R49 & Unimed (por Paulo-Roberto Andel)

I

Integrando por partes, feito os bons tempos da faculdade.

Ronaldinho viveu entre 2006 e 2011 no mundo completo das farras. Em 2012 também. A diferença é que, neste ano, resolveu fazer o que sabe de melhor, depois da conturbada saída do maiordagávea: jogar bola.

E como jogou.

Sem desmerecer o entristecido e amargurado alvinegro mineiro, Ronaldinho e Bernard são os principais responsáveis pelo time ter conseguido chegar ao terceiro lugar do campeonato.

Assim como já tinha sido ventilado antes da turnê mineira, houve um encontro com Celso Barros, desmentido categoricamente pelos proprietários da informação que… comeram mosca.

Não entro aqui em polêmicas se vem-não-vem, isso sinceramente não me interessa, parece coisa de maricas em busca da audiência máxima – escrevo sempre contra a audiência, por mais paradoxal que pareça.

E também não vou entrar na dicotomia “Não, Ronaldinho! x Vem, Ronaldinho!”.

Parto de uma suposição plausível. Atenção: SUPOSIÇÃO.

Vai que não tem jeito, parte da torcida vai ficar revoltada por quinze minutos e Ronaldinho é o novo reforço do Flu.

R49 vai para a noite? Claro!

O Flu acabou de ser tetracampeão e não tem um time de freiras, muito pelo contrário. Os pegadores estão à solta por toda a cidade e mesmo fora dela.

Outra coisa: tremenda bobagem essa história de que “contaminaria o grupo” – muitos jogadores de todos os times sempre se encontram em churrascos, dancing parties, convescotes e, para ser bem claro e em bom português, surubas com profissionais do sexo. O Rio é uma província, todo mundo se conhece, sai junto e, quando num clássico, jogadores de times rivais se abraçam, muitas vezes o cochicho é algo como “E aí, chegou tranquilo em casa?” ou “Aquela cavala de ontem, hein? Pqp..”. Falso moralismo não cabe: estamos em 2012 e isso é assim desde os anos 60, vide o inesquecível Garrincha.

Muitas vezes, Ronaldinho fez piada com a Gávea por causa de jamais ter recebido salário em dia, o que não aconteceria no governo Unimed. Enquanto recebeu, mesmo vindo da night, foi sempre o primeiro a chegar aos treinos – não se iludam, isso de jogador vir direto da farra acontece no Fluminense tetracampeão brasileiro com sobras e em todos os times das séries A, B, C… J, W.

Deco é craque ao extremo, à enésima potência, mas 2013 é seu último ano de carreira, declarado pelo próprio (infelizmente também). Thiago Neves, que passou a ser o jogador tático mais bem-pago do mundo, pode estar de saída para o exterior. O fato é que, para jogar todas as competições, precisamos de reforços. Todos querem Conca, é só depositar vinte milhões de verdinhas.

Se Ronaldinho não vier, fico tranquilo e satisfeito com o tetracampeão, mas de olho em reforços.

Vindo, é craque e ponto. Basta jogar no Flu o que mostrou em um semestre no Atlético.

Há quem seja contra, muito contra, o que respeito profundamente. Trata-se de um ponto de vista válido, mas nem por isso único.

Nestas horas, lembro de um dos maiores tricolores da história: Francisco Horta, o homem que montou um time lendário, falado há quase quarenta anos, falsamente tido como “pouco vencedor” (nos anos 70 o campeonato carioca era muito mais importante do que qualquer outro e as competições internacionais sequer eram transmitidas). Falo da inesquecível Máquina. Horta, gênio, trouxe craques como Rodrigues Neto (meu vizinho, quem sempre chegava em casa quando eu ia comprar pão para o café), Paulo César Caju (dispensa apresentações), Mário Sérgio (idem), Doval (quá, quá, quá) – para esses quatro, Ronaldinho nunca foi páreo em termos de boemia. Na casa de Álvaro Chaves, já tinham as jovens promessas Pintinho e Edinho. Já no fim, veio Marinho Chagas. Alguém realmente sério acha que esse timaço foi feito por “jogadores bonzinhos que se cuidavam e não caíam na farra”? Literalmente, um bando de loucos, loucos e inesquecíveis para qualquer tricolor que conheça minimamente a história de seu time.

Nos tempos de Horta, o craque estava acima de tudo. Tenho saudade disso.

Em tempo: perto da vida de PC Caju, a de Ronaldinho é a de um frade. A Biblioteca Nacional não deixa mentir. Mas justiça seja feita: PC jogava muito mais.

II

Treze anos não são treze meses ou treze dias. Existe uma história.

Longe de mim, sempre, defender grandes corporações econômicas de qualquer área.

O Fluminense, desde a sua ressurreição em 1999, tem cumprido uma trajetória humana, digna, com erros e acertos. Tropeçamos, levantamos, acertamos. Depois de um longo caminho, os títulos e a reafirmação nos cenários nacional e estrangeiro tornou-se uma realidade.

O Fluminense continua com erros e acertos. Muitos. É algo que faz pensar, refletir.

Como será o futuro? E se um dia a Unimed sair?

