O preguiçoso e o moribundo (por Marcelo Savioli)

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Amigos, amigas, eu confesso que até agora não tive estômago para abrir o balanço de 2019 do Fluminense. Aliás, confesso até uma certa preguiça, que gostaria que compreendessem.

Tentar analisar as finanças do Fluminense tem sido um exercício de quase uma década. Avisar que estávamos no caminho errado foi quase uma redundância sistemática.

É quase desalentador saber que checar tal demonstrativo financeiro me levaria à pior das conclusões, qual seja a de que continua tudo como antes.

A última reviravolta financeira que o Fluminense fez, no final de 2017, foi aquele cavalo de pau das demissões por WhatsApp. É claro que, por conveniência, muitos só enxergaram o lado obscuro da manobra, mas quem analisa o Fluminense com honestidade sabe que foi o que nos salvou de morrermos afogados já no início de 2018, sem qualquer capacidade de pagar despesas e perdendo todo o elenco na Justiça.

O que houve ali foi um ajuste entre despesas e receitas, mesmo assim contando que essas receitas viessem anabolizadas pelas transferências de atletas, que é, no final das contas, o que nos mantém vivos e para o que fomos programados.

Então, quando falamos de receitas, não estamos falando só de receitas operacionais, mas também dessas receitas extraordinárias, o que significa dizer que no momento em que não tivermos mais jogadores para vender estaremos liquidados.

Infelizmente é esse o Fluminense moribundo a que chegamos, bem retratado em reportagem de hoje do Globoesporte.com, que acabou por me poupar o trabalho de ler o balanço, já que foi muito bem feita, com riqueza nas análises.

Muda um número aqui, outro ali, mas a situação não mudou em nada. Temos uma dívida de curto prazo (vencendo em 2020) que é praticamente igual ao nosso faturamento. Se pagássemos toda essa dívida de curto prazo, que dinheiro sobraria para pagar as parcelas das dívidas fiscais e trabalhistas, o salário de atletas e funcionários e as demais despesas?

Como o analista do Globoesporte.com utilizou algumas figuras que eu costumo usar para tentar ilustrar a situação, vou recorrer a uma delas.

Imagine que você tem uma dívida de R$ 5 mil com o cheque especial e você recebe mensalmente os mesmos R$ 5 mil. Imagine que sua despesa mensal é de R$ 4 mil, incluindo o pagamento da prestação do automóvel, que é uma dívida parcelada, correto?

Isso significa que você recebe R$ 5 mil para pagar R$ 9 mil. Fica faltando R$ 4 mil nessa conta. Então, ou você empurra a dívida com a barriga, agregando mais multas e juros, ou deixa de pagar as despesas. Só que você não pode ficar sem luz, telefone e o colégio das crianças. Então você empurra a dívida com a barriga e ela vai crescendo.

Você acha que essa é a situação do Fluminense? É praticamente isso mesmo. Fica então um desafio para os amigos e as amigas: qual é a solução para isso?

(   ) contratar o Fred para ganhar R$ 400 mil por mês, com gatilhos que podem elevar muito esses ganhos;

(   ) continuar jogando todos os jogos no Maracanã, com um Match Day médio altamente deficitário;

(   ) boicotar o projeto de revitalização das Laranjeiras, que poderia transformar o Match Day em superavitário e ainda ampliar o mix de receitas do clube;

(   ) adotar como estratégia de gestão da dívida enxugar gelo, renegociando infinitamente caso a caso, sem conseguir reduzir a dívida ou dar vigor ao fluxo de caixa.

(   ) todas as opções acima estão corretas.

Não sei quanto a você, mas para o nosso presidente a opção correta é a última.

Em outras palavras, o nosso amado Fluminense é um amado moribundo estendido numa cama de hospital esperando pela cloroquina milagrosa. Ou pela morte, que será o caminho óbvio no dia em que acabarmos rebaixados como ameaçamos fazer tantas vezes nos últimos anos. Até porque agora as receitas na Série B evaporam.

O Fluminense está sendo mantido vivo por aparelhos, quais sejam: receitas da Globo e receitas de transferências de atletas. Se um desses aparelhos falhar, um abraço. Se eles não falharem, ficaremos deitados no leito do hospital até morrermos de tédio, desgosto ou velhice olhando a banda dos café com leite passar.

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Eu até escrevi na última coluna que o Fluminense deveria considerar a possibilidade de fazer um esforço para voltar a jogar, ajudando o futebol a cumprir seu papel social em meio ao cenário caótico que estamos vivendo.

Não obstante, salientei que essa possibilidade precisaria estar respaldada pelo mínimo que fosse de evidências científicas a comprovar que o risco seja aceitável.

Só que nós estamos no olho do furacão, com milhares de mortes diárias pelo Brasil. Nós temos dezenas de profissionais envolvidos num evento esportivo, que possuem casa, famílias. Embora eu não seja radical, não consigo enxergar lógica nesse recomeço do Flamengão, que, inclusive, já se tornou uma competição desnecessária.

Por outro lado, a bagunça está generalizada e nós sequer temos diretrizes de saúde para orientar decisões. Infelizmente, vivemos num Brasil desgovernado, pagando caro, como já era previsto, o preço por sua inconsequência.

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Sempre importante ressaltar o trabalho do nosso Marketing nas semanas recentes.

Eu espero que tanta demonstração de força do Marketing Tático signifique que tenhamos um Marketing Estratégico de alto nível por trás, que envolva pesquisa, posicionamento e estudo de projetos capazes de gerar novas e robustas receitas para o clube.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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