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Três dias depois do vexame, três dias de reflexão sobre tudo o que tem acontecido. Vamos lá.
Em primeiro lugar, me parece óbvio que o Fluminense não conseguiria realizar uma boa atuação diante do Volta Redonda, por motivos óbvios: não houve tempo de preparação e recondicionamento com a volta abrupta do Carioca, provocada por interesses particulares do Flamengo e de seus aliados. Isso, contudo, não eximia o Tricolor de buscar um bom resultado.
Segundo: não há dúvidas de que Odair foi um dos grandes responsáveis pela derrota, mas não o único. É certo que sua escalação e substituições extraterrestres interferiram no processo, mas não foi ele que deu tesourada no peito dos outros nem frangou clamorosamente, e isso não quer dizer o apedrejamento de Egídio e Muriel, mas uma simples constatação.
Terceiro: salvo raríssimos momentos, o Fluminense foi um desastre de ponta a ponta, incluindo Ganso – que foi merecidamente massacrado pela torcida impaciente com um ano e meio de meia-boca – o resto do time e também Fred – que acabou de voltar, andou mil quilômetros de bicicleta, mas estava há meio ano sem jogar e não viu a cor da bola, sendo poupado.
Então, para mim, o péssimo resultado de domingo passado – se não me engano, só igualado na diferença de gols pelos outros 3 a 0 que o Voltaço havia aplicado no Fluminense de 1982 – não tem um vilão individual, mas coletivo. E por isso precisa de providências.
Quem acompanhou esta coluna em suas edições neste ano sabe da rejeição aqui registrada a um time com base de veteranos. Preconceito? Má vontade? Pinimba? Não. É apenas desconhecer que algum time no futebol brasileiro tenha tido uma jornada de sucesso com seis ou sete jogadores acima dos trinta e tantos anos de idade. Por exemplo, ninguém despreza o fato de Romário ter sido um dos maiores jogadores do futebol mundial, mas isso não o livrou de furar bolas e até cair sentado quando esticou sua carreira até os 40 anos de idade. Continuando: a montagem do time do Fluminense desprezou este aspecto esportivo. Resta saber como será daqui para a frente pelo resto da temporada.
Ainda sobre Fred: mesmo há oito ou dez anos, seu enorme talento dependia de assistentes bem mais jovens e velozes para servi-lo. Tudo indica que esta tarefa será desempenhada por Evanílson e Marcos Paulo, mas vai precisar de ajustes para funcionar, além de uma conjugação com o meio de campo e sua combatividade. Não há dúvidas da enorme capacidade de finalização que possui, além de sua luta para ser o segundo maior artilheiro da história tricolor. Agora, se precisava de municiamento em 2009 e 2012, precisará ainda mais neste 2020.
Voltando a Muriel: depois do frangaço, fez uma defesa estupenda com a bola batendo na trave. É um bom goleiro. Não é ótimo, não é de outro mundo, não é Castilho nem Paulo Victor nem Batatais. É Muriel. Quando chegou, o Fluminense vivia uma desgraça com Rodolfo e Agenor. Entrou e caiu no gosto da torcida, depois se machucou. Desde a volta tem oscilado. Tem que ser barrado? Não. Vai falhar de novo? Sim. No momento de sua contratação, fiz várias ressalvas aqui e muitos vociferaram, como tem sido normal em parte da torcida tricolor, ultimamente dedicada a criar super heróis que não existem e monstros idem conforme o sabor do vento ou da temperatura. Muriel é um goleiro comum, bom e só. Basta ver sua trajetória. Isso não quer dizer que não possa cumprir seu papel com honra, ressalte-se.
Ou Odair muda seu jeito de trabalhar, escalar e substituir, ou não emplaca o Brasileiro.
Ou o Fluminense reveza todos os seus veteranos com inteligência e controlando os egos, algo sempre complicado, ou irá para a sua sexta temporada em oito anos na luta contra o rebaixamento, o que a torcida não aguenta mais.
Os três meses sem futebol na pandemia permitiram viver muitos flashbacks, sonhos, esperanças e desejos. O fim do jejum traz de volta a realidade e ela precisa ser encarada. Não há um desastre, uma tragédia, nada disso, mas a prudência exige ação para o resto do ano, sem desprezar a chance de título no Carioca.
Nunca é demais lembrar: caso nada mude, o Fluminense caminha para oito anos sem conquistas relevantes. O tempo diminuiu a importância da Primeira Liga de 2006. Não é tão diferente da era 1986-1994, abominada por certa parcela da politicagem tricolor.
Bom, agora é vencer o Macaé com autoridade na quinta e partir com fúria para as semifinais. Não somente pela vitória em si, mas para apagar a péssima impressão do domingo passado, mesmo sabendo das limitações que afetaram a performance tricolor.
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Se dentro do campo há muita coisa a ser feita, fora dele a direção do Fluminense marcou um gol de placa em sua luta contra a volta do futebol neste momento. Não é a primeira, nem a segunda nem a trigésima vez, mas a mais nova de um clube a caminho de seus 120 anos.
É o mesmo Fluminense que deu porrada no racismo quando apoiou e ajudou a consagrar internacionalmente o nome de Pixinguinha, há um século. E o mesmo que bancou um avião na luta contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. E o mesmo que orgulhosamente hoje, na campanha do time de todos, se posiciona contra a vergonha chamada homofobia. Vergonha hipócrita por sinal, já que o futebol tem enorme participação da comunidade LGBTQI+ em todos os seus segmentos: arquibancada, campo, bastidores, sócios, dirigentes, imprensa.
Portanto, os que se incomodam com as manifestações do presidente e do clube precisam estudar melhor a história do Fluminense, se não quiserem viver o papel de tricolores de orelhada. As acusações de “esquerdismo” atribuídas ao Fluminense beiram à inanição intelectual.
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Justiça seja feita: o presidente do Fluminense, que recebe oposição respeitosa nesta coluna, também recebe aqui mais elogios, quando justos, e opiniões sinceras do que nas manifestações de seus ex-quase-puxa-sacos de redes sociais, incluindo patéticos editores de sites de fofocas e seus satélites.
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