Vi o início tíbio do governo Peter com preocupação. Já fiz várias vezes o mea-culpa. Indigno é o homem que não sabe se desculpar. Os resultados aí estão. Imaginem quando tivermos CT e estádio próprio? Peter merece aplausos de minha parte.

Aos poucos, a amada torcida do Fluminense passa a ter poder de decisão dentro do clube, fato histórico e secularmente esperado.

Nossa base voltou a ser valorizada, jogando e participando. Voltamos a pagar dívidas regularmente. A marca Fluminense está valorizada.

Claro que a Unimed já errou. E muito! Alguém lembra de Rissut? Jean Carlo? Evando? Josafá? Ademilson?

Sim, mas também se lembra de nomes como Romário, Fred, Deco, Dodô, Conca, Thiago Neves? Sem contar Edmundo, que fez um 2004 também tíbio, mas com toda a garra do mundo. Alguns dos melhores jogadores e treinadores do futebol brasileiro dos últimos dez anos, reconhecidos internacionalmente, passaram pelo Fluminense.

Tão injusto quanto deixar de apontar os erros passados da patrocinadora é não ver os acertos do presente diário nas Laranjeiras. Passamos a contratar pontualmente e com qualidade na maioria das vezes. Sim, claro, a patrocinadora quer marketing, o que é muito justo: natural que surja no caminho uma estrela intergaláctica.

Sou um democrata (infelizmente, às vezes) e acho que todas as correntes de pensamento devem ser analisadas, respeitadas etc.

Hoje, Fluminense e Unimed ganham muito dentro da parceria que estabeleceram entre si – mesmo com os vários erros que, claro, existem e merecem reflexão plena.

Agora, sinceramente, os que defendem a saída da patrocinadora desde já – e sempre defenderei o direito de oposição! – precisam mostrar uma solução clara para um custo anual de R$ 84.000.000,00 para o futebol tricolor. Senão vira falácia de bebum.

Por que oposição de braços dados com a Unimed é casuísmo.

E oposição sem a Unimed exige um argumento econômico fortíssimo, que nenhum time do futebol brasileiro tem no momento.

O 2013 já encosta no cais. Cartas à mesa.

Por enquanto, vamos sorvendo os prazeres do tetracampeonato. Felizes, é lógico.

 

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

9 Comments

  1. COMENTÁRIO DE OUTRO BLOG…

    Tenho minhas dúvidas, mesmo com contrato bom, é arriscado!
    É bom lembrar que no início, todos os urubus corriam e o Ronaldinho aparecia. Ouvi de um torcedor urubu: “o problema começou quando os demais também resolveram aproveitar as baladas, mais que os treinos”.
    Em um documentário sobre o Barcelona, ouvi do diretor de futebol que a dispensa do Ronaldinho foi uma das decisões mais difíceis do clube, mas que o futebol do Messi só apareceu depois que ele saiu. Disse que o Messi acompanhava o Ronaldinho nas baladas e vivia uma sequência de lesões.
    A vinda em si pode ser boa ou um desastre, o que não dá, em hipótese nenhuma, é aceitar condições contratuais perigosas para o Flu, basta o risco de desestruturar o elenco.
    ST.

  2. Caro Andel,

    Mais uma vez um excelente texto, com ótimas argumentações.

    Entretanto, na minha modesta opinião, escolheria o Montillo para aquela posição. Acho mais a cara da Libertadores. Apesar do bom campeonato do R49, continuo achando que seu belo futebol ficou em algum lugar do passado.

    Acho, sinceramente, que nosso grande reforço é a manutenção do Abel como técnico, pois, a cada entrevista sua na TV mais o admiro e vejo como ele foi importante nas nossas conquistas. Ele, apenas, conhece tudo de futebol. E olha que algumas vezes eu mesmo o critiquei!

    ST, Luiz.

  3. Vi esse time(máquina) jogar Paulo-Roberto Andel, tenho medo do comportamento do Gaucho, mas se temos “comando” ele ficará de vara curta. Q venha pq quero zuar mulambo!!!!!

  4. Boa Paulo, texto bem lúcido, ponderado, reflexivo, como um bom texto deve ser. Não devemos temer a vinda de Ronaldinho Gaúcho, o cara arrebentou no semestre e fez uma das melhores partidas do ponto-de- vista individual de todo o campeonato, senão a melhor. Parabéns! STT, Waldir e Waléria Barbosa.

  5. Andel,
    Assim como o Marcio Rocha, eu tb. Felicitações tricolores.

  6. Um dia, quando eu crescer, quero humilhar, digo, escrever igual a esse cara. 😛

  7. CB não gosta de “futurologia”!
    Mas é claro que precisamos estar atentos, pra não sermos atropelados.
    R49 no FLUZÃO, pra mim, já é! Agora é saber se junto com Conca, Deco e TN10! 🙂
    Se não pudermos ter todos, tem gente da base subindo, e Abelão já provou que é bom “mestre-cuca” (sem trocadilho!) na mistura de ingredientes novos com os tradicionais!
    Vamos, FLUZÃO! Em busca da América e do Mundo! SSTT4!!!!

  8. Em uma palavra: PERFEITO!
    Ronaldinho, se vier é claro, causará certa distorção somente nos 15 primeiros minutos.. Joga demais o dentuço! tem vaga fácil nesse time.. acordem tricolores! Rumo ao Marrocos! 😀 ST

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