Na manhã do domingo passado, minha coluna neste PANORAMA alertava para a prudência que nós, tricolores, deveríamos ter em relação ao time, ao clube e à longa jornada que temos à frente antes de qualquer definição de vaga para Libertadores, título etc.
Não veio uma resposta suprema no jogo contra o Grêmio. A derrota não deve ser tratada como terra arrasada, longe disso. Mas algumas reflexões são inevitáveis.
A primeira delas: tempo disponível para treinamento não significa realização em campo. Até o tricolor mais otimista reconheceu a pavorosa atuação do Fluminense no segundo tempo.
Outra: difícil entender que, aos 20 minutos do primeiro tempo, Fred tenha que voltar à intermediária tricolor para buscar jogo e marcar. O resultado disso é uma substituição necessária antes da hora e, sinceramente, com todo respeito e sem perseguição pessoal, é difícil imaginar que Felippe Cardoso possa suprir a saída de Fred em qualquer situação.
Outra, que me sinto à vontade para falar porque defendi a contratação: passados quase dois anos, qual foi a atuação de Paulo Henrique Ganso no Fluminense à altura de seu passado esportivo?
Enfim, poderia falar disso e muito mais, mas prefiro um contexto mais amplo em vez de tomar uma partida qualquer como exemplo de glória ou caos.
Há anos machucada por campanhas ridículas e promessas não cumpridas dos dirigentes, a torcida do Fluminense comumente tem quem se irrite à primeira crítica construtiva, atribuindo-a a questões políticas das Laranjeiras – um argumento anêmico – ou a derrotismo, outra construção frágil quando friamente analisada pelos números do time nos últimos anos. Assim, a cada novo triunfo ou fase boa, por efêmera que seja, imediatamente surgem proprietários da verdade absoluta enxergando ouro em madeira. É como se fosse um avião que semanalmente decola, sobe muito em segundos e cai.
Dou exemplos: na final do Carioca, muitos comemoraram o fato do Fluminense jogar de igual para igual com seu rival, ainda que perdesse mais um título. Qual é o referencial da história do Fluminense: conquistas ou posições honrosas? Pelo que vi e vivi, entendo que se trate do primeiro caso. Então, a derrota na decisão deveria significar a melhora do time e do elenco para novos desafios, em vez do conformismo com evasivas do tipo “O Carioca não vale nada”. Ora, o que não vale nada é ser coadjuvante numa competição que não vale nada.
No campeonato brasileiro mais fraco dos últimos tempos, e é fraco mesmo por outros motivos além da pandemia, o Fluminense começou claudicante mas curiosamente alcançou sua melhor fase depois da ridícula eliminação na Copa do Brasil. Desde então, a sequência de sete resultados sem derrota, ainda que com uma ou outra performance muito abaixo do esperado, foi suficiente para repetir um velho modus operandi: o treinador, de besta, passou a bestial; o time, opaco, passou a brilhante; jogadores sofríveis passaram a ser muito úteis e com obra em progresso.
Coletivamente falando, isso foi o que aconteceu ou o que muitos de nós queriam que acontecesse? É uma reflexão.
O argumento da pontuação é no mínimo relativo: em todas as temporadas temos times limitados no Brasileirão que, por um ou vários motivos, alcançam boas pontuações num determinado período mas não necessariamente se sustentam a longo prazo. Logo, não tínhamos garantia de nada ao começar o returno, exceto para quem confunde otimismo com crendice.
A única coisa certa na era dos pontos corridos é que o campeão precisa ter regularidade e a turma da Libertadores também, mas com eventuais falhas.
E volto a perguntar: disputadas vinte rodadas, de onde se tirou que o Fluminense era um dos favoritos ao título ou pule de dez para o G4? De uma amostra discutível de sete? No mínimo, houve uma clara precipitação nas expectativas, tão precipitada que parece murcha logo à primeira derrota.
Nem lá, nem cá.
O Fluminense não é intruso na parte de cima da tabela, mas também não é pré-classificado para nada.
Entendo que a derrota para o Grêmio foi educativa. Serve para refletirmos bem a respeito de tudo.
Não, não cabe derrotismo pelo mau resultado e péssimo segundo tempo, mas sim um certo choque de realidade sobre o que o Fluminense tem a oferecer nesta temporada. Pior do que o derrotismo é o ufanismo que jamais ficou bem nas três cores de glória, vestindo melhor as paredes da Gávea.
O Fluminense pode se classificar para a Libertadores? Sim, sem sombra de dúvidas, desde que apresente regularidade para tal, mesmo com eventuais falhas. Agora, o que não cabe é a certeza disso com base no primeiro turno que já acabou. Havia 19 jogos à frente, agora são 18 e, da mesma maneira que podemos lutar por isso, outros times também podem, inclusive com elencos melhores do que o nosso.
