A nova coleção de camisas do Fluminense Football Club foi lançada na última quarta-feira. Nas noites de meio de semana em que certamente estaríamos nas arquibancadas do Mário Filho, o momento atual pediu que cada um fizesse, de sua casa, as rampas do Maracanã, e da palma de suas mãos, o gramado.
Juntar Fluminense e pioneirismo em uma única frase trata-se de um pleonasmo, e mais uma vez fomos perfeitamente redundantes: fizemos a primeira live para lançamento de uniformes na história do futebol profissional.
Qualquer ação de marketing em Álvaro Chaves dividirá opiniões e que bom que não pensamos todos igualmente. O mundo seria estranho fôssemos rodados em uma máquina de fotocópia. A lamentação de minha parte é que, infelizmente, agravados ou não pela pandemia, a livre expressão carreia consigo quão lamentáveis são os prismas pelos quais muitos tricolores observam o mundo e a sociedade.
Xamã não é uma unanimidade. Não é, sequer, do nicho que escuto. Mas é de uma profundidade imensa no seu nicho, mais jovem, apreciador do rap e até do funk, e da periferia, onde possuímos sim tricolores. Xamã, aliás, é um exemplo de resistência: nascido na década mais difícil da história do Fluminense, teria tudo para no alto dos anos 1990, com a consagração de muitos rivais, ter cedido as pressões e vestir outras cores, em uma comunidade periférica, na qual a penetração de Flamengo e Vasco são muito maiores – com os devidos empurrões da mídia.
Mas ele bancou. E o fez mesmo sem tantas vezes poder vestir fisicamente nossa camisa, já que declaradamente sequer tinha dinheiro para adquirir uma na infância. Hoje, não só as veste, como lança nosso uniforme para toda a torcida, que atinge e sempre atingirá todas as classes sociais e rincões do País.
A alcunha da nobreza e da elitização é digna de ser repensada, em seus significados mais superficiais. Inevitável, aliás, neste momento lembrar da linda crônica de Pedro Bial, em 2010, após o tricampeonato brasileiro. “O que faz do Fluminense diferente é sua torcida. Rica de caráter, charmosa e repleta de favelados e desdentados. Ao envergar o uniforme tricolor, tornamo-nos todos aristocratas, na segunda e melhor acepção do termo: aquele que possui atitudes nobres”
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Todos os itens de nossa coleção têm seu charme. Alguns lindos, como a tricolor – mais um pleonasmo – a branca, e a camisa verde de goleiro. Camisas de treinamento são territórios de inovação e assim tiveram, com o degradé, que particularmente não me agrada tanto, mas encheu os olhos de muitos. A camisa branca de goleiro poderia ser um belo acerto – como foi aquela pouco usada de 2011/2012 – mas seu ar a lá Jorge Campos, Beto Barbosa e principalmente, com o escudo sobre um tom quase igual de cores, deixando-o em menos evidência, farão desta peça um item de colecionador.
Faço duas críticas construtivas ao lançamento: poderíamos ter um pouco mais de produtos oficiais e licenciados no fundo da live. Também senti falta das camisas polo de viagem: são itens de grande saída, e turbinariam ainda mais as vendas, mas imagino ser estratégica a liberação para a venda apenas mais tarde.
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Ao ver a camisa verde escuro de goleiro, veio-me uma sensação de que Castilho a usaria, vivo estivesse. Lembrei-me também de um texto marcante escrito pelo colunista Paulo Cezar Filho, no blog Jornalheiros, em 2009. Nele, discutia-se quão chamativa era a camisa reserva de goleiro em 2009, usada por Fernando Henrique e Berna em alguns jogos: o tom, muito diferente do escuro dos gramados, permitia ao atacante uma visão periférica precisa de onde o goleiro estava posicionado. No texto, PC citou duas passagens de goleiros marcantes. Castilho assim disse, na década de 1950: “Utilizo o uniforme desta cor [azul], porque isso tira o ponto de referência dos atacantes adversários, já que as cadeiras inferiores do estádio [Maracanã] também são azuis. Assim, fico invisível para os atacantes”. Yashin também nos disse algo semelhante, em época próxima: “Meu uniforme é preto e há um motivo para isso: tornar mais difícil que os oponentes enxerguem a minha posição sob os arcos”.
Estou certo de que a camisa verde pegará no gosto popular e no de Muriel e Marcos Felipe. Camuflados no gramado, que tornem nossa meta menos vazada, quando o futebol retornar.
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Corações ao alto: a vinda de Fred para o Fluminense é praticamente certa. Torço para que o negócio se concretize. Fred não é santo. Tem erros na sua chegada no Fluminense, na sua passagem, mas tem pouco na sua saída. Ter o Fred de volta é a reparação de um erro histórico, meticulosamente calculado por gestores da época, que tornaram o ambiente insustentável para um dos maiores artilheiros da história do clube.
O ponto crucial de discussão é outro, a meu ver: ventilada a possibilidade de um contrato até 2022, tenho um pé atrás. Fred aos 40 anos pode, aí sim, não nos dar o retorno técnico adequado. Teria mais cautela, com um contrato até o fim de 2021, até mesmo porque sou contra o retorno do futebol tão cedo em 2020.
O Fluminense hoje precisa de Fred. E Fred também precisa do Fluminense. Tenho dificuldades em pensar em um camisa nove tão letal quanto Fred neste momento, assim como não vejo em nenhum outro clube um ambiente tão favorável a ele e seu modo de agir – nas virtudes e nos possíveis erros.
Acima, um ato falho digno de nota: digitara 2012, depois corrigi para 2021. Vivemos de reminiscências, de atos falhos reveladores do nosso inconsciente. Não penso no Fred de 2012 voltando oito anos depois, mas prefiro acreditar que o erro de digitação é um bom presságio.
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Mais cedo, o Fluminense posicionou-se contra o retorno de atividades do futebol profissional neste momento. Novamente, é bom percebermos que estamos do lado certo da história. O Cristo Redentor não dá as costas para a Gávea à toa.
Saudações tricolores.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
#credibilidade
…”O Cristo Redentor não dá as costas para a Gávea à toa.” Eric, não estava animado para postar algo…Porém, esta sua frase final, foi SURREAL, camarada. Vou te parafrasear em todos os momentos que ela couber…Parabéns