodas de bar em Portugal.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

4 Comments

  1. Discordo do final do texto. Acho absolutamente coerente traçar metas de premiação, até pra evitar possível corpo mole, mt comum no futebol.
    E graças a Deus não havia VAR em 1986! Sou radicalmente contra qualquer Vitória favorecida por arbitragem. O ganhar roubado é mais gostoso é a ética mulamba , que mt 3xpressa do que é aquele clube. Mas esse caso particularmente transcendeu totalmente o que é o futebol. Ali foi a vingança de um povo humilhado.

    1. Sempre há várias perspectivas em torno de um ponto, né Luiz? rs

      Pela sua perspectiva, eu sou obrigado a reconhecer legitimidade na sua opinião. rs

      ST

  2. La Mano de Dios não existiria se tivesse VAR e me pergunto se isso seria bom. Sinceramente, acho que não. Com tristeza, me tornei contra o VAR, pois mesmo quando correto, é um chato.

    1. A verdade é que só é chato no Brasil.

      Nem vou falar do lance de ontem, mas desses lances de impedimento. Certa vez, eu fiquei meia hora tentando fazer um fotoshop de um lance desses. Você tem que printar o vídeo na hora precisa do passe e depois encontrar o ângulo certo par a traçar a linha.

      A primeira coisa é muito difícil, mas muito mesmo. A segunda é coisa de maluco, porque você gira um pouco a imagem e o que era impedimento deixa de ser.

      Nesse ponto, melhor seria aplica ao VAR a…

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