Embora tenha muitas críticas ao trabalho de Odair Hellmann, a quem admiro pessoalmente, não me alinho ao apedrejamento que ele sofre a cada novo revés, mesmo quando tem culpa no cartório. Simplesmente acho que eventuais insucessos são decorrentes também do time e do elenco que temos. Trata-se de um conjunto. E cá entre nós, comemoro que o time base não tenha sido o dos sonhos da diretoria, porque se Master Flu completo fosse titular, é certo que não ocuparíamos a posição privilegiada de agora.
Repito: a derrota desde domingo foi uma aula. Com ela poderemos aprender e refletir sobre muita coisa. Os mais humildes e lúcidos vão prestar atenção. Quem preferir fazer gaivota no fundo da sala, paciência: só não reclame de possíveis notas vermelhas e de uma eventual recuperação em plenas férias. Não é diminuindo as performances dos adversários que vamos otimizar a nossa.
Reitero: não cabe fazer terra arrasada do derrota para o Grêmio, mas desprezar o que ela mostra a respeito do muito que precisamos melhorar seria um gesto grotesco.
Sigo torcendo. Torcendo muito, mas não a ponto de ser uma dessas marionetes de gestão que, por achismo ou até mesmo benesses, passam seus dias tentando enganar aos outros e a si próprios com o argumento de que tudo é belo e perfeito no clube, no elenco e no time. Com mais de 40 anos de arquibancada, temporariamente atrapalhados pela Covid19, já aprendi há muito tempo que o Fluminense é como um filho para mim, que devo amar incondicionalmente, apoiar, mas sem fazer vista grossa para os seus erros, que hoje não são poucos.
Há quem diga que “seco” o Fluminense por questões da política tricolor. Me permitam um parágrafo para gargalhadas. Continuo.
Bom, não fui eu quem alugou suas opiniões para campanha eleitoral nas Laranjeiras, tendo que subitamente contradizer tudo e fingir que os leitores não perceberam, como se a torcida fosse toda de otários. Não fui eu quem fez acordo com grupo político para ter emprego no clube. Não sou eu quem faz discurso chapa branca diário travestido de opinião isenta. Não sou eu que passa 24 horas por dia no Twitter fazendo panfletagem. Todos os que me prestigiam neste espaço há anos conhecem minhas posições. E não serei eu que venderei gato por lebre quando o assunto é Fluminense.
Para quem tiver dúvidas sobre o meu otimismo, recomendo a leitura de um livro chamado “Do inferno ao céu: a história de um time de guerreiros”, publicado há dez anos pela Editora 7Letras. É só procurar no Google.
Sigo torcendo e muito. Só não contem comigo para oba-oba ou charlatanismo. O Fluminense pode se classificar para a Libertadores e, mesmo que com mínima probabilidade, pode até ser campeão, desde que mostre regularidade em campo e ela seja traduzida em números consistentes. Os resultados obtidos até aqui foram um bom passo e só. Para um time que, nos últimos 60 anos, só ganhou dois campeonatos antecipados, comemorar com 19 rodadas de antecedência tem muito mais a ver com ejaculação precoce do que qualquer outra coisa.
Todos têm o direito de serem felizes, mesmo que de maneira efêmera. Agora, quem compartilha suas análises em público precisa ter responsabilidade com a realidade dos fatos – e disso não abro mão.
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Disse ontem Antonio Gonzalez que estar no PANORAMA é jogar em Wembley.
Muitos são “campeões de audiência”, outros possuem centenas de milhares de likes comprados”.
Contudo, Wembley é para poucos.
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O PANORAMA TRICOLOR se encontra à disposição da direção do clube para qualquer manifestação a respeito do Caso Live Sorte.
Ao contrário de sites chapa branca ou ex-tietes magoados, esta casa pauta pela democracia verdadeira e sem etiqueta de preço. Portanto, do presidente ao prestador de serviço de limpeza, todos os que quiserem falar a respeito do assunto têm as portas abertas aqui.
Faço questão de ser o entrevistador.
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Nove anos sem Ézio. O mais humilde, simpático e querido artilheiro tricolor.
Super-herói só tem um.
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Que seja uma semana de treinos produtivos para uma apresentação empolgante no próximo sábado.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
Caro Andel,
Gosto muito de suas colunas, apesar de nem sempre concordar 100% com elas. Essa sim, concordo com quase tudo, inclusive em ser entusiasta da contratação do Ganso. Acho que é o tipo de jogador que precisa tempo em campo para render. Talvez fosse o caso de colocá-lo no time de aspirantes para jogar um pouco.
Acho também que o jogo de domingo foi um retrato de time preguiçoso, e, na minha humilde opinião, tem muito a ver com jogar uma vez por semana. E me remete ao jogo com a LDU,…