Tricolores de sangue grená, há tempos não encontro motivação para escrever, muito por conta dos efeitos que o isolamento tem causado em mim. Não estou lidando muito bem com isso, apesar da evidente necessidade em face da pandemia que enfrentamos. Quebra de rotina, noites sem dormir – como esta, na qual escrevo, já de manhã – e o stress causado pela impotência diante do quadro que enfrentamos estão cobrando uma conta alta para mim. Mas, em virtude da notícia propagada no dia de ontem, a respeito de que o Fluminense estaria mirando não apenas em Fred, mas também em Mariano e Thiago Silva, para o restante do ano, me deu motivação para falar sobre esta possibilidade. Em primeiro lugar, ressalto que pode ser apenas uma cavada ou, sendo verídica a tentativa, poderá se configurar infrutífera no futuro. Nada disso seria estranho à nossa realidade, visto que estamos relegados, atualmente, a um “segundo escalão” de forças no futebol brasileiro. Mas, e se rolar?
Fred já é quase uma certeza, ainda que todas as partes neguem um acerto. Virou figurinha carimbada em lives, pedindo voto em gol mais bonito em troca de voltar ao Fluminense, mandando recado pro presidente do Flu, entre outras maneiras de manipular a torcida a querer o retorno de um ídolo. Ele sabe fazer isso bem, sempre soube. Fred manteve sua idolatria praticamente intacta, mesmo depois de sua saída, ao contrário de outros (como Conca), que, se não a perderam, a diminuíram consideravelmente. Esportivamente, está em seu canto do cisne. Embora possamos até esperar que, mantendo a forma, consiga render bem – vide Nenê – é impossível pensar em sua titularidade absoluta em todos os jogos que restarão no ano, seja lá quando eles forem disputados. Porém, em termos de imagem, o clube tem muito a ganhar com Fred. Ter de volta seu garoto-propaganda fora das quatro linhas e capitão dentro delas tem muito peso. Só com ele, os programas de sócio torcedor já seriam alavancados, mas podem pintar outros dois na equação.
Mariano talvez seja o menos provável dos três, embora esteja nas mesmas condições: viria sem custos, pois seu contrato se encerra. Jogou bastante tempo na Europa, embora em centros menores, mas sempre foi titular. Logo, foi regular durante o tempo que atuou e a seu favor há um histórico livre de lesões graves. Todavia, é o que menos possui ligação com o Fluminense, apesar do título que conquistou em Laranjeiras. Disse ter carinho pelo Flu, mas não nos deu prioridade. Já há quem diga que ele é aguardado no Atlético-MG, o mesmo clube de onde foi escorraçado. É um caso a se aguardar. Com a bola no pé, certamente é melhor que o Gilberto. Teríamos um ótimo titular e um bom reserva para a posição, alguém com experiência e que impõe respeito naquele setor do campo, e que conta com a simpatia da torcida, que já pediu o retorno dele algumas vezes. Em termos de imagem, pode ser um ponto positivo, alguém que virá para somar, mas não o vejo como a mola propulsora de um programa de sócio. Se vier só ele, por exemplo, acredito que a adesão será menor. Mas não deve ser esse o caso.
Thiago Silva é um caso bastante divergente. Seu alto e portentoso salário, na casa de milhões de reais, e com interesse do Milan em sua contratação, muito provavelmente o afastariam do Fluminense, correto? A menos que as informações sobre o interesse dele sejam verdadeiras e ele aceite reduzir seu salário para menos de R$ 1 milhão. Se ainda é alto para os padrões do Fluminense, a redução para Thiago seria absurda. Seria algo muito mais relevante que a redução do salário de Fred, por exemplo. Seria algo histórico. Thiago Silva nunca foi esquecido pela torcida, mesmo estando há doze anos afastado do Fluminense. Sempre vestiu o manto de torcedor tricolor, ainda que à distância. Manteve acesa uma chama de esperança do torcedor comum ao reiteradamente dizer que gostaria de encerrar a carreira no Flu. Além de tudo, Thiago ainda é jogador de seleção. É um dos melhores zagueiros do mundo e há uma grande possibilidade de que ainda dispute mais uma Copa. Seria, no momento atual, uma das maiores contratações de nossa história, se de fato ele vier.
A engenharia financeira para trazer os três não é simples. Se mal temos de onde tirar dinheiro para honrar salários na situação em que estamos, como traríamos três jogadores que, com salários combinados, beirariam um acréscimo possível de R$ 2 milhões à folha salarial? Certamente, para se fazer a tentativa, deve haver um plano. Patrocinadores que arquem com parte ou o todo dos salários de um ou mais deles, salários parcialmente vinculados aos ganhos com os planos de sócio, esperando uma associação maciça da torcida tricolor ao trazê-los são algumas das possibilidades. Por enquanto, é impossível ter certeza de qualquer coisa, exceto que, caso realmente venham, mantendo o que já temos de bom, o Fluminense muda de nível. Muriel, Mariano, Thiago Silva, Nino e Egídio, Hudson, Yago (Ganso) e Nenê (Marcos Paulo), Marcos Paulo (Wellington Silva), Fernando Pacheco e Evanílson (Fred) não é um time a ser desprezado. Podemos sonhar? Sempre podemos. Nestes tempos sombrios, talvez sonhar seja o que nos resta.
Dessa vez não teremos curtas. Cuidem-se, tricolores. Venceremos esse vírus maldito.
Panorama Tricolor
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